Inverno cripto condena 12.100 criptomoedas ao limbo dos ‘tokens zumbis’

Um levantamento da empresa de análise de dados Nomics revela que mais da metade de um total de mais de 21 mil criptomoedas atualmente existentes encontram-se num limbo entre a vida e a morte à medida que a capitalização total do mercado encolheu 66% em menos de um ano.

Atualmente, existem mais 21 mil criptomoedas em negociação de acordo com dados atualizados do CoinMarketCap – 21.200 para ser exato. Sob quaisquer parâmetros, trata-se de um número impressionante. No entanto, mais da metade, hoje, não possui um volume de negociação significativo e encontra-se em um limbo, pairando entre a vida e a morte em um dos mais rigorosos invernos criptos da história.

Um levantamento da empresa de análise de dados Nomics revela que 12.100 criptomoedas praticamente foram abandonadas ao longo deste ano. Embora tecnicamente não possam ser dados como mortos, registram um volume mensal de negociação nulo.

A condenação de 57% do total de tokens listados pelo CoinMarketCap seguiu-se à pulverização de US$ 2 trilhões em capitalização de mercado desde novembro de 2021. O mercado de criptomoedas é democrático e aberto: qualquer pessoa com conhecimentos intermediários de programação é capaz de criar um token e, em seguida, listá-lo em uma exchange descentralizada (DEX).

Durante os ciclos de alta do mercado, quando a liquidez é abundante, muitos investidores não prestam atenção aos casos de uso ou mesmo à idoneidade de um projeto antes de investirem seu dinheiro na expectativa de obter ganhos exponenciais.

No entanto, à medida que houve uma reversão de tendência e a liquidez do mercado foi secando, estes tokens acabaram sendo abandonados não só pelos usuários como também pelos próprios desenvolvedores. E não se trata de um fenômeno recente, verificado no atual ciclo de baixa.

Desde a explosão do mercado em 2017, sempre tem sido assim, até mesmo durante momentos de alta, conforme mostram os dados da Nomics. Agora, no entanto, houve um movimento sem precedentes. Antes de 2022 chegar ao fim, verifica-se um crescimento de 228% no número de “tokens zumbis” em relação ao ano passado.

Mesmo as criptomoedas que escapam à categoria de tokens zumbis, o volume negociado pode ser pouco significativo. Dos mais de 64.400 ativos que a Nomics acompanha, apenas cerca de 13.800 registraram alguma transação na semana passada, disse Nick Gauthier, um dos cofundadores da Nomics, a uma reportagem da Bloomberg.

Segundo Gauthier, há ainda uma infinidade de moedas que tecnicamente não são consideradas zumbis pelos parâmetros da Nomics, mas estão quase lá, pois movimentam pouco mais de frações de centavos mensalmente.

Quantidade de criptomoedas que registram 1 mês de inatividade no período de 1 ano (captura de tela). Fonte: Nomics

Em mercados de baixa, mesmo projetos com bons fundamentos têm dificuldades para sobreviver às condições desfavoráveis. O que dirá projetos caça-níqueis, cujos tokens são criados para capturar a liquidez abundante do mercado. Ainda que tenha atingido proporções inauditas agora, investidores experientes ou estudiosos poderiam ter evitado prejuízos avaliando o histórico desse mercado.

A febre dos ICOs (ofertas iniciais de moedas)

A proliferação indiscriminada de criptomoedas ganhou um forte impulso durante o ciclo de alta de 2017, cuja bolha foi inflada pela febre das ofertas iniciais de moedas (ICOs). Naquele momento de euforia, enquanto o Bitcoin (BTC) se encaminhava a uma máxima histórica de quase US$ 20.000, diversas startups de criptomoedas e tecnologia blockchain lançaram tokens nativos para arrecadar fundos – em tese – para o desenvolvimento de seus projetos.

A maioria dos projetos e de seus respectivos tokens não tinha fundamentos sólidos ou casos de uso funcionais e, no médio e longo prazos, não conseguiram reter investidores ou usuários e acabaram condenados. Ao longo do inverno cripto que se seguiu nos anos posteriores, em 2018 um total de 136 tokens se transformaram em zumbis, enquanto outros 766 ganharam essa designação em 2019.

Embora um ou outro projeto acabe conseguindo se reinventar diante de circunstâncias mais favoráveis do mercado, a grande maioria vai definhando lentamente, diluindo seu valor de forma contínua, até tornarem-se praticamente irrelevantes em termos de capitalização de mercado.

Este ano, tal fenômeno pode ser acompanhado em tempo real e em um curto espaço de tempo, quando o ecossistema do protocolo DeFi Terra entrou em colapso depois que a sua stablecoin algorítmica TerraUSD (UST), agora renomeada TerraUSD Classic (USTC), perdeu a paridade com o dólar e foi envolvida em uma espiral da morte que também pulverizou a sua contraparte de valor flutuante, o LUNA – agora rebatizado LUNC.

Embora ambas as moedas tenham sido “ressuscitadas” pela força da comunidade de lunáticos, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o mais comum seria que elas fossem relegadas à insignificância no limbo das criptomoedas zumbis. Enfim, o LUNC e o USTC podem ser considerados a exceção que confirma a regra.

A lição deixada pelo número crescente de “tokens zumbis” ano a ano é que o próximo ciclo de alta do mercado deverá impulsionar a criação de uma quantidade ainda maior de criptomoedas. Caberá aos investidores fazer a sua própria pesquisa para não verem seu dinheiro se perder no crescente limbo dos “tokens zumbis”.

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