Relatório desperta polêmica ao sugerir que a blockchain pode não ser tão descentralizada
Documento elaborado por empresa de segurança elencou cenários que sugerem possibilidade de controle excessivo sobre as redes.
Sustentáculo da descentralização, que em boa parte foi responsável pela popularização das criptomoedas, a tecnologia blockchain se transformou em alvo de questionamentos desde o último dia 22, quando foi divulgado um relatório elaborado a partir de pesquisas da empresa de segurança tecnológica Trail of Bits (ToB), encomendado pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (DARPA), do governo dos Estados Unidos. De acordo com o documento, a blockchain possui brechas relacionadas à centralização, o que, para o especialista em tecnologia Rogério Motisuki, não representam riscos à tecnologia.
Em publicação da Exame, Motisuki se referiu às descobertas elencadas no documento, centrado nas redes Ethereum (ETH) e Bitcoin (BTC), principalmente. Entre eles alguns nós desatualizados, pools de mineração não criptografados e a maioria do trafego não criptografado passando por um número limitado de ISPs (Internet Services Providers), o que poderia se traduzir em controle excessivo por parte de alguns atores, com maior poder computacional.
No que se refere aos nós da rede Bitcoin, o relatório apontou que a maioria deles não contribui significativamente para a rede e que uma sub-rede é amplamente responsável pelo consenso e manter a comunicação entre os mineradores, além da desatualização de 21% deles. O levantamento também apontou que um dos protocolos de pool de mineração, o Stratum, não é criptografado e autenticado, o que permitiria ataques maliciosos que poderiam ser deflagrados a fim de “estimar o hashrate e os pagamentos de um minerador no pool” e “manipular as mensagens do Stratum para roubar ciclos de CPU e pagamentos dos participantes do pool de mineração”.
“Olhando para a composição e poder computacional concentrado nas mãos de poucos pools de mineração, realmente a possibilidade de um ataque até existe, mas não há nenhum incentivo econômico para que essas entidades façam isso. Afinal, seria como atirar no próprio pé”, argumentou Motisuki.
Sobre a infraestrutura da rede Bitcoin, o estudo apontou que o tráfego do protocolo não é criptografado e que 60% do trafego atravessa apenas três IPs. Além disso, os pesquisadores argumentaram que a rede de consenso poderia ser inundada por nós maliciosos, controlados por uma única parte, o que é conhecido por “Ataque Sybil”. Isso porque, segundo eles, “a implantação de um novo nó requer apenas uma instância de servidor em nuvem barata” e “nenhum hardware de mineração especializado é necessário.”
“Realmente, a implementação de um nó na rede Bitcoin é uma tarefa relativamente fácil e com um custo baixo. Entretanto, mesmo que a rede fosse inundada por novos nós maliciosos, eles não causariam nenhum efeito negativo, pois não teriam poder suficiente para realizar qualquer coisa do tipo. A rede Bitcoin e os mecanismos de consenso de todos os blockchains foram projetados justamente para evitar essa situação”, rebateu Motisuki.
Em relação à redes que operam sob o mecanismo de consenso de Prova de Participação (PoS), que deverá ser adotado pela rede Ethereum, o especialista reconheceu que a concentração pode acontecer, mas frisou que:
“Há um mecanismo de punição severo com uma trava de tempo, para que haja tempo hábil para detectar tentativas de fraude e aplicar punições”
Longe de questionamentos sobre a eficácia da blockchain, tampouco da baixa do mercado de criptomoedas, especialistas debateram o futuro do fundo a parti das transformações econômicas a partir da tecnologia durante a segunda edição do Nord Experience. Para eles, o inverno cripto vai passar e criptomoedas vão inaugurar uma nova ordem mundial, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.
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