Exclusivo: Mercado Bitcoin prepara lançamento de 10 novas classes de tokens em 2020
Em entrevista, CEO da Mercado Bitcoin, Reinaldo Rabelo, diz que negocia com três grandes clubes para lançar projeto de tokenização de jogadores de futebol já em março de 2020
O novo CEO da exchange brasileira Mercado Bitcoin, uma das maiores do mercado nacional, Reinaldo Rabelo, deu entrevista exclusiva ao Cointelegraph Brasil, falando sobre o mercado de criptomoedas brasileiro, regulação, e revelando que a empresa, que em 2019 lançou tokens de precatórios, deve lançar neste ano mais 10 novas classes de tokens para o mercado nacional.
Segundo Rebelo, a iniciativa da MB Digital Assets, braço de tokenização de ativos da Mercado Bitcoin, é de trazer para o mercado de tokens ativos que não são valores mobiliários e não tem liquidez, como dívidas e direitos. A Mercado Bitcoin prepara o lançamento de seu projeto de tokenização de jogadores de futebol já para março deste ano, enquanto o CEO da exchange brasileira revelou já estar negociando com três grandes clubes do país.
Como noticiou o Cointelegraph Brasil, o projeto pretende tokenizar jogadores da base dos clubes, com possibilidade de rendimento para os investidores a partir da evolução da carreira dos atletas.
Confira a entrevista a seguir.
Cointelegraph Brasil (CT) – Como foi sua trajetória no mercado financeiro até chegar na Mercado Bitcoin?
Reinaldo Rebelo (RR) – Eu fiquei quase 10 anos na CENTIP, onde trabalhei como diretor jurídico, com compliance, controle e mais na área de riscos, até ela ser comprada pela BMF e virar a B3. Na CENTIP, a gente desenvolveu um plano de inovação, que continua a existir, e também jpa estudava blockchain e cripto, então a gente já tinha algum contato com esse mercado.No fim de 2017, quando eu saí da B3, no final do ano, recebi um convite para estrururar a governança da Mercado Bitcoin e rever processos de compliance e riscos da empresa com relação a esses temas. Acabei me apaixonando por blockchain e cripto e me engajei totalmente nessa jornada da Mercado Bitcoin.
CT – E como foi internamente sua evolução até chegar ao cargo de CEO?
RR – Foi um processo natural. Depois de passar pela área de compliance e riscos, de comunicação com o COAF, que fomos a primeira exchange nesse sentido, e começamos a desenvolver iniciativas mais voltadas para o que eu fazia na CENTIP, a gente percebeu uma oportunidade de usar as características da tecnologia na infraestrutura de mercado, e assim nasceu a MB Digital Assets, no começo do ano passado, e eu acabei assumindo como head daquela iniciativa. A gente acabou lançando no mercado como tokenização de ativos reais.com uma proposta diferente. E essa iniciativa acabou se conectando cada vez mais com essa plataforma do Mercado Bitcoin. A partir disso, o comitê de gestão e os acionistas decidiram unir essas lideranças para eu assumir como CEO e liderar os investimentos e a tokenização.
CT – Que tipo de entraves ainda existem para que o investidor do mercado financeiro adote mais criptomoedas?
RR – Eu vejo o mercado de criptomoedas como um mercado que nasce complementar ao mercado financeiro, apesar de alguma fricção entre eles. No mercado americano, por exemplo, a gente vê a ICE, que é dona da Bolsa de Nova York, investindo na Coinbase, mas ao mesmo tempo criando uma bolsa, a Bakkt, que é uma bolsa de criptoativos mais voltada para o mercado tradicional. Então, o que parece, quando a gente olha isso, é que existe uma possibilidade de recriar o mercado de investimentos. A gente sempre fala que investir é um verbo muito amplo, você pode investir em ativos financeiros mas também em ativos alternativos, que não são nem financeiros nem imobiliários, como imóveis, terras, animais, energia, precatórios, dívidas, etc. Então, acho que surgem as criptomoedas como mais um ativo alternativo, acho que deveria acontecer aqui o que existiu no mercado americano, que é não ter uma rejeição a esse complemento de investimento, acho que aqui ainda existe um pouco de preconceito, muito em função das iniciativas ruins e mal intencionadas que acabam aparecendo mais no mercado.
CT – O Brasil tem a perspectiva de em 2020 chegar a uma versão no congresso para uma regulação cripto. Como você vê isso?
RR – Esse ponto eu acho importante, porquê eu não acredito que exista um mercado não regulado, tem sempre alguma regulação que a gente precisa seguir e principalmente dizer o que a gente não pode fazer. O que acaba acontecendo nestes casos, tanto no mercado cripto quanto no tradicional, que a gente também tem casos recentes de pirâmide e fraude usando ativos financeiros, é que algumas pessoas se utilizam de narrativas para enganar os poupadores. Acho que o que é importante neste ponto é a educação financeira, que a própria CVM faz, a gente faz também, que é informar o poupador, quando ele vai colocar o seu dinheiro em algum investimento, sobre onde ele vai investir o dinheiro dele. Então acho que há menos uma necessidade de regulação, a gente já tem muita regulação e uma regulação excessiva é até ruim, e mais uma questão de educação financeira. Mas algum ajuste nesse tema pode existir. Pegando um exemplo do que funciona melhor neste tema, há discussões da SEC e da CFTC na linha de regular por princípios, que não é decidir o que se pode ou não fazer no dia a dia, mas regular quais são os princípios que devem ser observados, como regular patrimônio, considerar os riscos, essas regras gerais de funcionamento de mercado podem ser interessantes, alinhadas a regras específicas como da Receita Federal, como já saiu no ano passado. Enfim, acho que tem melhorado e acho que temos que esperar antes sair criando normas que poderiam colocar a gente muito pra trás nesse mercado que pode ser importante.
CT – No passado vimos vários casos de embates jurídicos entre exchanges e bancos. Como está esta situação hoje?
RR – Acho que existem problemas operacionais em qualquer negócio oferecido ao público, mas nada fora do normal. Em relação aos bancos, muitas dessas ações de bloqueio são de 2015 e 2016. A reação dos bancos hoje parecem ser muito menos conservadoras do que nessa época. Nessa semana, houve um evento de criptomoedas em blockchain com o Itaú, Bradesco, e a gente já falou muitas vezes com o Banco Central, o COAF, acho que é uma realidade bem diferente do que a dessa época. Não acho que hoje tenha um bloqueio dos bancos, até porquê muitos têm trabalhado em parceria com o mercado, e isso mostra que é possível alinhar condutas com exchanges e bancos e todo mundo sair ganhando com essa operação.
CT – Quais as metas da Mercado Bitcoin para 2020?
RR – A gente tem uma ideia de lançar em 2020 cerca de 10 novas classes de tokens, com o cuidado de que eles tenham valor real tanto para o investidor quando para quem gerou o ativo que está vinculado àquele token e que não fira nenhuma norma existente. Então, a gente buscou ativos que não eram valores mobiliários para não infringir nenhuma norma da CVM, por exemplo. No caso do futebol, a gente pensou em lançar um token que tem valor nas duas pontas, tanto para o clube quanto para o investidor, e pode permitir que as pessoas entendam a blockchain, a tokenização, como um exemplo mais lúdico. Como eu venho do mercado financeiro, pra mim é natural falar em dívidas, direitos, créditos, recebíveis, mas para o público em geral esses temas são ou complexos, ou até chatos, mesmo.Então a gente já está discutindo com três grandes clubes, já em um processo bem avançado e está bem confiante em apresentar este projeto já em março, que pode ser bem interessante para trazer esse público que ainda tem receio com criptomoedas e tecnologia, para trazer ele a partir de um assunto que ele gosta, que é o futebol.
CT – Que tipo de ativos você vê tokenizados para o mercado do Brasil?
RR – Eu estava em uma conferência discutindo sobre um documento da OCDE sobre tokenização, e no final da discussão a nossa ideia era de que é possível tokenizar tudo. A gente entende que tudo que for direito, dívida, pode ser tokenizado. O foco é desempenho em ativos não líquidos, que têm valor mas você ainda não consegue transformar em dinheiro pra você cumprir com suas obrigações presentes. Então todos esses ativos nos interessam, que geram valor pro dono do ativo e pode trazer rendimento para o investidor. Além disso, a gente também democratiza o acesso a determinado tipo de ativo, tornando os precatórios, por exemplo, acessíveis ao investidor comum e não ficando mais restritos aos bancos e instituições financeiras.