Grupos extremistas dos EUA crescem usando criptomoedas, abandonam o Bitcoin e preferem o Monero

Dois estudos apresentados ao Congresso dos Estados Unidos mostram como grupos extremistas do país usaram redes sociais e criptomoedas para expandir sua atuação.

Os grupos de extrema-direita dos Estados Unidos faturaram “milhões” usando criptomoedas e redes sociais em 2020, conforme reportagem do The Guardian desta semana.

Segundo a matéria, os grupos que reúnem supremacistas brancos e neonazistas nos Estados Unidos conseguiram arrecadar, usando plataformas de mídia social, sites de financiamento e criptomoedas, mais de US$ 1,5 milhão somente no ano passado.

Dois recentes estudos comandados pelo Global Disinformation Index (GDI) e pelo Southern Poverty Law Center (SPLC) revelaram a ameaça representada pelo crescimento de grupos de “terrorismo doméstico”, como o FBI se referiu a parte dos envolvidos na invasão do Capitólio, em janeiro de 2021.

Os estudos foram apresentados ao Congresso dos EUA no fim de fevereiro e traçou o comportamento de grupos como Oath Keepers, Proud Boys e outras referências do extremismo político do país, com ideologias como supremacia branca, anti-imigração e neonazismo.

Megan Squire, professora da Elon University e membro da SPLC, descobriu que entre abriu de 2020 e fevereiro de 2021 os grupos e indivíduos envolvidos usaram a plataforma de streaming DLive para arrecadar doações de criptomoedas, chegando a US$ 866.700 recolhidos. Ela diz em entrevista:

“A ideia de que vários grupos de ódio podem arrecadar dezenas de milhares de dólares por mês somente usando tecnologias inodadores e reunindo um pequeno grupo de doadores precisa ser assustadora e não pode cair no lugar-comum. É como um canário na mina de carvão (no século XIX, trabalhadores de minas de carvão usavam canários para monitorar a presença de gases tóxicos), e nós o ignoramos por nossa conta e risco.”

A plataforma de streaming DLive diz que proíbe discursos de ódio e incitação de violência em seu conteúdo e que suspendeu a conta de usuários envolvidos na invasão do Capitólio, bloqueando acesso aos “tokens doados por membros da comunidade”.

Além disso, segundo o cofundador do GDI, Daniel Hogers, 44% dos 73 grupos de ódio monitorados eram beneficiários de isenção de impostos pelo IRS a Receita Federal dos EUA, entre eles o Oarh Keepers, fundado pelo propagador de fake news Stewart Rhodes, que fundou uma fundação para conseguir se eximir de obrigações fiscais.

Outros sites, como o neonazista Daily Stormer, também adotaram criptomoedas para receber doações. Recentemente, o site pediu para que os doadores parassem de enviar Bitcoins e passassem a usar a moeda de privacidade Monero, mais difícil de rastrear.

A investigação federal do FBI já processou 300 envolvidos na invasão do Capitólio em janeiro de 2021. Segundo o SPLC, de 2017 a 2019 o número de grupos de supremacia branca dobraram nos Estados Unidos.

Paul Pelletier, ex-diretor da seção de combate a fraudes do Departamento de Justiça dos EUA, diz que uma nova legislação precisa combater “com seriedade o terrorismo doméstico”:

“Rastrear os fluxos de dinheiro que são usados para apoiar o terrorismo doméstico por esses grupos extremistas exigirá uma legislação que proíba o apoio material semelhante às leis usadas com relação a organizações terroristas estrangeiras.”

Na semana passada, o site investigativo norte-americano Proof publicou informações de que o filho do presidente do Brasil, Eduardo Bolsonaro, teria se reunido com lideranças de extrema-direita que participaram dos ataques ao Capitólio no dia da invasão, formando um “conselho de guerra” informal do ex-presidente Donald Trump dedicado a conspirar para o ataque. O deputado federal nega.

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