Renovação: Tokens da primeira geração DeFi amargam perdas de mais de 80% em um ano à medida que novas redes e projetos decolam

Tokens de protocolos que foram destaques do verão DeFi, em 2020, estão em declínio apesar de somarem mais de US$ 50 bilhões em valor total bloqueado (TVL) atualmente.

Os ciclos do mercado de criptomoedas costumam ser dinâmicos e a competição entre projetos que muitas vezes apresentam propostas semelhantes tem se tornado cada vez mais acirrada. Em uma questão de anos – ou mesmo de meses – determinados projetos podem ir do sucesso, que no caso significa capacidade de atrair liquidez e crescer em termos de capitalização de mercado e valor total bloqueado (TVL), ao esquecimento, embora na grande maioria das vezes acabem caindo no limbo.

Basta ver que das dez principais criptomoedas do mercado no topo do ciclo de alta de dezembro de 2017 apenas quatro ainda se mantinham no top 10 quando renovaram suas máximas históricas em 2021.

Em 2017, a grande maioria dos projetos de criptomoedas eram meios de pagamento inspirados no Bitcoin (BTC) que tinham a pretensão de superar a criptomoeda original e o Ethereum (ETH) apenas um projeto com grande potencial de desenvolvimento.

Pois em 2020, o Ethereum começou a entregar seus primeiros resultados e foi a partir do substrato oferecido pela rede que surgiram diversos protocolos inovadores que se propunham a reinventar instrumentos financeiros tradicionais a partir dos recursos dos contratos inteligentes.

O verão daquele ano no hemisfério norte foi marcado por um novo modelo de compra e venda de ativos baseado em formadores automáticos de mercado (AMMs). O sistema deu origem à exchanges descentralizadas (DEX), nas quais os próprios usuários eram convidados a prover liquidez nos pares de ativos oferecidos para negociação em troca de uma participação sobre as taxas de transação e a possibilidade de serem recompensados com tokens de governança do protocolo – os sempre aguardados airdrops.

De forma bastante resumida, esta é a história da Uniswap (UNI), cujo modelo de sucesso foi “vampirizado” pela SushiSwap (SUSHI). Na mesma ocasião surgiram os protocolos de empréstimo Aave e Compound (COMP), ambos também baseados em liquidez fornecida pelos próprios usuários e um modelo de compensação semelhante ao das DEX. Também surge naquele momento a primeira stablecoin descentralizada atrelada ao dólar – o DAI.

Apesar do hype inicial motivado pelas campanhas de mineração de liquidez do verão DeFi, esta primeira geração de protocolos de finanças descentralizadas atingiu seu auge em termos de valorização ao longo de 2021.

Hoje, em um espaço de tempo menor do que um ano, estes incumbentes DeFi juntos acumulam um valor total bloqueado superior a US$ 50 bilhões. Nada mal, considerando-se que o TVL total da rede Ethereum está em US$ 137 bilhões, de acordo com dados do Defi Llama. No entanto, apesar de tamanha dominância, os tokens de governança destes mesmos protocolos amargam preços até 80% inferiores às suas máximas históricas.

Em parte, isso pode ser explicado por deficiências no tokenomics, que pode ser entendido como a proposta de geração de valor contida na lógica econômica dos tokens. Embora protocolos como Uniswap, Aave e Yearn.finance (YFI) ofereçam serviços úteis e eficientes para os usuários e capturem boa parte da liquidez disponível no mercado, seus tokens de governança são inaptos para refletir no preço a engenhosidade dos serviços financeiros que os projetos oferecem.

Também ao longo de 2021, não apenas surgiu uma nova geração de protocolos DeFi com propostas inovadoras, mas também novas redes de contratos inteligentes emergiram para roubar participação do Ethereum, pulverizando a liquidez disponível no setor.

Solana (SOL), Avalanche (AVAX) e Terra (LUNA) são três redes em que ecossistemas DeFi autônomos e sustentáveis, com protocolos que oferecem serviços similares àqueles dos incumbentes da primeira geração baseada no Ethereum que surgiram no ano passado e se mantém fortes. Este ano outros concorrentes cresceram, como Fantom (FTM) e Harmony (ONE), e novos surgiram, como o Near Protocol (NEAR) e o Cronos (CRO), contribuindo para o declínio dos tokens da primeira geração de protocolos DeFi.

Desempenho dos principais tokens DeFi desde maio de 2021. Fonte: Trading View

Uniswap (UNI) 

Como mencionado anteriormente, o lançamento da Uniswap v2 em maio de 2020 foi um dos principais catalisadores da explosão do setor DeFi ao permitir trocas de tokens sem permissão ou mediação de intermediários como em exchanges descentralizadas.

Originalmente, os desenvolvedores do projeto não tinham planos de lançar um token de governança. O lançamento e a distribuição do UNI através de um airdrop só aconteceram depois que a DEX sofreu um ataque vampiro da SushiSwap A nova concorrente copiou fielmente a mecânica do protocolo e ofereceu incentivos distribuindo tokens SUSHI para que usuários abandonassem a Uniswap e migrassem para a SushiSwap.

O UNI chegou a figurar no top 10 do ranking de criptomoedas por capitalização de mercado no começo de 2021, mas desde então o token vem perdendo valor e hoje está cotado a US$ 8,87, 80% abaixo de sua máxima histórica de US$ 44,97, registrada em 3 de maio do ano passado, de acordo com dados do CoinMarketCap.

Compound (COMP)

O protocolo de empréstimos descentralizado Compound capturou liquidez do mercado ao promover uma das mais bem sucedidas campanhas de  mineração de liquidez da primeira geração DeFi. Em junho de 2020, o protocolo distribuiu seu token de governança, o COMP para para usuários que em algum momento tivessem interagido com seu dApp.

A iniciativa causou sensação à época porque todos os usuários do protocolo foram contemplados – e não apenas os provedores de liquidez, como era comum até então. Além disso, os incentivos polpudos para quem fizesse yield farming no protocolo contribuíram muito para a expansão de sua base de usuários.

Em pouco tempo, o Compound tornou-se o protocolo de finanças descentralizadas com o maior valor total bloqueado do Ethereum – mais de US$ 20 bilhões em maio de 2021 -, destronando o até então líder MakerDAO (MKR). Com pouco mais de US$ 10 bilhões depositados no protocolo, hoje, o Compound é apenas o sexto colocado em termos de TVL no Ethereum.

Por sua vez, o COMP caiu mais de 88% em relação ao recorde histórico de preço de US$ 911,20, alcançado em 12 de maio de 2021, de acordo com dados do CoinMarketCap.

Yearn.finance (YFI)

O Yearn.finance é um agregador de yield farming que oferece as melhores opções de rendimento aos seus usuários. Sucesso absoluto à época do seu lançamento, o Yearn.finance tornou o seu criador, Andre Cronje, um dos grandes astros das finanças descentralizadas.

O YFI foi lançado em julho de 2020 tendo como inspiração o sucesso da campanha de mineração de liquidez da Compound. A promoção do token do Yearn.finance contou com a participação ativa do seu criador. Na ocasião, Cronje incentivou os usuários do dApp a ganharem o token como recompensa pelo fornecimento de liquidez ao ecossistema do Yearn.finance, ao invés de adquiri-los através de exchanges.

Depois do Yearn.finance, Cronje envolveu-se no lançamento de dois novos projetos DeFi que ganharam bastante destaque entre o final do ano passado e o começo deste ano. O primeiro foi o Keep3rv1 (K3PR), uma plataforma de direcionamento de mão de obra qualificada para o desenvolvimento de projetos que conecta prestadores de serviço e contratantes através de contratos inteligentes. E mais recentemente, o Solidex, um novo modelo de DEX baseado na Fantom que foi responsável por elevar consideravelmente o TVL da rede, à medida que novos usuários foram atraídos ao ecossistema pela possibilidade de ganhar uma participação no projeto.

Enquanto isso, o Yearn.finance é apenas o 13º protocolo da rede Ethereum em termos de TVL, com US$ 2,7 bilhões. No auge, em dezembro do ano passado, esse número chegou a US$ 6,9 bilhões. Atualmente, o YFI está 78,7% abaixo de sua máxima histórica de US$ 93.435, registrada em 12 de maio do ano passado, de acordo com dados do CoinMarketCap.

Aave

O Aave é um protocolo de empréstimos que foi lançado em janeiro de 2017, com o nome de ETHLend. A mudança do nome ocorreu em 2018, mas o protocolo só ganhou vulto durante o verão DeFi ao criar uma modalidade de empréstimos relâmpagos.

Em 2021, o Aave ultrapassou o Compound e tornou-se a maior plataforma de empréstimos descentralizados do Ethereum em termos de valor total bloqueado. Recentemente ele foi implantado nas redes Polygon (MATIC) e Avalanche (AVAX) contribuindo para o aumento da base de usuários e da liquidez em ambas as redes. 

Atualmente, ele é o maior protcolo em operação nas redes da Polygon e da Avalanche e o quinto maior protocolo DeFi cross-chain, com US$ 18 bilhões em TVL. No entanto, este montante já foi muito maior. Em outubro do ano passado, ultrapassou os US$ 32 bilhões.

Cotado a US$ 123,69, o AAVE está 81,47% abaixo do recorde histórico de preço de US$ 666,86, registrado em 18 de maio de 2021, de acordo com dados do CoinMarketCap.

MakerDAO (MKR)

O MakerDAO foi o primeiro protocolo do Ethereum a permitir que os usuários emitissem uma stablecoin descentralizada utilizando ETH como garantia. Por um bom tempo o DAI foi a maior stablecoin descentralizada em termos de capitalização de mercado, mas recentemente perdeu a primazia para o TerraUSD (UST), stablecoin emitida pelo Terra. 

Ainda assim o MakerDAO é o segundo maior protocolo DeFi, com US$ 15,5 bilhões em valor total bloqueado, muito próximo do Curve (CRV), que ocupa a liderança.

No entanto, atualmente o MKR está cotado a US$ 1.803, 71% abaixo da máxima histórica de US$ 6.339, registrada em 3 de maio de 2021, de acordo com dados do CoinMarketCap.

Curve (CRV)

A Curve é uma exchange descentralizada para swaps de stablecoin a taxas baixas que emergiu em 2021 como o principal protocolo DeFi em termos de TVL. O auge foi registrado já em janeiro deste ano, chegando a mais de US$ 24,1 bilhões.

O crescimento da liquidez e de sua base de usuários foi impulsionado por implementações em redes de primeira e de segunda camada com taxas de transação de baixo custo. O lançamento do Convex Finance no segundo semestre do ano passado reforçou o crescimento do protocolo. O Convex Finance é um protocolo que oferece rendimentos aos provedores de liquidez do Curve e para os detentores de CRV.

A expansão do ecossistema Curve também gerou ganhos significativos para os detentores de CRV: o token acumulou ganhos de 380%, saltando de US$ 1,36 para US$ 6,51 entre julho do ano passado e os primeiros dias de janeiro deste ano. No entanto, grande parte destes ganhos foram rapidamente anulados depois que o CRV caiu 63% desde então e hoje está cotado a US$ 2,25, de acordo com dados do CoinMarketCap.

Enquanto os tokens da primeira geração DeFi acumulam perdas severas desde as altas históricas de maio de 2021, dois tokens do ecossistema Terra estão entre os de melhor desempenho no mercado em um momento de forte instabilidade motivada pela turbulência geopolítica no leste europeu e o cenário macroeconômico desfavorável, com a inflação dos EUA em alta e a iminência do primeiro de uma série de aumentos da taxa de juros sinalizada pelo presidente do FED Jerome Powell nesta semana.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o Anchor Protocol (ANC) registrou ganhos de 300% em um mês, e o LUNA, token do Terra, valorizou-se em 75% em fevereiro.

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