Trocando Bitcoin ‘do Brasil’ por dólar em Cingapura: Funciona, sim. Mas não é simples como o dinheiro

Usar Bitcoin como moeda e tentar converter ele em dinheiro em outro país não é tão fácil como parece, mas funciona

Muito se fala sobre o uso do Bitcoin enquanto moeda para a compra de produtos e itens no cotidiano, enquanto uns criticam a volatilidade do criptoativo e sua ‘pouca’ adoção entre lojistas outros defendem sua transparência e circulação global. Estou do lado dos que defendem o uso do Bitcoin. Como jornalista do Cointelegraph optei por receber meus rendimentos em Bitcoin. Penso que esta é minha parcela para ‘ajudar’ a movimentar o mercado.

Recentemente tive a oportunidade de participar da BlockShow Ásia 2019, uma conferência sobre Bitcoin e criptomoedas organizada pelo Cointelegraph em Cingapura. Embora a passagem e o hotel tenham sido reservados pelo portal, resolvi que não levaria qualquer dinheiro para a viagem. Queria experimentar como é ‘converter’ o Bitcoin em dólares para usar naquele pais, da mesma forma como fazemos com o Real quando vamos para outra nação, afinal, uma ‘moeda’ deve permitir seu intercâmbio por outro moeda.

Desta forma, comprei cerca de 0.05 Bitcoin aqui no Brasil, usando uma exchange e transferi para minha wallet, na BRD, com o intuito de converter os Bitcoins na moeda local em Cingapura. Antes da viagem pesquisei ATMs, vendedores P2P no país e duas pequenas mesas de OTC.

Tudo estava ‘esquematizado’ e seria tão simples como passar em uma casa de câmbio. Mas não foi.

Chegando no país, devido a agenda da conferência não consegui trocar os Bitcoins ‘logo de cara’, pois como não havia nenhum local no aeroporto teria que me dirigir até um shopping local e, naquele dia não seria possível. Como já tinha hotel reservado, bastava pegar um Uber, pedir algo no Hotel e amanhã tudo se resolvia.

Ai começaram os problemas. Não tem Uber em Cingapura, lá eles usam um Super App chamado Grab que funciona como um Uber, mas também como um iFood, meio de pagamento, Booking, enfim reúne diversas funções, mas…. não aceitou no cadastro nenhum dos ‘cartões cripto’, nem o da Uzzo, nem o da Atar, nem o da Alterbank mas também não aceitou meu cartão do Banco do Brasil.

Sem um ‘puto’ no bolso minha sorte foi que nosso editor, o Gabriel, tinha uma conta no paypal e também havia levado dinheiro em espécie, e conseguimos ir até o hotel.

No outro dia, fui até o ATM de Bitcoin da Daeneys, um dos principais do país e que tinha a melhor avaliação no BitcoinATMRadar. Chegando lá, o ATM estava instalado dentro de um shopping e era muito bonito. Agora só converter meu BTC e já era, sqn.

 

Para acessar o serviço eu precisava fazer um cadastro usando meu número de telefone, contudo, o ATM não aceitava telefones que não fossem da região Ásia-Pacífico, resultado, não consegui ‘converter’ o Bitcoin.

Entrei em contato com os p2p que havia conversado anteriormente pela internet, também sem sucesso. Só aceitavam fazer a compra com depósito em conta. Mas eu não moro em Cingapura e não tenho conta bancária no país, então, vender o BTC com depósito em conta não resolveria nada.

Procurei as mesas de OTC mas o valor, 0.05 BTC era pequeno para elas. O mínimo era 0.5 BTC. Resultado. Com ‘dinheiro’, mas sem dinheiro.

Liguei para o suporte da Daeneys, foram muito atenciosos e me orientaram a tentar ‘um amigo’ que tivesse um telefone com número na Ásia. Liguei para o Alex Ferreira, o Barão do Bitcoin, mas, de novo, nada. Tentamos registrar o número dele, mas, na hora de fazer uma foto para o KYC o sistema acusava um ‘problema’ e não concluía o cadastro.

Liguei novamente para o suporte do ATM e ele me orientou a procurar outro caixa eletrônico da rede em um outro shopping ‘ali perto’ e que ficava dentro de uma loja de ouro. Lá o atendente da loja iria me auxiliar. Fui, só que o ‘ali perto’ era cerca de 3 km de onde eu estava. Caminhando, fui até o lugar. Adendo: o calor em Cingapura faz o Ceará parecer o Alasca.

Chegando no local, o atendimento foi excelente e o rapaz usou um conta dele para me ajudar.

Selecionei a moeda correspondente, eles aceitam Bitcoin e Ethereum. Após selecionar você escolhe a quantidade de dólares de Cingapura que deseja receber e não a quantidade de Bitcoin que deseja vender, segundo o atendente, isso ocorre por conta das notas no ATM afinal, se a conta não for ‘redonda’ não há notas ou moedas para atender a solicitação.

Selecionamos 500 dólares de Cingapura, o que, naquele dia, foi equivalente a 0.045429 Bitcoins. Ao concordar com o valor e com a venda, o ATM imprime um cupom com os detalhes da transação e um QR code contendo o endereço para enviar os BTC. O valor tem que ser transferido em até 15 minutos para o endereço indicado pelo ATM.

 

 

Usando a minha wallet tranferi os BTC para o endereço. Você deve transferir o valor indicado no papel, sem precisar descontar as taxas. Além disso é necessário selecionar a taxa de confirmação alta, afinal, se a transação não for confirmada em até 15 minutos o BTC volta para a wallet e o processo tem que ser refeito.

Confirmada a transação no tempo indicado, é preciso voltar ao ATM junto com o comprovante impresso, fazer login novamente no caixa eletrônico e selecionar “redeem ticket’, e então posicionar o QR Code do ticket na máquina. Feito isso, o dinheiro é liberado.

Resultado: Funciona? Sim, funciona. É fácil como dinheiro? Não.

Qual a maior vantagem em relação ao dinheiro convencional? Nenhuma. Sinceramente para quem, assim como eu, vai gastar apenas para comer, pagar táxi e comprar aquelas bugigangas que não servem para nada, não há nenhuma vantagem frente ao dinheiro ‘convencional’. Desvantagem? Sim, como narrei, há várias.

Vou usar novamente? Provavelmente sim.

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