Nem Bitcoin, nem CBDC: Quênia já tem ‘moeda digital nacional’ desde 2007 e sem ser controlada pelo Banco Central

Enquanto Brasil ensaia o lançamento do Pix, no Quênia dinheiro digital já é a maior moeda no país desde 2007 e pode ser usado para tudo, de remessas a recebimento de salário

Enquanto especialistas debatem o uso do Bitcoin como forma de pagamento, economias vêm os pagamentos digitais com cartão, NFC, QR Code e outros crescerem a cada dia; Bancos Centrais em todo o mundo estudam como criar uma Moeda Digital, CBDC, para suas economias, no Quênia, nada disso supera a principal moeda digital do país: os créditos para celular.

Sim, no país que é uma das principais economias do continente africano, a moeda digital usada por mais de 50% da população e responsável por 25% do PIB do Quênia são créditos de celular.

Além disso, enquanto cyperpunks ainda apenas sonhavam com um dinheiro descentralizado e não controlado pelo Banco Central, no Quênia já havia, desde 2007 uma moeda digital “nacional” que não era controlado pelo Banco Central, conheça o M-Pesa.

A “moeda digital” queniana é tão forte que pode ser inclusive usada para remessas internacionais para a Europa e já está em funcionamento há pelo menos 13 anos integrando a economia digital uma população de 80% de pessoas desbancarizadas.

M-Pesa

Em suahili, língua da maioria dos quenianos, dinheiro é traduzido como pesa, daí o nome da moeda que deriva de M (mobile) e Pesa (moeda).

Porém não é apenas um “dinheiro digital” o M-Pesa está mudando a vida e sociedade de todo o Quênia que possuia uma baixíssima taxa de pessoas bancarizadas, 19%, porém uma população crescente no uso de aparelhos celulares aliado a uma demanda muito grande de comunicação com os parentes que ficaram no campo.

Foi assim que em 2007 surgiu, desenvolvido pela maior empresa de telecomunicações do Quênia, a Safaricon, o M-Pesa.

Na verdade a “solução” já existia informalmente, com cidadãos trocando produtos e serviços por créditos em aparelhos celulares, o que a Safaricon fez foi institucionalizar a moeda que havia “surgido” nesta economia digital informal.

Assim, se antes o serviço já funcionava como um modelo informal de método de pagamentos, a nova plataforma da Safaricon surgia como um meio até mais seguro (e barato) que os próprios bancos.

“A solução, acabou ganhando ainda mais a adesão da população a partir do ano seguinte, quando eclodiram no país uma série de conflitos após as eleições daquele ano. Mesmo que a economia não tenha sido diretamente afetada pelas crises políticas, houve um clima de instabilidade por conta de protestos e violência. Ilhados em Nairóbi, os que ainda não haviam aderido o serviço o viam para além da comodidade, mas como uma necessidade: eles poderiam continuar a mandar dinheiro aos parentes, mas com uma dose extra de segurança”, destaca o jornalista Mário Bentes.

DeFi? 

Se, no mundo das criptomoedas, os usuários começam a olhar para o boom das finanças descentralizadas (DeFi) que permitem, entre outros, soluções de remessas, empréstimos e pools de liquidez sem a necessidade dos bancos, no Quênia os serviços do M-Pesa já são uma espécie de DeFi.

Assim, por meio de uma parceria com a européia Vodafone o sistema já é a plataforma de transferência monetária mais importante do país.

Portanto, no Quênia, se alguém precisa enviar dinheiro para a Europa, basta comprar créditos para o seu celular e fazer o envio., na outra ponta, o recebedor só precisa ir até uma das lojas da operadora se quiser sacar o dinheiro em espécie.

Já se o queniano está precisando de “uma graninha” ele pode fazer um empréstimo usando o serviço que também tem juros mais baixos que o dos banco.

Além disso, enquanto no Brasil estamos implementando o Pix para que os pagamentos possam ser ainda mais digitais no Quênia o sistema está tão inserido no cotidiano que ele permite pagamento de contas e até o recebimento do próprio salário.

Sabe os pools de liquidez de DeFi? Então o M-Pesa também permite que os usuários criem uma “poupança” digital de créditos de celular e com isso aumentar suas economias e até emprestar o valor para outros usuários.

Economia digital melhora a vida das pessoas

Um estudo publicado pelo Banco Mundial em 2016 mostrou que na zona rural do país africano teve aumento médio de 5 a 30% na renda dos trabalhadores.

Além disso o M-Pesa ajudou a semear o espírito do empreendedorismo no país: após a facilitação da movimentação financeira, já há uma proliferação de startups de todos os tipos – e muitas delas com modelos de negócios que giram em torno das funcionalidades do dinheiro digital.

Inclusive é possível comprar Bitcoins e criptomoedas com M-Pesa na Paxful uma das maiores exchanges de BTC do mundo.

“Além de todos os serviços existentes, agora você também pode usar o M-Pesa para comprar bitcoins no Paxful. Paxful torna o processo de compra de BTC com M-Pesa muito mais simples. Pague com M-Pesa para ter bitcoin em sua carteira Paxful em menos de uma hora. Você pode comprar de uma das muitas ofertas listadas por fornecedores para vender seu BTC usando M-Pesa ou criar sua própria oferta para vender seu bitcoin no saldo de M-Pesa. Na Paxful, os fornecedores podem definir suas próprias taxas e decidir suas margens”, destaca a empresa.

Um outro estudo feito com apoio da Bill & Melinda Gates Foundation, revelou que o sistema M-Pesa demonstra o valor da tecnologia móvel para estender os serviços financeiros para grandes segmentos da população pobre sem conta bancária.

“Ao contrário de um banco tradicional, que normalmente faz a distinção entre os clientes rentáveis e não rentáveis com base no tamanho provável de seus saldos e capacidade de absorver crédito, o M-Pesa serve qualquer cliente móvel da Safaricom que paga uma conta e isso revela a necessidade de [se criar] plataformas de transação de baixo custo que permita a clientes de baixa renda a atender a uma variedade de necessidades de pagamentos” finaliza o estudo.

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