Remessas do exterior batem recorde no Brasil em 2021 e criptomoedas podem ser alternativa eficaz e mais barata para transferências

Crise econômica, desvalorização do real, pandemia e emigração fazem remessas de dinheiro do exterior chegarem a 15,9 bilhões apenas entre janeiro e setembro deste ano, um crescimento de 18% em relação ao mesmo período em 2020.

Contabilizando apenas o período de janeiro a setembro deste ano, as remessas de dinheiro do exterior com destino ao Brasil já somam R$ 15,9 bilhões (US$ 2,84), maior valor da série histórica que teve início em 1995, de acordo com números divulgados pelo Banco Central, informou reportagem da revista Época. O total parcial de recursos enviados ao país em 2021 é 18% maior do que no mesmo período no ano passado.

Em 2020, o total de entradas no país foi de US$ 3,31 bilhões em transferências pessoais do exterior, recorde para o indicador até então. É muito provável que esse este número seja superado até o final de 2021. Remessas efetuadas através de criptomoedas não são contabilizadas nas estatísticas oficiais.

Os principais fatores que explicam esse crescimento são a forte desvalorização do real em relação a moedas fortes como o dólar norte-americano e o euro; a retomada econômica dos países desenvolvidos do que a brasileira; o crescimento do desemprego associado à inflação no Brasil; e a nova onda de migração de brasileiros desde o início da pandemia.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, os brasileiros vivendo no exterior ultrapassaram os 4,2 milhões em 2020. Um crescimento de 17% em comparação com 2018, quando foi feito o último censo de emigrantes. Importante ressaltar que estes números não contabilizam os imigrantes ilegais.

Os EUA, com 1,78 milhão de habitantes e 42% do total, seguidos por Portugal (276 mil), Paraguai (240 mil), Reino Unido (220 mil) e Japão (211 mil) são os destinos preferenciais dos brasileiros vivendo legalmente no exterior. Assim, o maior volume de remessas teve os EUA como origem, somando US$ 1,47 bilhão entre janeiro e setembro – 33% a mais do que no ano passado.

A desvalorização do real é apontada como o principal motivo para o crescimento do volume de remessas de dinheiro do exterior observadas ao longo dos dois últimos anos. Desde o fim de 2019, às vésperas da pandemia do coronavirus, o dólar norte-americano subiu de R$ 4,019 e hoje está cotado a R$ 5,64, acumulando uma alta de mais de 40% em relação ao real.

Assim, quem vive no exterior e tem um fluxo de renda constante em uma moeda forte pode contribuir com familiares e pessoas que permaneceram no Brasil. É o caso de Cristina Costa, uma mineira de 50 anos de idade, radicada nos EUA há 20 anos, ouvida pela reportagem. Ela conta que além de trabalhar em um supermercado, possui duas pequenas empresas.

Dada a atual cotação do real frente ao dólar, ela dispõe de uma média de US$ 4.000 a US$ 5.000 para contribuir com as despesas de parentes que moram em Belo Horizonte e investir em cavalos de raça. Diante do recrudescimento da crise econômica no Brasil com a eclosão da Covid-19, ela ainda passou a ajudar regularmente 22 famílias, com uma contribuição média aproximada de R$ 77,00 para cada uma delas.

A necessidade de ajudar a familiares que permaneceram no Brasil tornou-se mais urgente por conta do desemprego, que no trimestre encerrado em agosto foi de 13,2%. Oficialmente, o país tinha 13,7 milhões de desempregados, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Pedro Barreiro, líder de Banking e Expansão para o Brasil da Wise (antiga TransferWise, um dos principais serviços utilizados pelos brasileiros para transferência de recursos entre países) conta que em março de 2020, as remessas do exterior para o Brasil através da empresa cresceram 250% em comparação com o ano anterior. Em março deste ano, a alta foi de 30%.

O executivo conta que desde o início da pandemia, o fluxo não variou em resposta às flutuações cambiais. “No começo da pandemia, o envio triplicou e estabilizou nesse patamar três vezes maior”, disse ele à reportagem.

Vislumbrando possibilidades de agravamento da situação econômica diante da instabilidade política que costuma se acentuar ainda mais em ano eleitoral, Barreiro prevê no mínimo a manutenção do fluxo nos patamares atuais.

Criptomoedas como alternativa

Excluindo a questão migratória, todas as outras causas também podem ser associadas ao crescimento do mercado de criptomoedas no Brasil. Números do BC sobre a importação de criptoativos no país também do período entre janeiro e setembro deste ano revelam investimentos da ordem de US$ 4,6 bilhões nesta classe emergente de ativos.

Além de o Bitcoin (BTC) estar cada vez mais consolidado como um ativo de proteção no longo prazo, sendo, portanto, uma das melhores opções de investimento diante do atual cenário econômico, as criptomoedas podem se configurar como um meio eficaz, seguro e mais barato para realização de transferências internacionais.

O alto custo cobrado pelas instituições financeiras que intermediam remessas internacionais foi uma das justificativas do presidente Nayib Bukele para adotar o Bitcoin como moeda de curso legal em El Salvador. De acordo com um levantamento do próprio governo salvadorenho, 5% do valor total das remessas internacionais enviadas ao país acabam não chegando aos destinatários e vão parar nas mãos dos intermediários.

No caso do Brasil, 5% do total de R$ 15,9 bilhões enviados ao país entre janeiro e setembro deste ano equivalem a R$ 795 milhões. O Banco Central e as próprias instituições que oferecem este tipo de serviço no Brasil não divulgam os valores descontados em taxas de transação. Assim não é possível saber o montante exato que é perdido pelo caminho.

A partir da adoção do Bitcoin, a solução encontrada por Bukele para evitar os descontos foi integrar a Chivo, carteira digital oficial do governo de El Salvador, à Lightning Network, solução de segunda camada da rede Bitcoin para processamento de transações a taxas mais baixas.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil, tal medida pode fazer com que instituições financeiras tradicionais percam mais de R$ 2 bilhões anuais em receitas somente no mercado de El Salvador.

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