Satoshi Nakamoto teria limitado sua capacidade de mineração de Bitcoin para ‘manter a rede viva’, sugere pesquisador

Ao analisar os dados dos Bitcoins minerados por Satoshi Nakamoto, Jameson Lopp concluiu que o criador do BTC poderia ter produzido o dobro de moedas do que de fato acumulou, mas preferiu limitar o seu poder computacional porque jamais quis ter o controle sobre a rede.

Se não existem evidências capazes de revelar a identidade de Satoshi Nakamoto, é possível deduzir os princípios éticos que o guiaram na criação da primeira encarnação realmente bem sucedida de “dinheiro eletrônico” através de seus escritos e de seus atos.

Um novo estudo do programador e bitcoiner Jameson Lopp investiga o comportamento de Satoshi enquanto minerador nos primórdios da rede e conclui que o criador do Bitcoin (BTC) jamais quis ter controle sobre a sua criatura, e, presumivelmente, de se beneficiar dela, visto que os aproximadamente 1,1 milhão de BTCs produzidos por Satoshi jamais foram movidos ou negociados.

Em “Was Satoshi a Greed Miner?” (“Satoshi era um minerador ganancioso?”, em tradução livre, Lopp analisa os blocos minerados por Satoshi sob uma perspectiva computacional para chegar a novas conclusões sobre a personalidade da entidade criadora do Bitcoin.

Ao final, Lopp obtém um afirmativo “não” como resposta, que revela que todos os esforços de Satoshi visavam o crescimento e a manutenção dos princípios de descentralização da rede.

O estudo de Lopp baseia-se em um padrão de mineração intitulado “Patoshi”, que foi identificado e cunhado por Sergio Lerner para referir-se à atividade dos mineradores nos primórdios da rede. De acordo com o padrão, o criador do Bitcoin teria minerado aproximadamente 22 mil blocos entre o bloco gênesis e maio de 2010. O último teria sido o bloco 54.316.

A partir daí, não se sabe se Satoshi abandonou a atividade ou se continuou minerando anonimamente, explica Lopp: “É impossível saber se o software de mineração foi alterado e se tornou indetectável ou se Satoshi continuou a minerar usando o software de mineração disponível publicamente.”

As investigações mostram que o padrão Satoshi de mineração baseava-se em um CPU com um processador quad-core e um cliente Bitcoin modificado. Ele tinha ferramentas que estavam além do alcance das poucas pessoas que mineravam Bitcoin nos primeiros dias e portanto, caso fosse ganancioso, estava em uma posição confortável para obter vantagens, escreve Lopp:

“Era uma posição perigosamente dominante, com mais da metade do hash rate da rede até outubro de 2009.”

Com tais recursos, Satoshi poderia ter “facilmente minerado” o dobro de Bitcoins do que de fato produziu, caso utilizasse os dispositivos de que dispunha com “força total”. No entanto, seu objetivo fundamental era manter “o coração da rede batendo” enquanto ela se encontrava em seus estágios iniciais, diz Lopp:

“Ele não queria estar em posição de dominar poder computacional da rede, mas é provável que ele tenha intuído que isso era algo necessário naqueles primeiros dias, quando a rede era muito mais frágil por ter, ao todo, menos de cinco mineradores em atividade.”

Outra conclusão de Lopp é que Satoshi dispunha de uma única máquina, com uma capacidade máxima de 6 Mh/s, mas o poder computacional médio empregado por ele foi de 4,35 Mh/s. Não apenas isso, Satoshi só perdeu o controle de pelo menos 51% da rede depois de diminuir voluntariamente sua taxa de hash diversas vezes, diz Lopp:

“Podemos observar que a mineração de Satoshi teve 4 comportamentos distintos. Inicialmente, havia um plano de reduzir a taxa de hash em 1,7 Mhps a cada cinco meses, mas um mês após a segunda redução, o método foi abandonado em favor de uma taxa de hash continuamente decrescente.”

Segundo Lopp, isso sugere que Satoshi pretendia abrir mão do controle da rede assim que o poder computacional nela empregado por outros mineradores fosse suficiente para garantir sua segurança a partir da descentralização da taxa de hash. A atitude de Satoshi fica evidente ao observarmos o gráfico abaixo, que contrapõem a taxa de hash do criador do BTC e a do restante da rede.

Taxa de hash estimada de Satoshi Nakamoto em comparação com o restante da rede. Fonte: http://organofcorti.blogspot.com/2014/08/167-satoshis-hashrate.html

Antes de sair de cena, Satoshi lamentou que as entidades da rede estivessem buscando alternativas para gananciosamente aumentar o próprio poder computacional recorrendo ao uso de placas gráficas (GPUs) em detrimento dos computadores pessoais. Satoshi queria que a mineração de Bitcoin fosse acessível ao maior número possível de pessoas.

A eterna e infrutífera busca pela entidade por trás da criação do Bitcoin ganhou mais um novo capítulo recentemente quando o bitcoiner Jim Blasko disse ter conseguido obter dados brutos e arquivos do Bitcoin v0.1, incluindo anotações do próprio Satoshi Nakamoto, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.

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