Associadas a crimes cibernéticos, criptomoedas podem ser a solução para deter ataques de hackers

As criptomoedas estão sob ataque devido à ascensão de criminosos cibernéticos que as utilizam para exigir o pagamento imediato de resgates, mas na verdade a natureza pública e transparente da blockchain facilita o rastreamento de transações ilícitas.

Quanto maior o potencial revolucionário de uma nova tecnologia, mais mal compreendida ela tende a ser. O Bitcoin e as criptomoedas mexem com a natureza do dinheiro, transferindo o poder sobre sua emissão, registro e rastreabilidade de sistemas fechados dominados por grupos pequenos de privilegiados regidos por interesses quase nunca evidentes para comunidades descentralizadas estruturadas em torno de sistemas de incentivo determinados por códigos algorítmicos. Em última instância, é o poder que está em jogo.

Na esteira de ataques hackers como o do sistema de oleodutos Colonial Pipeline, em maio, e o da JBS, em junho, nos quais os criminosos exigiram pagamento de “resgate” em Bitcoin, as criptomoedas toraram-se o alvo preferencial da grande mídia e de autoridades norteamericanas por terem servido aos propósitos escusos dos perpetradores dos ataques. 

Um artigo recente do New York Times chegou ao ponto de sugerir táticas de guerra cibernética para derrubar criptomoedas como o Bitcoin. Há alguns meses atrás, um artigo opinativo do Wall Street Journal intitulado “Banir as criptomoedas para lutar contra ataques cibernéticos”,  colocou a questão em termos extremos: “Podemos viver em um mundo com criptomoeda ou um mundo sem ataques hackers, mas não podemos ter os dois.”

Em uma discussão no Comitê Judicial do Senado dos EUA, o presidente da comissão,  afirmou que as “criptomoedas e o Bitcoin são as moedas por excelência quando se trata de ataques cibernéticos” e em seguida questionou seus pares sobre possíveis formas de solucinar a questão. A resposta de um funcionário do Departamento de Justiça culpou as criptomoedas pelo aumento desse tipo de crime, acresentando que as transações seriam anônimas e irreversíveis: “Depois que passam para as mãos dos criminosos, é muito difícil recuperá-las.”

Como se fosse possível responsabilizar as criptomoedas pelos atos em si, quando na verdade elas serviram apenas como meio de pagamento, intermediando uma negociação entre duas entidades movidas por um conflito de interesses cuja solução final só pôde ser resolvida através do dinheiro.

O fato é que os recentes ataques forneceram munição aos críticos das criptomoedas em um momento em que surgem uma séries de propostas controversas para regulção da indústria. O diretor do FBI Cristopher Wray comparou os ciber-ataques recentes ao 11 de setembro, sugerindo que o campo de batalha está se transferindo para o ambiente digital.

E o ex-subsecretário adjunto do Departamento de Segurança Interna Paul Rosenzweig sugeriu que se a regulação não for suficiente para deter os hackers maliciosos, táticas de guerrilha cibernética deveriam ser usadas para derrubar as criptomoedas, configurando um ataque irrestrito a uma indústria invoadora e aos seus usuários. Escapa à sua compreensão que isso equivaleria a destruir a world wide web no início dos anos 1990 porque os criminosos se aproveitaram do surgimento da rede para inovar em seus expedientes.

Blockchain como arma de combate ao crime

Se a natureza descentralizada, sem intermediários e sem fronteiras, das criptomoedas concederam uma vitória aos hackers no primeiro momento no caso do Colonial Pipeline, devido à rápida transferência dos recursos para as suas carteiras, outros aspectos técnicos da técnicos da tecnologia blockchain acabaram se revelando fatais aos criminosos.

Por se tratar de um registro público e transparente, em que todas as transações são acessíveis e verificáveis por qualquer pessoa conectada à rede, a blockchain permite que as autoridades competentes identifiquem e acompanhem praticamente em tempo real quaisquer movimentações financeiras. Assim, foi possível rastrear e, por fim, apreender os valores pagos aos criminosos. 

Ao fim e ao cabo, os perdedores foram aqueles que agiram fora da lei – e a rápida recuperação dos valores saqueados foi possível porque estava tudo lá na blockchain. As criptomoedas não são anônimas, ao contrário do senso comum. Portanto, devem ser entendidas não como a causa de ataques cibernéticos maliciosos, mas sim como um instrumento importante para minimizá-los e até mesmo erradicá-los completamente.

Na verdade, aliando a natureza pública e transparente da blockchain a ferramentas de análises de dados on-chain, é muito mais fácil rastrear o fluxo de recursos financeiros em redes como a do Bitcoin do que controlar o fluxo de caixa de empresas de fachada instaladas em paraísos fiscais.

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