IQ Option: a corretora proibida no Brasil que virou febre e pode ser um golpe
Uma corretora sediada no Chipre e proibida desde abril de operar pela Comissão de Valores Monetários (CVM) se tornou febre no Brasil. Chamada IQ Option, ela é propagada por falsos traders no Youtube e no Instagram que prometem riqueza com apostas de opções binárias e recebem gordas comissões por cada novo afiliado captado.
E o esquema funcionou: o site da IQ Option é o 23º mais acessado no país, segundo a análise de tráfego do Alexa. Na loja nacional do Google Play, está entre os 150 apps mais baixados. É um movimento paralelo à chegada de milhares de novos CPFs na Bolsa, mas com uma diferença: em caso de fraudes, não existe para quem reclamar.
Nas últimas semanas, os problemas vêm se avolumando. Duas pessoas consultadas pela reportagem, que pediram para ter os nomes modificados, não conseguem mais sacar o dinheiro da plataforma. Uma espera receber R$ 1,8 mil desde julho; outra depositou no aplicativo R$ 3 mil há cinco meses, mas o dinheiro sumiu. São algumas das centenas de pessoas que vêm relatando problemas similares.
Mas como explicar esse fenômeno? Em parte, a razão é a divulgação maciça da plataforma no YouTube. São dezenas anúncios e canais de traders que ensinam técnicas para ganhar dinheiro pela IQ Option com promessas de lucros altos e rápidos. Além da venda de cursos, a tropa de influenciadores da corretora ganha 40% sobre cada perda dos novos usuários — o que remete a um sistema de marketing multinível.
Para Vicente Camillo, especialista em regulação financeira e ex-analista da CVM, tudo indica ser um novo tipo de pirâmide financeira:
“É uma máquina de moer gente. A plataforma tem travado saques e quem vai saindo é quem já ganhou muito dinheiro. E os últimos acabam ficando com os prejuízos”.
Dinheiro preso
O autônomo Marcus Aurélio, 24 anos, depositou R$ 3 mil em março deste ano, mas até agora o valor não foi debitado em sua conta na plataforma. “Era meu dinheiro de emergência. Aí depositei pra ganhar dinheiro e acabei perdendo tudo, pois nunca me creditaram. E o suporte não dá resposta alguma”, conta o jovem, que já encaminhou mais de 20 emails para a corretora reclamando da situação.
Marcus conheceu a IQ por um amigo que nunca teve problemas para operar. Agora, ele planeja processar a empresa. O problema é que a IQ está registrada no Chipre, um país no meio do mediterrâneo, pela CySec – Cyprus Securities and Exchange Commission (Comissão de Seguros e Câmbio de Chipre). “Empresa fantasma”, diz Marcus.
Tão fantasma que não foi possível encontrar nenhum responsável pela plataforma no Brasil. Mesmo no âmbito internacional, não é claro quem são os responsáveis pela empresa. Os questionamentos da reportagem foram enviado ao email de suporte, mas até a publicação deste texto não houve resposta.
“O consumidor está negociando em uma plataforma não regulada e não sabe o que está acontecendo debaixo do sistema. Quem garante que aqueles preços são reais e que as pessoas não estão sendo roubadas?”, diz Camillo.
Para o ex-analista da CVM, o consumidor pode estar sendo enganado várias vezes, já que os processos da plataforma não tem auditoria nem órgão regulador. Pela legislação brasileira, toda oferta de valor mobiliário deve ser registrada.
Operação IQ Option
O site da corretora indica a existência de mais de 300 ativos disponíveis — criptomoedas, ações, commodities, Forex (moedas estrangeiras). Porém, a função mais difundida é a possibilidade de apostar em opções binárias, sistema surgido após a crise de 2008 que dá duas únicas possibilidades ao investidor: apostar na alta ou na baixa. Nela, não ocorre a compra de um bem ou ativo, a aposta num resultado.
O trader Lucas Bassotto acredita que a IQ Option se tornou uma febre no Brasil devido à situação econômica do país, agravada pela pandemia do coronavírus: “O Brasil tem hoje 13 milhões de desempregados. Você junta isso com a quantidade de informação que está tendo nas redes sociais e estratégias pesadas de marketing digital e você chega na febre do IQ Option.”
Bassotto identifica um padrão de venda no qual os professores dos cursos e os clientes têm algo em comum: baixo conhecimento financeiro. Seria parte da explicação do porquê tantas pessoas estão investindo no que mais parece ser um cassino cujos donos são desconhecidos.
“Não tem permissão para operar no Brasil e ninguém sabe de quem é o dono. Podem simplesmente sumir com teu dinheiro. Eu não colocaria nenhum lá”, diz.
*Colaborou Cláudio Goldberg Rabin
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