‘Metaverso é o lugar onde as pessoas podem ser quem elas não conseguem ser no mundo real’, diz especialista brasileiro

Gerente de marketing do grupo que reúne a Mymax, a Draxen e a Myatech, Edson Ogata acredita em um futuro em que múltiplos metaversos vão coexistir para atender os desejos e as necessidades dos usuários.

Universos paralelos povoam a imaginação dos seres humanos desde os tempos remotos sob a forma de mitos e lendas. Antes inacessíveis exceto através da imaginação, eles agora parecem estar próximos de se integrar à realidade do mundo físico e fazer parte do dia a dia das pessoas. Eis a promessa do metaverso. Trata-se de uma tecnologia cujo poder disruptivo é evidente, mas suas potencialidades ainda estão por ser exploradas e descobertas.

Edson Ogata, gerente  de marketing do grupo que reúne a Mymax, a Draxen e a Myatech, vem coordenando estudos sobre as múltiplas formas de interação das empresas com os clientes nestes novos ambientes digitais.

Em entrevista ao Cointelegraph Brasil, Ogata afirmou que a característica fundamental destes universos paralelos virtuais emergentes é que neles as pessoas poderão projetar todos os seus desejos em avatares digitais para “para ser aquilo que elas não conseguem ser no mundo real”:

“Imaginemos o metaverso como um portal convidativo para um novo universo virtual, onde o usuário pode criar seu próprio avatar com características físicas, gostos pessoais, tamanhos de roupas e calçados, onde suas informações de geolocalização podem ser acessadas com facilidade.”

Ogata acredita que o metaverso é um conceito que se popularizou em função do reposicionamento de marca do Facebook, agora intitulado Meta, mas na verdade trata-se de uma nova etapa da evolução da internet na qual, cada vez mais, grande parte de nossas vidas vai ser de fato vivida on-line.

A primeira fase da internet proporcionava experiências passivas aos usuários e a rede era vista antes como mais um meio de comunicação, cujas atenções eram divididas com as mídias impressas, o rádio, o cinema e a televisão. Na segunda fase, a internet se converte em um veículo que agrega todas as formas de comunicação, abirndo canais diretos de interação entre os usuários. Ao transferir todas as experiências para um único meio digital e imaterial, ela contribui para dissolver antigas hierarquias.

A próxima fase será marcada por experiências imersivas proporcionadas pelos avanços tecnológicos de hardware e de software, afirma Ogata:

“Eu a comparo com uma grande malha rodoviária, que nos conecta a diversos lugares, nos permitindo trafegar com o veículo que desejamos, partindo e chegando quando e como quisermos. Em seus primórdios, tinha-se uma ideia de que era uma espécie de lugar ou uma plataforma onde encontrávamos informações, lazer, entretenimento etc. Hoje a internet está mais para um meio, um caminho, onde temos livre acesso para ir e vir de onde quisermos. De uma certa maneira o metaverso é sim uma grande evolução da internet, onde antes ela aparentava ser um lugar, depois um caminho e agora um universo, com possibilidades inimagináveis de lazer, entretenimento e negócios.”

Se, hoje, a maior parte das pessoas ainda dedica seus dias a atividades off-line, no futuro a proporção se inverterá. A pandemia do coronavírus antecipou esta tendência. Daqui a alguns anos, olhando em retrospecto, terá sido inevitável, acredita Ogata. 

Ele lembra a experiência do Second Life no começo dos anos 2000 para afirmar que o desejo de vivenciar uma realidade paralela em ambientes digitais talvez seja mais antiga que a própria internet: o sucesso dos videogames seria uma evidência irrefutável deste fato.

Ogata justifica o fracasso do Second Life por deficiências de seu sistema econômico. Embora tivesse sua própria moeda virtual, o Linden, os usuários do Second Life não dispunham da tecnologia blockchain para validar e facilitar transações, preservação de valor ou um sistema para recompensar os usuários pelo tempo gasto na plataforma.

Adicione-se a isso o fato de que os recursos tecnológicos na época eram bastante precários e não permitiam que as pessoas realmente vivessem uma experiência virtual completa e verdadeiramente gratificante.

O sucesso do metaverso é mais provável, pois muito em breve, a maior parte das nossas atividades diárias poderá ser realizada on-line. Trabalho, educação, entretenimento e lazer poderão ser acessados com ferramentas de realidade virtual ou aumentada através de plataformas diversas.

Ogata acredita em um futuro plural, em que múltiplos metaversos coexistirão atendendo a necessidades e desejos específicos dos usuários. Dificilmente uma única plataforma será capaz de satisfazer a todos, afirma. Portanto não há razão para temer um futuro distópico dominado por corporações opressoras conforme a visão original de Neal Stephenson, o inventor do termo metaverso.

Mais do que uma ameaça à pluralidade, o interesse declarado das big techs pelo metaverso revela que investir em empresas e plataformas focadas na criação de produtos e soluções para ambientes virtuais apresenta uma ótima relação de risco-retorno: a tendência é que os lucros sejam maiores que os prejuízos.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, na semana passada a prefeitura de Uberlândia realizou a primeira reunião do Poder Executivo brasileiro no metaverso, mostrando que a tendência está em alta também aqui no Brasil.

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