Metaverso também traz riscos da vida real aos usuários e não pode ser considerado ‘Terra de Ninguém’

Hackers deverão avançar na mesma proporção do crescimento dos espaços virtuais

A história da humanidade muitas vezes revela acontecimentos semelhantes, que se repetem em gerações diferentes, como um ciclo. No passado, esses episódios se reprisavam em intervalos de dezenas ou centenas de anos. Mas, com a chegada da internet e das novas tecnologias, a humanidade parece muitas vezes saltar séculos em sua escala evolutiva. 

Para se ter uma ideia desse “encurtamento histórico”, aproximadamente 30 anos separam a internet do metaverso, nos moldes em que eles foram apresentados para a sociedade mundial. O universo digital que se encontra em construção e se apresenta ainda como um novo mundo de liberdade e oportunidades. 

Mas ele também deverá ser um lugar de ameaças, por isso ignorar o “avatar estranho” puxando conversa pode ser um bom começo para se transitar nas terras do metaverso, um mundo que promete ser encantador, mas que também pode se tornar igualmente perigoso caso as medidas de segurança da vida física não forem redobradas neste novo espaço. 

Para se ter uma ideia do tamanho deste gargalo, em 2021 os hackers de criptomoedas norte-coreanos desviaram quase US$ 400 milhões em criptoativos. O que pode ser considerado uma bagatela frente aos golpes envolvendo clonagem de cartões de crédito, posse indevida de senhas de aplicativos bancários e de contas de whatsapp, ataques a bancos de dados de governos e grandes corporações, e outros crimes cibernéticos que expõem a maior parte da população mundial todos os dias, no plano físico. 

As questões de segurança e privacidade ganham outros contornos quando se trata do metaverso, onde as pessoas já estão adquirindo patrimônio. Na última semana, por exemplo, a startup Bold Metrics, sediada em São Francisco, Estados Unidos, anunciou a criação de uma plataforma capaz de criar tokens não fungíveis (NFTs) a partir de avatares fiéis da pessoas, por meio de varredura corporal. 

A tendência já é seguida por grandes marcas e deverá se expandir no metaverso, para onde devem migrar grandes grifes de roupas e redes varejistas. O que, na prática, obriga as pessoas a terem muita atenção antes de expor seus avatares, pois, além de suas identidades, eles serão em muitos casos uma réplica fiel de seus corpos. 

Os cuidados com as senhas de entrada do metaverso, o comportamento neste novo mundo e o olho aberto com plataformas que propõem transformar as pessoas em avatares-manequins ainda parecem ser insuficientes. Foi o que revelou uma reportagem do último dia 4 do The Wall Street Journal, do jornalista David Uberti.

A publicação do WSJ faz um comparativo do sistema de coleta de dados atual feito pelas grandes empresas de tecnologia, que segundo os críticos é um sistema de vigilância em massa, e o metaverso. Isso porque a iteração no metaverso impõe remas de dados que mostram como as pessoas interagem nos mundo digital, nos locais de trabalho e consultas médicas virtuais, por exemplo. O que já está em curso nos jogos inclusive, diz a matéria.

Considerado intrusivos pelos críticos os modelos de coleta de dados das startups do metaverso, as armadilhas deste novo mundo podem ser ainda mais perigosas segundo a matéria. Isso porque as pessoas podem entrar no metaverso para assumirem identidades que elas não podem adotar no mundo físico, o que poderá abrir para as empresas de tecnologia uma janela para elas adentrarem na psique dos usuários. 

Como se vê, os hackers não estão sozinhos no metaverso. Mas este caminho parece não ter volta, a humanidade começa um novo ciclo, tecnológico e histórico, caracterizado por possibilidades de varreduras de informações, corpos e psiques das pessoas.

Historicamente, a década de 1990 foi ontem. O ciclo recém-concluído remonta os primeiros computadores comerciais, que precisavam receber uma lista de comandos para executarem tarefas simples. E já faziam brilhar os olhos dos usuários da época. 

Com o romantismo das novas descobertas tecnológicas também vieram as ameaças, os golpes, como se os batedores de carteira e os assaltantes tivessem saído das esquinas sombrias e saltado para dentro dos computadores.

O tempo passou e o metaverso chegou prometendo ser um novo mundo de liberdade e oportunidade. Mas é bom ter cuidado com o avatar da esquina, não aceitar NFTs suspeitos e lembrar que eles não estão sozinhos. 
 

LEIA MAIS
 

Você pode gostar...