Brasileiros retiram R$ 17,5 milhões de fundos cripto em uma semana; gestor da QR Asset avalia os motivos

Em 2023, brasileiros já retiraram R$ 250 milhões de fundos cripto, movimento que pode estar ligado à taxa básica de juros do país, aponta Theodoro Fleury

Pela sétima semana consecutiva, fundos com exposição a criptomoedas exibem fluxo positivo de capital. Entre os dias 6 e 12 de novembro, R$ 1,46 bilhão foi alocado nesses veículos de investimento, apontam dados da CoinShares. Os brasileiros, contudo, seguem na contramão, e reduziram em R$ 17,5 milhões suas exposições ao mercado de criptoativos através de fundos.

Os aportes em fundos ligados à valorização do Bitcoin (BTC) representaram 82% do total alocado na última semana, totalizando R$ 1,20 bilhão. Quanto aos fundos apostando na queda do BTC, houve um recuo no interesse, com R$ 35 milhões sendo retirados desses instrumentos de investimento.

O aumento na exposição ao Ethereum (ETH) através de fundos cripto foi o maior desde agosto de 2022, com R$ 245 milhões alocados em uma semana. Esta já é a segunda semana consecutiva de crescimento significativo em ativos sob gestão (AUM, na sigla em inglês) desses fundos.

Variação de AUM de fundos com exposição a criptoativos (por ativo de exposição). Imagem: CoinShares

Os fundos expostos à Solana (SOL) também demonstraram crescimento em AUM na última semana, com fluxo positivo de R$ 62 milhões. Apesar de modesto, um volume de aportes também foi exibido pelos fundos de Cardano (ADA), totalizando R$ 4 milhões.

Ainda sobre a diversificação com altcoins, investidores demonstraram uma leve queda no interesse por Litecoin (LTC) e XRP (XRP). Os fundos ligados a esses criptoativos exibiram respectivas quedas de R$ 1,5 milhão e R$ 15,5 milhões na última semana.

Fuga de brasileiros, mas qual é o motivo?

Nas últimas sete semanas, nas quais fundos de criptomoedas exibiram fluxos positivos de capital, os brasileiros reduziram a exposição através desses veículos de investimento em seis delas. Nesse período, brasileiros retiraram R$ 82,5 milhões desses fundos.

A única semana positiva se deu entre os dias 9 e 15 de outubro, quando os aportes somaram R$ 2 milhões. No acumulado anual, o AUM de fundos cripto brasileiros é de R$ 250 milhões negativos. O número contrasta significativamente com os R$ 671,5 milhões alocados nesses instrumentos no mesmo período em 2022.

Variação de AUM de fundos com exposição a criptoativos (por país). Imagem: CoinShares

Para Theodoro Fleury, gestor da QR Asset, a atual taxa básica de juros no Brasil é uma das causas por trás da fuga de fundos cripto demonstrada pelos brasileiros.

“Temos o problema da taxa de juros brasileira, que ainda é uma das maiores do mundo hoje em dia. O mercado de fundos de cripto no Brasil ainda é extremamente concentrado no varejo, com baixa participação de investidores institucionais”, explica Fleury. “Com isso, fundos que apresentam maior volatilidade tendem a sofrer com a concorrência de uma renda fixa que paga cerca de 1% ao mês com baixo risco”, acrescenta.

A saída de capital não afeta apenas os produtos ligados aos criptoativos, salienta o gestor da QR Asset, mas a indústria como um todo. Em 2023, até mesmo fundos multimercado consagrados sofreram com retiradas.

Fleury também faz ressalvas quanto aos dados compartilhados pela CoinShares. Ele comenta que, na amostragem usada pela empresa, apenas um produto brasileiro é levado em consideração. 

“Considerando apenas o mercado de ETFs de cripto no Brasil, é um produto que tem 65% de market share no mercado de ETFs, e apenas 40% de share quando estendemos a análise a todos os fundos de cripto. Portanto, há uma generalização para o país como um todo, a partir da amostra utilizada, que pode levar a conclusões imprecisas sobre o panorama real do que efetivamente acontece na indústria de fundos de cripto no país”, conclui o gestor da QR Asset.

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