O que as opções de bitcoin e ether nos dizem sobre a maturidade do mercado
por Lawrence Lewitinn*
Em uma das cenas mais icônicas da história da TV americana, Jan Brady reclama com seus pais sobre toda a atenção que sua irmã recebe. “Marcia, Marcia, Marcia… Estou cansada de ficar na sombra de Marcia o tempo todo”, lamenta Jan para sua mãe no episódio 10 da terceira temporada de “The Brady Bunch”, de 1971.
Hoje, alguém poderia ouvir quase a mesma coisa do ether sobre o bitcoin. Afinal, o ether subiu cerca de 500% desde 1º de janeiro de 2021, enquanto o bitcoin apenas dobrou nesse período. No entanto, é o bitcoin que tem curso legal em um país e vários fundos negociados em bolsa (ETFs). Entre outras coisas mais.
Embora eles estejam na mesma classe de ativos, comparar o bitcoin com o ether é equivalente a comparar maçãs com laranjas para aqueles com mais do que um entendimento superficial do mundo cripto. Acontece que os mercados de derivativos concordam com a diferença em pelo menos uma maneira sutil: o volume relativo de opções de ether para o mercado à vista em comparação com o de bitcoin.
Isso é importante porque um maior volume de opções em relação ao mercado à vista é um sinal de um mercado maduro e pode ajudar na descoberta de preços.
Com certeza, tanto o ether quanto o bitcoin mostraram um crescimento surpreendente em seus mercados à vista e de opções no ano passado.
Em outubro de 2020, as negociações à vista de ether geraram uma média de 93 milhões de dólares por dia divididos em sete corretoras principais, e um ano depois, essa média diária era de 1,6 bilhão de dólares, de acordo com números compilados pela provedora de dados Skew. Enquanto isso, os volumes diários de opções saltaram para 335 milhões de dólares, saindo de meros 23 milhões de dólares no ano anterior.
[As sete corretoras do mercado à vista de bitcoin e ether rastreadas foram Bitstamp, Coinbase, FTX, Gemini, ItBit, Kraken e LMAX Digital. Embora corretoras como a Binance não tenham sido incluídas, ainda é possível ter uma noção do tamanho relativo de cada mercado à vista.]
O mercado de bitcoin era o maior desde o início. A média do volume à vista diário de outubro de 2020 foi de 395 milhões de dólares, enquanto a do mercado de opções foi de 206 milhões. 12 meses depois, o valor era de 2,2 bilhões e 989 milhões de dólares, respectivamente.
Ainda assim, quando se trata de crescimento, o ether foi o mais impressionante dos dois. Seu mercado à vista cresceu cerca de 16 vezes em um ano e seu mercado de opções quase 15 vezes. Os números do bitcoin cresceram “apenas” 5,7 e 4,8 vezes, respectivamente. Isso é um sonho para qualquer outro mercado, exceto para o ether.
É tudo relativo
No entanto, ao olhar para esses números, o tamanho relativo do mercado de opções de cada moeda para seu mercado à vista se destacou.
Novamente, os dados pontuais que examinamos são apenas de algumas corretoras onde os ativos são negociados. No entanto, essas são algumas das maiores corretoras do mundo e seus dados são geralmente confiáveis. Portanto, eles foram úteis para dar uma ideia do que está acontecendo nos mercados.
Voltando a meados de junho de 2020 até agora, os volumes de opções de bitcoin alcançaram em média 45% do mercado à vista, enquanto era de apenas 20% para o ether. Isso não quer dizer que permaneceu nesse nível.
Apenas observando, você verá que os volumes de opções de bitcoin em relação ao mercado à vista ficaram dentro de uma faixa entre 30% e 50% desde junho. O mercado, é claro, teve um grande pico de opções em abril, onde quase rivalizou com o mercado à vista, superando-o em 8 de abril. O mercado de opções de ether parece ter faixas mais modestas, geralmente ficando entre 15% e 25% nos últimos cinco meses ou mais.
Para aqueles que se importam, o desvio padrão para a proporção de bitcoin foi de 17%, e 5% a menos para o ether desde junho de 2020.
Claro, ainda estamos nos estágios iniciais do mercado cripto de derivativos. Uma corretora, a Deribit, tem a maior parte das negociações de opções de bitcoin e ether. “Ainda está no começo”, disse Luuk Strijers, diretor comercial da Deribit, acrescentando sua previsão de que o crescimento será rápido, pois o mercado ainda está amadurecendo.
Stephen Ehrlich, CEO da corretora Voyager Digital, concorda, dizendo que as opções de criptoativos estão em patamar semelhante às opções de ações há duas décadas, mas acabarão por alcançá-las. “Acho que é apenas uma questão de tempo”, disse ele ao programa “First Mover” da CoinDesk TV na sexta-feira, 5. “À medida que esses produtos se tornam mais fáceis de obter e comercializar, você verá esse volume crescer. Mas ainda faltam alguns anos para isso acontecer”.
E nesse mercado ainda em desenvolvimento, é o bitcoin que é a irmã mais velha. Isso nos leva de volta ao Brady Bunch.
Dores de crescimento
Para quem não memorizou esse episódio, Jan escondeu os troféus de Márcia no armário por ciúme.
“Toda vez que Márcia se vira, eles entregam a ela um prêmio ou algo assim”, lamenta Jan para sua mãe, Carol. “Tudo o que eu ouço o dia todo na escola é como Márcia é ótima nisso, ou como Márcia fez aquilo muito bem”.
“Jan, você não está à sombra de ninguém”, Carol consola sua segunda filha. “Márcia é três anos mais velha que você. Por isso ela tem mais para mostrar de si mesma”.
Olha, há muito mais neste episódio, onde Carol diz a Jan para sair e fazer algo especial, e Jan escreve algum ensaio para um concurso e se gaba de ter vencido quando ela não ganha e … Esse não é o ponto.
A questão é que o bitcoin é a Márcia aqui. É seis anos mais velho que o ether. Ele naturalmente deve ter mais a mostrar de si mesmo, incluindo mais volume de opções em relação ao seu mercado à vista do que o ether.
E todas as outras criptomoedas por aí têm suas próprias coisas acontecendo, assim como cada um dos Bradys – não tenho certeza de onde Alice, a governanta, se encaixa, mas ela pode ser a XRP.
Eventualmente, eles amadurecerão. O filho mais velho dos Brady tem 67 anos e o mais novo agora tem 60. Isso acontecerá no mundo cripto e podemos esperar que seus mercados de opções também cresçam. Só espero que eles não façam um episódio dividido em três partes no Havaí.
*Lawrence Lewitinn é editor da CoinDesk desde 2019. Jornalista especializado em finanças, atuou como trader em Wall Street e como jornalista em veículos como CNBC, TheStreet, Yahoo e The Observer. Ele não tem criptomoedas.
Texto traduzido por Mariana Maria Silva e republicado com autorização da Coindesk. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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