Faça sua própria pesquisa: 7 pontos a serem observados antes de investir em uma criptomoeda

Em momentos de incerteza do mercado, o clássico mandamento da indústria de criptomoedas é mais importante do que nunca e o Cointelegraph Brasil apresenta algumas ideias para ajudar os investidores a avaliar um ativo antes de comprá-lo.

Hoje, o mercado de criptomoedas apresenta 17.337 tokens disponíveis para investimento, de acordo com dados do CoinMarketCap. Promessas de microcaps com pontencial de valorização exponencial surgem diariamente. Manipulando o preço de ativos de pequena capitalização de mercado é possível iludir investidores inexperientes ou desavisados fazendo-os acreditar que há oportunidades imperdíveis de obter rendimentos de três ou quatro dígitos em menos de 24 horas. 

Em geral, histórias assim costumam acabar mal, como no caso do token inspirado na série Round 6, da Netflix. Ou mesmo de projetos que pareciam sérios e cresceram de forma sustentada, como a franquia que reunia os games CryptoCars, CryptoPlanes e CryptoGuards. Os tokens dos jogos chegaram a estar presentes em mais de 130.000 endereços e apenas no Brasil um grupo no Telegram reunia 30.000 usuários até que os desenvolvedores sumiram e encerraram as atividades dos jogos deixando milhares de investidores no prejuízo.

Estas são apenas duas de tantas outras histórias que deixam uma lição: não se deve confiar plenamente em opiniões alheias no que diz respeito ao mercado de criptomoedas. Existem muitos analistas emitindo opiniões para ajudar os investidores a se comportar da melhor forma possível diante da diversidade e das oscilações de um mercado extremamente volátil e dinâmico.

Muitas vezes, orientações são úteis e bem vindas, mas qualquer investidor experiente sabe que a melhor forma de não arriscar o próprio dinheiro em operações duvidosas é seguindo o clássico mandamento da comunidade cripto: DYOR – Do your own research. Literalmente, faça a sua própria pesquisa.

Com tantas fontes e meios de informação disponíveis hoje em dia, nem sempre é fácil saber por onde começar. O Cointelegraph Brasil apresenta a seguir um checklist com sete pontos aos quais todo investidor deve estar atento antes de confiar o seu dinheiro a um determinado projeto.

1. Utilidade

Esta não vale para os criptomemes como Dogecoin (DOGE) e Shiba Inu (SHIB), os queridinhos do mercado – e de Elon Musk – no ano passado. Brincadeiras à parte, projetos sérios de criptomoedas são desenvolvidos para desempenhar objetivos concretos, gerando valor para os usuários a partir de sua utilidade. No caso do Bitcoin (BTC), por exemplo, ele tem se revelado um excelente ativo de reserva de valor ao longo de seus 13 anos de história.

Para não ficar apenas no exemplo mais óbvio, observemos também o Terra (LUNA), um dos tokens de melhor desempenho de preço no ano passado. O LUNA é utilizado para emissão da stablecoin algorítmica TerraUSD (UST). 

Alguém que queira emitir US$ 100 UST precisará comprometer uma quantia equivalente de tokens LUNA no processo. Se o LUNA estiver cotado a US$ 50,00, o algoritmo exigirá que sejam usados 2 LUNA para emitir 100 UST. Esses 2 LUNA são queimados, o que significa que saem de circulação. Portanto, o LUNA tem a função de controlar a emissão de UST, entre outras utilidades.

A melhor forma de compreender a utilidade de um projeto é lendo o seu white paper. A melhor iniciação é o white paper do Bitcoin, escrito por Satoshi Nakamoto. Trata-se da pedra fundamental da indústria de criptomoedas.

Não importa que as questões técnicas muitas vezes sejam de difícil compreensão. As dúvidas que surgirão provavelmente muitos outros já as tiveram anteriormente. É possível saná-las em fontes secundárias, às vezes no próprio site dos respectivos projetos. Se um projeto apresentar um white paper prolixo, sem ideias claras, ou pior, nem sequer tenha um, é bom ficar alerta.

O próximo passo é expandir a busca por outras fontes na internet em busca de análises de especialistas com boa reputação.

Uma outra evidência sobre a seriedade de um projeto é a fidelidade ao seu roadmap, que é basicamente um cronograma com todas as etapas de seu desenvolvimento e execução. É recomendável investigar se os desenvolvedores cumprem o roteiro conforme ele foi estabelecido. E, mais importante, se as etapas projetadas fazem sentido. 

Por exemplo, uma das principais críticas à Cardano (ADA) é a de que o projeto não cumpre com o que foi estabelecido em seu roadmap, e até hoje a rede tem pouca ou nenhuma utilidade para os usuários.

Por outro lado, o Ethereum (ETH) é um projeto que ao longo de sua história muitas vezes não cumpriu o cronograma estabelecido em seu roadmap. Em compensação, as entregas vieram com atraso e foram efetivas, a ponto de a rede ter sido base de desenvolvimento inicial das inovações das finanças descentralizadas (DeFi) e do mercado de NFTs, dois dos setores mais robustos da indústria nos dias de hoje.

2. Atividade on-chain

Aqui, mais uma vez vale o contraponto entre Ethereum e Cardano. Enquanto a atividade no primeiro é tamanha, a ponto de as taxas de transação alcançarem valores estatosféricos, e mesmo assim os usuários não o abandonem, no segundo a atividade se concentra quase exclusivamente em negociações do ADA, seu token nativo, sem geração de valor adicional.

No caso de games ou protocolos DeFi, dois tipos de projeto preferenciais para criminosos e golpistas, é importante verificar se o jogo realmente existe e funciona. Uma resposta negativa não necessariamente indica que não se trata de um bom projeto, mas é prudente manter alguma reserva. Verificar se ao menos há um marketplace ativo, onde itens do futuro jogo já estão sendo negociados, e qual o volume dessas transações.

A propósito, o volume de negociação de um token é um indicador muito importante. Um volume alto é um indicativo de que o ativo possui boa liquidez e conta com o envolvimento de uma comunidade ativa. Enquanto um volume baixo pode significar que o token desperta pouco interesse do mercado ou mesmo que as transações podem estar sendo manipuladas por desenvolvedores mal intencionados.

Outros indicadores importantes são: atividade e engajamento dos desenvolvedores e dos usuários em redes sociais como o Twitter e o Discord, e o comprometimento dos desenvolvedores com a divulgação das ações que estão sendo executadas em prol da evolução do projeto.

3. Equipe de desenvolvedores

É comum na indústria de criptomoedas que os desenvolvedores dos projetos se mantenham anônimos ou sob a proteção de pseudônimos. Este é um aspecto perigoso e questionável, mesmo no caso de projetos idôneos, vide o recente escândalo envolvendo a divulgação da personalidade real do tesoureiro do Wonderland (TIME), que quase culminou com o encerramento do projeto.

No entanto, o ideal é que os desenvolvedores apresentem-se à comunidade e suas identidades possam ser verificadas através de seus pefis em redes sociais como o Twitter e até mesmo o Linkedin. Quanto mais informações disponíveis houver, maior o grau de confiança do projeto.

Se a equipe for anônima ou pseudônima e os integrantes escondem sua aparência atrás de avatares é melhor desconfiar. Provavelmente, uma busca nas redes sociais vai revelar que eles não existem ou não são quem realmente dizem ser.

4. Competidores

Um bom parâmetro para a valoração de um projeto de criptomoedas é compará-lo com seus competidores mais próximos. Insistir no caso de Ethereum e Cardano pode parecer demasiadamente repetitivo, mas diante da comparação de métricas como atividade on-chain e engajamento dos usuários se tem uma boa medida de qual projeto é mais bem sucedido – e portanto tem maior retorno potencial de investimento.

Ainda no setor de contratos inteligentes, pode-se avaliar a Solana (SOL), cujo crescimento tem sido sustentado pelo aumento da atividade na rede, do número de usuários ativos e do crescimento do número de dApps (aplicativos descentralizados) ativos e úteis. Analisando esses dados é possível concluir que há casos de uso em que a rede da Solana pode ser mais efetiva e econônomica do que a do Ethereum. Esta vantagem competitiva agrega valor ao SOL e faz dele um investimento interessante.

Outra métrica reveladora sobre a efetivida de redes que abrigam protocolos DeFi é o Valor Total Bloqueado (TVL) em seus dApps de finanças descentralizadas. Considerando-se este parâmetro, o Ethereum lidera com folga, mas, além da Solana, Terra, Binance Smart Chain, Fantom (FTM) e Avalanche (AVAX) se apresentam como competidores dignos de nota.

5. Ação de preço

O clássico mandamento do mercado diz que os investidores devem comprar na baixa e vender na alta, mas muitos investidores inexperientes agem exatamente ao contrário em função de um componente psicológico popularmente conhecido como FOMO (fear of missing out). Em português, seria algo como “medo de ficar de fora.”

Ainda assim é fundamental ter consciência de que é impossível ter o timing perfeito para realizar operações de compra e venda. Ainda mais em um mercado volátil como o de criptomoedas. Mesmo assim, embora não sirvam como garantia de nada, análises gráficas muitas vezes podem oferecer pistas valiosas sobre a ação de preço dos criptoativos, contribuindo para que os investidores possam realizar lucros eventuais ou aproveitar boas oportunidades de compra. Em todo caso, sempre vale lembrar que no mercado cripto o foco no longo prazo costuma ser mais efeitvo.

6. Capitalização de mercado e tokenomics

A capitalização de mercado de um token é uma métrica à qual se deve estar mais atento do que à cotação do ativo em si. Uma vez que a capitalização de mercado é calculada multiplicando a quantidade de moedas em circulação pelo seu preço unitário no mercado à vista, um valor alto indica que o ativo está consolidado e tende a ter um comportamento mais estável. 

Já o tokenomics se refere aos fundamentos econômicos dos criptoativos e podem ser avaliados a partir da análise dos seguintes dados:

Qual o mecanismo para emissão de novos tokens ou queima de tokens em circulação? 

Qual o suprimento total de tokens emitidos? Existe um limite?

Qual a proporção dos tokens que permanecerá sob custódia dos desenvolvedores do projeto?

Como se dará a distribuição inicial dos tokens?

Alguns indicadores que devem acender um sinal de alerta nos investidores são: um pequeno grupo de pessoas detém uma grande porcentagem de determinado token, tornando-o passível de manipulação. Já a emissão ilimitada de novos tokens tende a provocar uma diluição em seu valor ao longo do tempo, induzindo-o à desvalorização.

Nesse caso, o exemplo do Bitcoin é bastante claro e efetivo. A maior criptomoeda do mercado foi programada para se tornar mais escassa ao longo do tempo, tendo a sua emissão reduzida pela metade mais ou menos a cada quatro anos em um evento conhecido como halving

Além disso, foi pré-estabelecido em seu código fonte que o suprimento total de Bitcoin será de 21 milhões de unidades. Depois disso, ele deixará de ser emitido, torando-se um ativo efetivamente deflacionário.

7. Exchanges

Das mais de 17.000 criptomoedas existentes mencionadas no começo deste texto, apenas uma pequena porporção está listada nas principais exchanges de criptomoedas centralizadas. Ser listado na Binance ou na Coinbase não é garantia de coisa alguma. Trata-se apenas de um respaldo do mercado que em última instância não elimina os riscos inerentes a esta classe de ativos.

Por sua vez, exchanges descentralizadas (DEX) não exercem nenhum tipo de controle sobre os pares de tokens que são negociados nelas. Basta que haja um provedor de liquidez para formar um pool com dois pares de ativos e caberá aos usuários optar por negociá-los ou não. Ou seja, o nível de risco e insegurança é consideravelmente mais elevado.

Portanto, é recomendável que as primeiras transações de criptoativos de investidores novatos sejam realizadas em exchanges centralizadas. À medida que se ganha experiência nesse mercado é natural utilizar protocolos descentralizados, onde a responsabilidade sobre a custódia e as transações recai exclusivamente sobre o próprio usuário, pois as opções não só de tokens, mas também de instrumentos financeiros, são mais amplas e igualmente mais arriscadas.

Conclusão

Diante da profusão de informações sobre criptomoedas disponível na internet, a capacidade de desenvolver habilidades para fazer a própria avaliação das opções do mercado é fundamental para quem quer ser um investidor de sucesso, que não age por impulso ou por influência de motivações alheias.

Por fim, é importante delimitar claramente objetivos financeiros e tolerância ao risco para desenvolver uma tese sólida de investimento que seja capaz de resistir às incertezas e inevitáveis ciclos de baixa do mercado. Afinal, as decisões sobre o que fazer com o próprio dinheiro são pessoais e intransferíveis, assim como eventuais perdas e ganhos.

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