Mineradores de Ethereum apostam milhões em atraso da atualização ‘London’

As principais empresas de mineração de bitcoin e fabricantes de equipamentos voltados para a atividade estão aumentando seus investimentos na mineração de ether, mesmo com a iminente mudança do mecanismo de consenso da rede para o proof-of-stake.

As empresas de mineração de bitcoin Hut 8 e Hive estão aumentando suas capacidades para minerar a segunda maior criptomoeda do mundo em valor de mercado. Enquanto isso, fabricantes de equipamento como a Bitmain e Innosilicon já estão preparadas para lançar novas máquinas para mineração na rede Ethereum até o final do ano.

Tal investimento pode parecer estranho, já que o mecanismo de consenso da rede Ethereum migrarará do proof-of-work (PoW) para o proof-of-stake (PoS) em cinco meses, e o processo de mineração após essa mudança não necessitará de máquinas tão avançadas como essas. A demanda crescente pode ser atribuída à expectativas de que a migração será postergada, segundo profissionais da indústria.

“Nos informaram que a mineração iria acabar há quatro anos e ainda estamos aqui”, disse Mark D’Aria, CEO da Bitpro, uma empresa norte-americana de consultoria cujo foco é a corretagem e gestão de hardware de mineração na rede Ethereum. “Sempre foi uma abordagem ‘esperar para ver’ – as coisas tendem a demorar mais do que todo mundo pensa”.

Enquanto a atualização “London” faz com que a rede se aproxime mais da Ethereum 2.0, avanços significativos através dos seis anos da blockchain também possuem um histórico de diversos atrasos.

Por exemplo, a atualização “Constantinople” – que foi um passo importante no caminho para a Ethereum 2.0 – teve seu lançamento originalmente agendado para o começo de 2018. No entanto, um bug no código atrasou a implementação até fevereiro de 2019, criando mais camadas para a migração.

Congelando a mineração com a “Era do Gelo”

A proposta de melhoria da rede Ethereum (EIP) 3554 introduziu a bomba de dificuldade que adiciona mineradores artificiais para aumentar a dificuldade de mineração, tornando as operações menos lucrativas. Esse ponto foi chamado de “Era do Gelo”. Desenvolvedores da rede apresentaram inicialmente a EIP em 2015, mas acabaram adiando para dezembro de 2021.

Conforme o preço do ether sobe, pode se tornar mais difícil para transicionar a rede para a prova de participação, disse Ethan Vera, COO da Luxor em Seattle.

“Nós vemos o ether subindo para a faixa dos 3 mil dólares, o sistema de finanças descentralizadas (DeFi) é construído por cima da rede e (NFTs) decolaram”, disse Ethan Vera. “Mesmo aqueles que são otimistas quanto à transição da rede Ethereum para POS ainda querem ir devagar para ter certeza que as coisas serão feitas da forma correta e que não restam dúvidas, armadilhas ou pontos cegos que os desenvolvedores possam estar deixando passar.

Além dos desafios técnicos e problemas de segurança dos ativos na rede Ethereum, uma potencial resistência da comunidade mineradora poderia ser outro fator que desaceleraria a migração da rede para POS.

“Uma coisa que não foi realmente compreendida é quanta resistência haverá para essa migração”, disse D’Aria. “Pensar que irão apenas apertar um interruptor e desligar bilhões de dólares de mineradores, é loucura, não vai acontecer”.

Players institucionais

A mineração na rede Ethereum tem mais indivíduos e menos mineradores em larga escala do que na rede Bitcoin.

Um consumo de energia relativamente baixo comparado ao gasto pelos mineradores de bitcoin combinado com pequenas quantidades de calor e ruído vindos dos equipamentos de mineração da Ethereum tornam possível minerar ETH em unidades de processamento gráfico (GPUs) em casa, disse Ethan Vera.

Mais de 90% das máquinas de mineração de ether são baseadas em GPUs, que também é um hardware comum para os gamers, disse D’Aria.

No entanto, os pesos-pesados da mineração de criptomoedas se movimentam para entrar na indústria e fazer lucros maiores do que teriam com a mineração de bitcoin.

A sociedade anônima de mineração de criptomoedas Hive Blockchain declarou ter se tornado a maior mineradora pública da Ethereum no mundo, com 3.383 GH/s, o que corresponde a 1,3% do total da taxa de hash para a rede no momento, de acordo com um relatório financeiro da Hive em outubro de 2020.

A companhia situada em Vancouver busca subir a taxa de hash da mineração na rede Ethereum para 5.500 GH/s até o final do ano, o que corresponde a um aumento de 62,5%. A Hive adquiriu em fevereiro um centro de dados de 50 megawatts em Nova Brunswick, no Canadá, que pertencia à GPU One.

Outra sociedade anônima de mineração de criptomoedas, a Hut 8, comprou da fabricante Nvidia 30 milhões de dólares em máquinas especializadas na mineração de ether no mês de maio.A companhia disse que todas as máquinas de mineração serão entregues e instaladas até o final de agosto e planeja ter uma taxa de hash de 1.600 GH/s com usabilidade de energia de 4MW.

“Essa transação serve para fortalecer o objetivo da Hut 8 de aumentar a diversificação de renda e gerar um crescimento de receita à curto e longo prazo em 2021”, disse a companhia.

Diferentemente de companhias que mineram somente o bitcoin como a Marathon e a Riot, empresas como a Hut 8 têm um mandato para utilizar energia subutilizada ou estagnada e torná-la energia de computação e prêmios, de acordo com Ethan.

“Eu acho que as empresas que estão entrando na mineração da Ethereum agora nos 45 do segundo tempo buscam um cenário maior onde elas podem capitalizar sua energia de computação”, disse Ethan. “As criptomoedas são uma única vertical de muitas que elas iriam perseguir”.

Rendimentos mais rápidos

Máquinas de mineração mais poderosas estão vindo para o mercado, o que encurta o período de retorno em tais operações e aumenta os lucros.

As máquinas especializadas na rede Ethereum, também conhecidas como circuitos integrados de aplicação específica (ASIC), são idealizadas por fabricantes como a Bitmain especificamente para mineração, onde a maior parte das GPUs são feitas a partir da reutilização de placas gráficas utilizadas para jogos.

A Nvidia anunciou sua primeira máquina de mineração na rede Ethereum no começo de 2021, enquanto a Bitmain e a Innosilicon estão preparadas para entregar seus novos modelos para minerar na Ethereum até o final do ano.

A fabricante iPollo arrecadou mais de 200 milhões de dólares com a pré-venda do seu último modelo de ASIC da Ethereum, que será entregue no quarto trimestre de 2021, disse Paul Yao, vice-presidente de desenvolvimento de negócios globais na iPollo. A empresa pretende aumentar a produção quando tiver capacidade, e poderá produzir máquinas de mineração por todo o ano de 2022, de acordo com Yao.

A companhia, situada em Singapura, irá montar um escritório nos EUA em 2022 e mudar seu foco do mercado chinês para o americano, “Nós verificamos uma crescente demanda na América do Norte e em alguns dos mercados asiáticos”, disse Yao.

“Com um retorno de investimento nas ASIC/GPUs dentro de cinco ou seis meses, e o fato de que provavelmente o ETH 2.0 demorará mais do que isso, eu posso entender a razão pela qual a maioria aceita o risco, especialmente com os preços estando tão fortes”, disse Azam Roslan, da Wattum, empresa de gestão e corretagem de máquinas de mineração de criptomoedas em Nova Iorque.

Ethan Vera prevê que o período de retorno para a mineração na rede Ethereum pode ser tão curto como quatro meses, se os mineradores utilizarem a última geração de ASICs. “Para a mineração de bitcoin, dependendo do preço que estão pagando pelas operações, as sociedades anônimas esperam um ano pelo retorno”, disse Ethan.

Em comparação, algumas das placas de GPU pré-existentes para a mineração na rede Ethereum, como a GPU 3070 produzida pela Nvidia, ainda necessita de aproximadamente 18 meses para que os mineradores consigam cobrir todos os custos, disse Arseni Grusha, CEO da Wattum.

“Você quer que o período de retorno fique abaixo dos 12 meses, significando que ou o valor do ether sobe, ou os preços da GPU têm que cair”, disse Grusha. “Não esperamos que os preços da GPU caiam, e mesmo que o ether suba até 4 mil dólares, a criptomoeda teria que permanecer nessa faixa de preço para que o retorno de investimento seja atrativo”.

Margens de lucro

Fortes preços de mercado e custos de operação relativamente baixos estão entre as principais justificativas para que desde o ano passado a mineração na Ethereum gere mais lucros do que a mineração de bitcoin.

Enquanto a atualização “London” permitiu que a rede Ethereum queimasse uma parte das taxas que seriam pagas aos mineradores, a mineração aparenta estar ainda mais lucrativa desde o hard fork graças ao preço do ether.

A renda diária – em dólares americanos – de mineradores aumentou 7,1% e atingiu a maior alta dentro de dois meses, segundo dados da Coin Metrics. Desde a atualização, a rede queimou aproximadamente 33% da expansão no abastecimento, que correspondem a 22.708 unidades de ether ou 76,1 milhões de dólares.

Além de taxas prioritárias (taxa de abastecimento menos a taxa base de queima), os subsídios de blocos (similares aos prêmios de blocos da rede Bitcoin) e o valor máximo e extração (MEV) são as outras duas fontes de renda para mineradores. O MEV é a quantidade de dinheiro que um minerador da rede Ethereum pode fazer ao ajudar operadores a inserir, omitir ou reorganizar as transações de um bloco.

“Depois da EIP 1559, nós ainda conseguimos o MEV, duas unidades de ether a partir de subsídios de blocos e um pouco de taxa de abastecimento de algumas carteiras”, disse D’Aria. “Então isso não é realmente uma questão tão importante”.

Mineradores já estão esperando que as taxas de abastecimento caiam no longo prazo conforme sejam lançadas mais soluções escaláveis na rede, o que iria reduzir as taxas de transação e o congestionamento, disse D’Aria.

As finanças descentralizadas (DeFi) sofreram crescimento explosivo no último inverno por conta de um novo mecanismo de recompensa para investidores que utilizam os protocolos DeFi, onde podem ganhar novos tokens, além dos retornos de depósitos. A maior atividade de negociação através de protocolos diversos na Ethereum aumentou drasticamente as taxas de transação, que são pagas aos mineradores por seu trabalho ao validar transações.

“Você ganha duas unidades de ether dos subsídios de blocos, e mais cinco ou sete das taxas”, disse D’Aria sobre a alta nas taxas a partir do boom dos protocolos DeFi. Todavia, com volumes de transação menores em DeFi, as taxas de abastecimento caíram para os mineradores da rede. “Isso foi uma anomalia e os mineradores pretendem aproveitar enquanto dure”.

A mineração na rede Ethereum tende a ter baixos custos de operação comparados à rede Bitcoin. Enquanto as GPUs são caras e necessitam de mais trabalho para funcionar, o baixo consumo de energia poderia compensar tais custos e tornar o custo geral ainda mais baixo que o da rede Bitcoin, disse Ethan Vera.

Ninguém sabe a data exata da migaração histórica da rede Ethereum para POS, mas um investimento no em mineração na rede no tempo certo pode trazer grandes lucros, disse Vera.

“Os mineradores que apostaram contra a prova de participação há dois anos acertaram bastante”, disse Ethan. “Se você puder apostar contra isso, o retorno pode ser bem lucrativo”.

Texto traduzido e republicado com autorização da Coindesk

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