Sheik dos Bitcoins culpa o Bitcoin por calote e diz que não tem dinheiro para pagar os clientes: ‘Barras de ouro eram de latão’

Acusado de pirâmide, Francis estima que deve até R$ 350 milhões aos clientes lesados e alega que não tem dinheiro além dos bens apreendidos.

O delegado da Polícia Federal (PF), Filipe Pace, disse que a perícia que examinou as “barras de ouro” apreendidas em endereços ligados a Francisley da Silva Valdevino, o Sheik dos Bitcoins, é, na verdade, latão. Segundo ele, o “ouro fake” apreendido durante a Operação Poyais no início de outubro era utilizado junto com outros patrimônios exibidos por Francis, como o Sheik gosta de ser chamado, nas redes sociais como uma forma de publicidade para atrair novos clientes para o suposto esquema de pirâmide financeira envolvendo criptomoedas, que teria lesado, pelo menos, 15 mil pessoas em mais de R$ 4 bilhões. 

“A ostentação e luxo que ele tinha era pra atrair novos clientes, pra demonstrar que as pessoas poderiam ter aquele estilo de vida. Então, tudo que ele fazia, tinha, de certa forma, reflexo nas fraudes que ele promovia”, disse o delegado. 

Pace foi um dos entrevistados de uma reportagem exibida pela revista eletrônica semanal “Domingo Espetacular”, da Rede Record de TV, que também ouviu o Sheik, dois advogados e duas pessoas que dizem ter sido vítimas do suposto esquema, que envolvia a promessa de lucros mensais de até 13,5% sobre o valor aportado na plataforma Rental Coins, que se apresentava como uma exchange de criptomoedas. 

Francis alegou que suas operações nunca representaram um golpe, algo premeditado e que está trabalhando dia a dia para ressarcir os clientes. Segundo ele, o “vilão” foi a queda do Bitcoin (BTC).

“As pessoas entravam, compravam criptomoedas e alugavam. Existe todo um mercado pra liquidez, então essa liquidez, que este ano, devido ao que vem acontecendo, a baixa do mercado, o Bitcoin saiu de US$ 60 mil no ano passado e caiu pra US$ 20 mil, então o volume caiu muito”, argumentou. 

Contrariando a PF, que diz que o Sheik se tornou milionário e também teria criado uma rede complexa que envolve quase 100 empresas, supostamente utilizadas para esconder o dinheiro das vítimas, Francis alegou que “não existe esse dinheiro que as pessoas falam.” Segundo ele, a dívida total com os clientes gira em torno de R$ 350 milhões e que não há dinheiro além dos bens que foram bloqueados. 

A reportagem também ouviu duas pessoas que dizem ter sido vítimas das operações de Francis, uma delas a empresária Cristiane Luckamann, que teria investido R$ 55 mil e que teria recusado uma proposta de parcelamento feita por representantes de Francis, ocasião em que ela afirma ter optado por procurar a Justiça, e um homem que preferiu não se identificar, que disse ter perdido R$ 57 mil e que hoje vive em um cômodo com a esposa, dependendo de favor de familiares e amigos para sobreviver. 

Representante de 70 vítimas, algumas lesadas em até R$ 10 milhões, o advogado Jeferson Brandão disse que a auditoria, alegada pela empresa no início do ano para paralização de suas atividades e bloqueio das carteiras dos clientes, além de ser injustificada, não apresentou qualquer resultado e que, depois disso, a empresa teria utilizado uma segunda desculpa para “reestruturar uma estruturação que nunca aconteceu.”

Já o advogado especialista, Marco Antônio Araújo Júnior, também ouvido pela reportagem, disse que “não existe mágica no mercado de investimentos” e que, em investimentos de risco, há chances de ganhos maiores, mas os riscos de perdas também são mais altos. 

Por sua vez, o Sheik concluiu dizendo que é apenas um empresário com problemas financeiros e problemas de gestão em suas empresas. O que parece não ter convencido a juíza Luciane Ramos, da 2ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de Curitiba, que disse que o Sheik tem “vida nababesca” e que deferiu uma petição feita em uma ação movida por um investidor da Rental Coins e decretou a falência da empresa

A reportagem também abordou ainda os pedidos judiciais de, pelo menos, 14 vítimas do Sheik, que pedem o bloqueio de um jatinho, utilizado pelo cantor Wesley Safadão, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.

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