Dono da Itapemirim é acusado de fraude com criptomoeda que prometia lucros de até 3.500% em um ano

Cryptour prometia valorização de 500% a cada dólar norte-americano investido no token nos primeiros seis meses, e de 3.500% em doze meses após suposta listagem na Binance.

Depois de inadvertidamente ter interrompido as operações da ITA Linhas Aéreas, braço aeroviário da Itapemirim, na sexta-feira, agora o empresário e proprietário da empresa, Sidnei Piva, se vê envolvido em um suposto esquema de fraude envolvendo o Cryptour (CTUR), uma criptomoeda vinculada ao setor de turismo que fora lançada em julho, informou uma reportagem do portal Congresso em Foco neste sábado.

Segundo a reportagem, as empresas Itapemirim, Extrading Exchange & Trading Platform e Future Design Solutions Ltda (FDS) estão sendo acusadas por centenas de investidores de terem bloquado o acesso a R$ 400.000 mil que teriam sido investidos na Cryptour.

A plataforma da Extrading, através da qual era possível realizar operações de compra e venda da moeda, bem como verificar o saldo relativos aos investimentos, está fora do ar, impossibilitando que os recursos sejam acessados e resgatados.

Em contato com a reportagem do Congresso em Foco, Sidnei Piva negou que a Itapemirim seja proprietária da Cryptour e declarou ter sido vítima do golpe assim como os demais investidores. Ele também disse que nem ele nem a empresa têm qualquer tipo de relação comercial com a Extrading Exchange & Trading Platform e a Future Design Solutions Ltda.

Tanto no site oficial do criptoativo quanto no material de divulgação a que o Cointelegraph Brasil teve acesso, Sidney Piva e a Itapemirim são apresentados como parceiros da Cryptour. No entanto, no white paper do Cryptour, o token é apresentado como “uma iniciativa interna de inovação em tecnologia na Itapemirim Airlines.

Os dez vídeos disponíveis no canal oficial da criptomoeda no Youtube têm Sidnei Piva como protagonista. Em um deles, o empresário afirma que em agosto a Itapemirim estaria lançando o “super app” Itabank e uma exchange para negociação do criptoativo. Em seguida, afirma que a Itapemirim passaria a aceitar o CTUR como meio de pagamento para passagens rodoviárias e aéreas.

O empresário Luiz Tavares, identificado como diretor comercial da Extrading nos vídeos da Cryptour no Youtube, em que atua como interlocutor de Piva, contradisse o empresário e garantiu à reportagem que o Grupo Itapemirim é, sim, o dono do negócio e que ele não possui vínculo profissional com a exchange:

“É 85% do Piva e 15% da Future Design Solutions Ltda. Fui colocado assim nos vídeos por sugestão do Furlan [Adilson Furlan, vice-presidente da Itapemirim] para passar credibilidade. Sou um empresário na área de tecnologia com uma empresa em Dubai, a Connect Black.”

O token do turismo

O Cryptour é apresentado como um token de utilidade criado para ser utilizado no mercado global de viagens e turismo, baseado na Binance Smart Chain. De acordo com o material promocional do CTUR, o token teria um estoque máximo de 30 milhões de unidades, que inicialmente seria disponibilizado aos interessados através de um sistema de vendas privadas. 

Durante seis meses, seriam disponibilizados lotes mensais de 1 milhão de Cryptours. No primeiro mês, 1 CTOUR equivaleira a US$ 1,00, no segundo, US$ 2,00, até que no último, 1 CTOUR custaria US$ 6,00.

Com base nesta estratégia de lançamento, teoricamente, os investidores que adquirissem o Cryptour na primeira rodada de vendas teriam um lucro de 500% em seis meses. Encerrada a oferta incial, o material de divulgação informa que o token seria listado publicamente na Binance, algo que não dependeria exclusivamente de um desejo da equipe do projeto.

De qualquer forma, a partir da suposta oferta pública na maior exchange do mundo o material de divulgação projeta que a cotação do CTUR chegaria a US$ 36,00 nos seis meses subsequentes. Ou seja, os criadores do projeto prometiam uma valorização de 3.500% em 12 meses para os investidores da rodada privada inicial.

Além disso, o Cryptour previa também o oferecimento de benefícios através de um programa de afiliados, onde investidores que atraíssem novos adeptos ao projeto poderiam ganhar bônus de até 21% em CTOUR sobre as operações dos seus indicados, constituindo uma espécie de pirâmide financeira.

Token nunca foi distribuído aos investidores

Usando a marca da Itapemirim para conferir credibilidade ao projeto, muitos investidores – possivelmente novatos no ramo de criptomoedas – compraram o Cryptour mediante depósitos na conta da Future Design Solutions (FDS). No entanto, o dinheiro jamais chegou a ser convertido em Cryptours, como se pode ver na página do contrato do token na Binance Smart Chain. 

O BscScan mostra que as 30.000.000 de unidades do CTUR de fato existem, porém estão todas concentradas em um único endereço. A quantia foi movimentada pela última vez há 220 dias atrás, antes que a oferta privada do Cryptour tivesse início, em uma transação única. Ou seja, o saldo de CTUR que os investidores verificavam através da plataforma da Extrading era puramente fictício.

Em setembro deste ano, a FDS foi alvo de uma operação conjunta do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) de Sorocaba e do Ministério Público de São Paulo por crimes de estelionato, organização criminosa e indícios de lavagem de dinheiro.

A investigação resultou na prisão de José de Mello Mas, apontado por Luiz Tavares como sócio de Piva na Crytpour, e no bloqueio de bens da esposa de Mas, Nathaly Mandelli, que responde legalmente pela empresa. 

Justamente em setembro os investidores começaram a enfrentar dificuldades para resgatar os valores investidos no Cryptour.

Investidores ouvidos pela reportagem do Congresso em Foco contam que foram atraídos ao negócio pelas promessas do presidente da Itapemirim e da credibilidade da empresa, conforme declarou um consumidor lesado que preferiu não se identificar:

“Vamos procurar a polícia e prestar queixa contra o dono da Itapemirim e contra os donos das outras empresas. É uma vergonha se aproveitarem da boa fé das pessoas que acreditaram na imagem na Itapemirim para tirar dinheiro da gente. Agora que a gente lê as notícias da empresa quebrando, chego a não acreditar que terei meu dinheiro de volta.”

Embora tenham investido quantias pequenas, entre R$ 250,00 e R$ 1.000,00, eles não conseguiram reaver os recursos ou entrar em contato som o serviço de atendimento ao cliente da Extrading.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, especialista em segurança cibernética alerta que crimes envolvendo criptomoedas estão se tornando cada vez mais sofisticados e comuns tanto no Brasil quanto no exterior e devem crescer ainda mais em 2022.

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