Jornalista denuncia uso de Bitcoin para disseminação de fake news pró-Bolsonaro e recebe ameaças de morte

Lucas Neiva foi ameaçado de morte e teve seus dados pessoais vazados após publicação de reportagem sobre fórum anônimo que reúne apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

O repórter Lucas Neiva, do portal Congresso em Foco, foi ameaçado de morte e teve seus dados pessoais vazados depois de publicar uma reportagem denunciando um esquema de produção de fake news em favor do presidente Jair Bolsonaro na última sexta-feira, 3. O site do Congresso em Foco também foi atacado e retirado do ar por algumas horas na madrugada do último domingo, informou reportagem do Portal dos Jornalistas publicada na segunda-feira, 6.

De acordo com a reportagem que denunciou a produção de fake news, um usuário do fórum anônimo 1500chan postou um texto convocando interessados em produzir conteúdo eleitoral em favor de Bolsonaro. “Nós temos o poder de influenciar dezenas de milhões de brasileiros através de propaganda para combater a influência midiática tradicional”, escreveu ele.

Segundo o usuário, sequer era necessário acreditar nas informações divulgadas, mas o objetivo primordial seria “fazer a população gostar da ideia de um Bolsonaro reeleito”, e instruções para que os conteúdos produzidos viralizem.

Junto do anúncio, ilustrado com uma foto do Ministro da Propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, o usuário disponibiliza um endereço de Bitcoin (BTC) para recebimento de doações daqueles que queiram ajudar a financiar a campanha de desinformação em favor do presidente. O usuário afirma ainda que utilizará recursos próprios para recompensar todos os produtores de conteúdo pelos serviços prestados.

Até a tarde desta terça-feira, 7, o endereço encontrava-se zerado, sem ter recebido ou enviado Bitcoins a outras entidades da rede. 

Ameaças de morte, estupro e difamação

Após a divulgação da reportagem denunciando o esquema, uma série de ameaças explícitas e veladas ao jornalista foram postadas no fórum. Além de ataques à sua honra baseados em informações falsas e da divulgação de informações pessoais de Neiva.

A editora do Congresso em Foco, Vanessa Lippelt também foi vítima de agressões e ameaças de morte e estupro no fórum. Em uma das mensagens constava anexada a foto de uma arma que, segundo o autor da mensagem, seria usada para matá-la.

“Eu já tenho seus dados e os dados de toda sua família. Viajarei até sua casa com a arma que estou enviando a foto em anexo, tenho 200 balas, assim fazer a festa no seu cafofo e provavelmente morrer em um belo confronto com a polícia depois de estuprar você e todas as crianças presentes”, diz a mensagem.

Segundo a reportagem de Neiva, o fórum anônimo 1500chan é imageboard em que internautas podem se comunicar livremente sem qualquer tipo de identificação pessoal. Entre mensagens que atacam movimentos sociais e minorias e propagam teorias da conspiração e peças de propaganda de temas caros à extrema-direita, como exaltação a regimes ditatoriais, defesa da pena de morte e campanhas pelo armamento da população, o tom de apoio ao presidente Bolsonaro é dominante. O ataque ao jornalismo profissional também é recorrente. 

As ameaças contra os jornalistas do Congresso em Foco foram denunciadas ao Ministério da Justiça, ao qual está vinculada a Polícia Federal, à Procuradoria-Geral da República e à Comissão de Direitos Humanos da Câmara, solicitando que “providências enérgicas” sejam tomadas em defesa da dupla e da classe como um todo.

Entidades de classe como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Associação do Jornalismo Digital (Ajor) também prestaram solidariedade aos jornalistas e cobraram providências das autoridades competentes em defesa do “livre exercício do jornalismo e pela integridade da nossa categoria”.

Não é a primeira vez que o Bitcoin é utilizado por correligionários do presidente tentam utilizar criptoativos para arrecadação de fundos. Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o blogueiro Allan dos Santos disponibilizou um endereço para recebimento de doações em Bitcoin para ajudarem-no a custear sua vida nos EUA, onde encontra-se foragido da Justiça brasileira.

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