Ignore o preço e abrace a tecnologia: ‘2022 foi um ano muito bom para as criptomoedas e 2023 será melhor’, diz CEO da Hashdex

Clareza regulatória será o principal catalisador para a retomada do crescimento do mercado de criptomoedas, afirmaram os participantes de um webinar promovido pela gestora brasileira de criptoativos Hashdex.

Exatamente um dia depois que a renovação das máximas históricas do Bitcoin (BTC) e do Ethereum (ETH) completou um ano, a segunda maior exchange de criptomoedas global entrou com um pedido de falência de Capítulo 11 nos EUA em mais um triste capítulo de um terrível inverno cripto que atravessou 2022 e possivelmente ainda não tenha chegado ao fim.

O colapso da FTX derrubou o mercado e levou o Bitcoin a registrar mínimas de US$ 15.500, que, muitos esperam, pode ter consolidado o fundo do preço do BTC no atual ciclo de baixa.

Sob o ponto de vista dos participantes do mercado que pautam seus investimentos com base única e exclusivamente nos preços dos ativos, 2022 é um ano para ser esquecido. 

No entanto, para aqueles que se atêm aos fundamentos, observando o “crescimento da adoção“, os “progressos da tecnologia” e os “avanços da regulação em algumas jurisdições”, 2022 foi um “ano muito bom” para a indústria de criptomoedas.

A opinião é de Marcelo Sampaio, CEO da Hashdex, uma das principais gestoras de criptoativos do Brasil. Na última quarta-feira, 7, em uma participação no webinar “Perspectivas de investimento em criptomoedas para 2023: os temas emergentes mais importantes após o ano mais turbulento do setor”, Sampaio disse que há diversos pontos positivos para a indústria a serem destacados em 2022.

A Lightning Network está evoluindo, contribuindo de fato para permitir que o Bitcoin se torne mais escalável. As finanças descentralizadas (DeFi) funcionaram perfeitamente durante as inúmeras crises enfrentadas por entidades centralizadas, credenciando-as a se integrar cada vez mais às finanças tradicionais.

No setor de tokens não fungíveis (NFTs), estúdios de criação de games estão cada vez mais adotando soluções em blockchain. Para 2023, Sampaio aposta que as identidades digitais em NFT devem decolar e também veremos avanços no que tange às redes sociais descentralizadas.

Mesmo as crises enfrentadas desencadeadas pelos colapsos retumbantes do ecossistema Terra (LUNA) e do império da FTX-Alameda Research – que derrubaram diversas empresas do setor, prejudicando milhares de investidores – podem ser vistos com bons olhos, pois eliminaram muitos maus atores do espaço, completou Sampaio em sua declaração inicial.

Ao lado de Michael Venuto, Cofundador e CIO do Tidal Financial Group, e de Sui Chung, CEO da CF Benchmarks, o CEO da Hashdex discutiu mais a fundo as tendências que devem nortear o mercado de criptomoedas no ano que vem à luz dos acontecimentos que abalaram a confiança dos investidores e redobraram as atenções dos reguladores sobre o espaço.

Abaixo, o Cointelegraph Brasil apresenta os principais tópicos discutidos durante a transmissão.

Regulação

No final do ano passado, dizia-se que a regulação da indústria de criptomoedas estaria na ordem do dia em 2022. No entanto, as circunstâncias macroeconômicas e geopolíticas globais, associadas ao declínio do mercado, moveram o foco de políticos e autoridades monetárias para questões mais urgentes.

O colapso do ecossistema Terra (LUNA) e a onda de falências que veio logo a seguir reacendeu os debates, mas pouco efetivamente aconteceu até que o colapso da FTX evidenciasse que é urgente criar regras que protejam os investidores do varejo. Afinal, são sempre eles os mais prejudicados em casos como os testemunhados este ano.

Sampaio afirmouu que a regulação é o grande catalisador que pode desencadear uma reversão de tendência no futuro, embora não esteja claro quando exatamente isso acontecerá:

“Eu acredito fortemente que o caso da FTX vai pressionar os reguladores a agir, e eu acredito que eles terão uma abordagem positiva, sem tentar impor regras exageradamente restritivas. Basicamente, espero que eles organizem o mercado e tragam alguma ordem ao caos para permitir que este mercado se desenvolva.”

Por sua vez, Michael Venuto, mais do que apenas abalar a confiança dos investidores, o caso da FTX criou a impressão de que toda a indústria de criptomoedas é um grande golpe. Pessoas que têm pouco ou nenhum conhecimento sobre o mercado tratam o Bitcoin e a FTX como se fossem uma coisa só, quando na verdade ambas estão em extremos opostos:

“O golpe da FTX é igual aos grandes golpes que as finanças tradicionais vem dando desde o início dos tempos. Não tem absolutamente nada a ver com o Bitcoin. O caso da FTX foi uma tentativa de capitalizar um movimento em direção às finanças descentralizadas criando formas de direcionar os recursos para si próprio sem qualquer tipo de segregação. De um lado havia um golpista, e do outro uma tecnologia nova e incrível  que vai mudar a forma como a gente realiza transações e armazena dados”.

Uma regulação razoável vai atrair novamente os investidores institucionais ao espaço, dando início a um novo círculo virtuoso.

Havendo demanda por parte de seus clientes, instituições financeiras tradicionais vão oferecer produtos com exposição às criptomoedas, em um movimento que o atual inverno cripto desacelerou, mas não interrompeu completamente.

ETF de Bitcoin

A aprovação de um ETF (fundo de índice negociado em bolsa) de Bitcoin nos EUA é algo que poderá contribuir decisivamente para a recuperação do setor. 

Aliás, segundo Venuto, as recorrentes negativas à aprovação de um ETF vinculado ao preço do BTC no mercado à vista teriam sido o grande erro da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC).

Segundo os participantes do webinar, muitas das crises testemunhadas ao longo de 2022 poderiam ter sido evitadas com um ETF de Bitcoin devidamente chancelado pelo órgão regulador. Na ausência de um instrumento financeiro regulado para exposição ao Bitcoin, os investidores institucionais preferiram direcionar seus recursos para empresas privadas do setor, afirmou Venuto:

“Esse dinheiro só foi direcionado a essas empresas porque os investidores institucionais não têm clareza regulatória sobre como comprar Bitcoin.”

Além disso, a falta de clareza regulatória faz com que os maus atores sejam atraídos para o espaço. Casos como o da FTX e da Alameda Research, do Three Arrows Capital (3AC) e da Celsius e da Voyager antes deles, confirmam a tese.

Uma gestão profissional no caso do investimento e da custódia de ativos é fundamental para atrair os investidores institucionais para o mercado. A aprovação de um ETF solucionaria em grande parte este problema delimitando claramente os direitos e deveres das gestoras perante os seus clientes e a própria legislação.

DeFi

Sampaio destacou também que as crises de liquidez e insolvência que resultaram na falência de grandes players do mercado se limitou a entidades centralizadas. Os protocolos de finanças descentralizadas passaram incólumes por todos os crashes que abalaram o mercado, sempre operando conforme o programado:

“DeFi funcionou perfeitamente este ano. Todas as liquidações foram processadas como deveriam, de forma auditável, transparente e previsível. As falhas ficaram restritas aos sistemas centralizados.”

Mais do que isso, a fuga de usuários para exchanges e protocolos de empréstimos descentralizados resultou em um aumento significativo na geração de receitas no setor, destacou Sui Chung:

“Mesmo levando em conta o declínio do preço dos ativos no mercado, os grandes protocolos DeFi tiveram um ano muito positivo em termos de geração de receitas a partir das atividades dos usuários. Os cinco maiores protocolos DeFi geraram mais de US$ 300 milhões em receitas este ano.”

Em 2023, a tendência é que o crescimento do setor ganhe força adicional a partir do desenvolvimento de interfaces mais amigáveis e novos produtos que proporcionem uma melhor experiência aos usuários, tornando mais fácil a atração e a iniciação de novos investidores ao universo das finanças descentralizadas.

Marcelo Sampaio aposta na proeminência do setor com base em uma expectativa de que a digitalização de ativos é uma tendência irreversível:

“Assim como as cartas escritas à mão foram totalmente substituídas pelo e-mail, eu diria que no futuro, não sei se dentro de 10, 20 ou 30 anos, todos os ativos serão digitais. Não porque eu quero ou porque seja mais legal assim, mas porque assim eles se tornarão muito mais eficientes economicamente falando. Imagine se a sua casa fosse digitalizada. Talvez não seja necessário que você possua 100% da sua casa. Apenas 51% podem ser suficientes, assim como se dividem as participações sobre uma empresa. 2023 será um ano ainda melhor para DeFi, mas imagine os próximos 10 ou 15 anos. Nós vamos ver muitas coisas acontecendo nesse setor específico.”

NFTs

Assim como os demais setores da indústria, o mercado de tokens não fungíveis testemunhou uma forte correção no valor de mercado de itens de coleções populares, assim como uma diminuição no interesse por colecionáveis digitais.

No entanto, a retração não impediu que grandes marcas seguissem explorando o potencial do setor. As coleções personalizadas de NFTs da Nike e o sucesso e a popularidade dos colecionáveis digitais do Reddit são casos que devem se multiplicar a partir do ano que vem, afirmou, destacou Chung:

“Acredito que esta é uma tendência que prosseguirá em alta e que tende a se acelerar ainda mais no ano que vem. NFTs são um meio para diversos fins. Para marcas e criadores de conteúdo eles são uma nova avenida para geração de valor e engajamento. Então, acho que o que nós vimos até agora é só o começo.”

Os NFTs devem ser entendidos como uma manifestação da cultura digital, disse o CEO da CF Benchmarks. Especialmente devido à capacidade que os colecionáveis digitais têm de criar comunidades globais a partir de identidades e interesses compartilhados.

Chung destacou que os NFTs oferecem a possibilidade para marcas e criadores explorarem todo um espaço que existe entre experiências 100% reais e inteiramente virtuais. Como exemplo, ele citou as oportunidades ainda inexploradas que os NFTs oferecem aos músicos para criar novas formas de conexão e engajamento com seus fãs:

“Hoje você pode pagar US$ 1.000 para ir a um show de Katy Perry na área vip ou você pode assinar o Spotify e ouvir as músicas dela como um bilhão de pessoas. Mas há inúmeras oportunidades entre estes dois extremos que podem ser exploradas através de NFTs. Por isso eu acredito que este será um setor muito interessante de se observar em 2023.”

Teses de Investimento

No encerramento do webinar, Venuto sugeriu que há duas filosofias que as pessoas podem adotar para explorar o mercado de criptomoedas.

A primeira baseia-se em uma estratégia clássica de investimento, na qual os criptoativos devem compor entre 1% a 5% do portfólio. Cabe aos investidores fazer o rebalanceamento de suas participações de acordo com os altos e baixos do mercado.

No que diz respeito a essa estratégia, a volatilidade é sempre perigosa. Em caso de alta ou de baixa, vender é o objetivo final, seja para realizar os lucros mantendo o balanceamento mais amplo do portfólio, sob o risco de perder eventuais pernadas adicionais de alta, seja para minimizar as perdas em caso de quedas.

A segunda estratégia caracteriza-se por uma abordagem experimental do mercado, a qual ele denomina “compre e aprenda” (traduzido livremente do original “buy and learn“):

“Se você compra ativos digitais diretamente e aprende por conta própria como movê-los para uma carteira fria ou para a MetaMask, aprende a mintar um NFT. O que quer que seja que você invista através dessa estratégia, isso vai lhe custar menos do que se você pagasse para fazer cursos específicos sobre DeFi, NFTs ou o que quer que seja. E às vezes, você tem sorte, outras vezes não. Mas você acaba ganhando muito ao aprender através dos processos envolvidos nessa estratégia.”

Já Sampaio destaca que ainda não existem parâmetros claros para determinar o valor justo de um criptoativo e nem se já chegamos ao fundo do atual ciclo de baixa. E nesse caso, não é possível dizer se o Bitcoin está caro ou barato ao preço atual de US$ 17.000 ou aos US$ 69.000 de sua máxima histórica.

Sendo assim, a abordagem mais adequada para investir em criptoativos é fazer um aporte proporcionalmente pequeno em ativos nos quais se acredita com foco no longo prazo:

“Em vez de tentar prever o fundo, compre e segure por um longo tempo. Apenas uma pequena parte do seu portfólio. Cada um sabe o quanto é suficiente para manter-se confortável. Aos nossos clientes, nós sugerimos começar com algo entre 1% e 2%, mas cada um aprende qual é o seu limite uma vez que esteja envolvido com o espaço. Esse investimento pequeno tende a se tornar muito maior ao longo do tempo. Pelo menos é isso que as criptomoedas têm entregado, mesmo quando o mercado despenca. Uma estratégia de longo prazo geralmente é bem sucedida.”

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