Apenas 1% das investidoras no Brasil alocam capital em criptomoedas; especialistas avaliam

Dados do Raio X do Investidor apontam que mulheres prezam por segurança na hora de investir, o que pode estar distanciando o público feminino dos ativos digitais

Apenas 1% do público feminino investe em criptomoedas, apontam dados da 6ª Edição do Raio X do Investidor, publicado pela ANBIMA. O percentual do público masculino é de 5%. O principal motivador para a pouca presença das mulheres como investidoras no mercado cripto é a preferência por investimentos mais seguros.

Fontes ouvidas pelo Cointelegraph Brasil avaliam que regulamentação e educação podem reduzir a lacuna entre a presença masculina e feminina no mercado de ativos digitais.

Preferência por segurança

Segurança é tida como a principal vantagem ao se aplicar em ativos financeiros por 47% das investidoras, aponta o Raio X do Investidor. Entre os homens, o percentual cai para 41%. Na mesma linha, o retorno financeiro nos investimentos é o mais importante para 30% dos homens, enquanto 23% das mulheres dão a mesma importância para ganhos expressivos na hora de investir.

É natural, portanto, que mulheres não sejam atraídas por ativos caracterizados por alto risco e alta recompensa, como é o caso das moedas digitais. Soma-se à volatilidade o fato do mercado cripto, até então, não possuir regras claras, avalia Inaiara Florêncio, Head de Conteúdo e Marketing de Influência do Mercado Bitcoin (MB).

Apesar da sanção presidencial que deu luz à Lei 14.478/2022, em dezembro do ano passado, o mercado aguarda a definição de regras. Essa lacuna regulatória pode criar incertezas e riscos adicionais para investidores, fazendo com que as mulheres sejam mais cautelosas quando o assunto é investir no mercado de ativos digitais, acrescenta Florêncio.

O que pode ajudar a sanar as incertezas, além da regulamentação, é a democratização da informação, diz a Head de Conteúdo e Marketing de Influência do Mercado Bitcoin. 

“[Essas medidas] podem ajudar a aumentar a confiança das mulheres em investir em criptoativos. Bem como, a criação de comunidades inclusivas, a promoção de programas de capacitação e mentoria para mulheres e o reconhecimento de líderes femininas no setor também são importantes para criar um ambiente mais diverso e inclusivo que converse com esse público”, afirma Florêncio.

Para Carolina Correia, Head de Operações da Coinext, o mercado de ativos digitais evoluiu nos últimos anos em relação à difusão de conteúdos sobre educação financeira. As estratégias de diversificação do público alvo, no entanto, ainda precisam de atenção, salienta Correia.

“Eu acredito que a educação em finanças e tecnologia trarão um maior equilíbrio entre os perfis de investidores. Muitas pessoas não investem em criptomoedas por falta de informação e regulação neste mercado”, diz Correia.

A Head de Operação da Coinext cita ainda dados do IPEA, afirmando que número de mulheres que possuem menor tolerância ao risco em investimentos é alto (42%), e cerca de 45% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. “Isso contribui para a participação menor de investidoras em criptomoedas”, acrescenta.

Quanto ao processo regulatório, Correia avalia que a criação de regras podem causar um crescimento no número de mulheres investindo em ativos digitais. “Tendo em vista que as mulheres prezam mais por segurança nos investimentos, a regulamentação, aliada a uma maior difusão do conhecimento sobre este mercado, torna mais atrativo o investimento em criptomoedas, trazendo mais mulheres investidoras.”

Entrada do mainstream ajuda?

Outro dado que pode explicar a falta de mulheres investindo em criptomoedas é a confiança nas instituições bancárias. Aplicações através do aplicativo do banco é a forma preferida de 45% das mulheres na hora de investir, e outros 40% afirmam consultar a gerência de sua agência sobre os melhores investimentos.

As mulheres tendem a investir em empresas nas quais confiam, diz Carolina Correia, da Coinext, citando dados de uma pesquisa feita pela gestora BNY Mellon Investment Management em 2022. 

“Se tratando de dinheiro e investimentos, essa relação de segurança e confiança pode ser gerada pelo contato pessoal, por isso, as mulheres preferem conversar pessoalmente com o seu gerente para decidir o melhor produto para investir”, avalia Correia. Ela salienta, no entanto, que “vivemos a era da transformação digital”, na qual cresce a popularidade de mega aplicativos e bancos digitais.

“A inclusão de criptomoedas em fintechs já consolidadas em outros mercados, como Nubank e 99pay, e por empresas tradicionais como BTG Pactual e Itaú, democratizam o acesso ao mercado cripto e aumentam a relação de confiança e proximidade com este mercado e com as próprias exchanges, que tende a trazer novos perfis de investidores, reduzindo a disparidade de presença do público masculino e feminino”, acrescenta a Head de Operações da Coinext.

Rai Auad, educadora Web3, palestrante e criadora de conteúdo, também acredita que a entrada de instituições financeiras tradicionais no mercado cripto pode mudar a percepção do público sobre esses ativos.

“A oferta desse tipo de serviço por bancos estabelecidos acaba transmitindo uma maior segurança ao público, o que, por consequência, pode resultar em uma adesão mais abrangente de pessoas que não têm a confiança de investir em criptoativos de forma direta”, diz Auad. “Acredito que isso tem o potencial para impactar de maneira positiva a redução da disparidade entre homens e mulheres em investimentos em cripto.”

A consequência de igualar a proporção entre homens e mulheres investindo em cripto é o direcionamento para uma sociedade mais igualitária e justa, “onde todos têm a oportunidade de aproveitar os benefícios oferecidos por esse mercado”, avalia a educadora.

Na mesma linha, Inaiara Florêncio, do MB, acredita que a oferta de produtos envolvendo criptomoedas por parte de instituições financeiras tradicionais poderia tornar esses ativos mais acessíveis ao público feminino. Ela pondera, entretanto, que isso não é o suficiente para garantir a equidade de gênero na participação no mercado.

“É preciso que essas instituições e as da nova economia digital também promovam a inclusão e diversidade, criando iniciativas para mulheres e oportunidades de capacitação e educação sobre criptoativos, bem como reconhecer e valorizar as mulheres como investidoras e criadoras de negócios, promovendo a igualdade de oportunidades e combatendo a discriminação de gênero”, conclui Florêncio.

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