Inflação e aumento na taxa de juros nos EUA colocam bitcoin sob pressão
O preço do bitcoin caiu com o aumento dos rendimentos dos títulos e antes da divulgação do relatório de inflação dos EUA, que poderia selar o acordo para um encerramento mais rápido do programa de estímulo à economia do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano.
Os dados do CoinDesk 20 mostram que o preço da criptomoeda chegou a cair para 47.900 dólares. No momento, o bitcoin é negociado por 48.300 dólares e o cenário semanal ainda é de queda de 14,12%, segundo dados do CoinMarketCap.
O relatório do índice de preços ao consumidor (IPC) dos EUA programado para lançamento na tarde de hoje, 10, deve mostrar que o custo anual de vida na maior economia do mundo aumentou 6,6% em novembro, após ter estado em 6,2% em outubro, de acordo com FXStreet.
“Esperamos que a inflação principal suba para o nível de 7% e caia para algo próximo do consenso das expectativas (atualmente em 6,8%)”, disseram analistas do ING em um blog.
Os dados devem injetar volatilidade no mercado cripto, segundo uma publicação do investidor e analista Alex Kruger no Twitter.
Foi o que aconteceu no mês passado. O bitcoin, visto como um ativo de proteção contra a inflação, subiu mais de 3 mil dólares, para um recorde de 68.990 dólares em 10 de novembro, depois da inflação atingir seu máximo em três décadas. Os preços despencaram para 63 mil dólares no final do dia, conforme os mercados monetários aumentaram as apostas de que o Fed sugaria a liquidez do sistema financeiro para conter a inflação.
O aumento contínuo no rendimento dos títulos do tesouro norte-americanos de dois anos, que são mais sensíveis às expectativas de inflação e apostas de aumento de taxas do que o rendimento de 10 anos, sugere que o mercado está precificando aumentos mais rápidos das taxas do Fed antes do lançamento. O rendimento de dois anos aumentou para 0,73%, o maior número desde março de 2020.
Um relatório mais fraco do que o esperado pode fornecer algum alívio para os preços de ativos, embora possa ser temporário. Isso porque, de acordo com o ING, “a inflação precisaria cair de forma bastante acentuada antes que o mercado pudesse avaliar razoavelmente o ciclo de intensificação das políticas monetárias do Fed em 2022”.
Os dados tornaram-se cada vez mais importantes, com o presidente do Fed, Jerome Powell, dizendo recentemente que provavelmente é hora de retirar a palavra “transitório” ao descrever a inflação. Além disso, o Fundo Monetário Internacional incentivou o Fed a intensificar suas políticas em meio a crescentes preocupações com a inflação.
Esses desenvolvimentos talvez tenham desafiado a narrativa popular de que o banco central norte-americano pode se abster de fazer qualquer coisa que desestabilize o mercado, mesmo ao custo de uma inflação alta.
Bitcoin e o ciclo da tecnologia
A vulnerabilidade do bitcoin frente às preocupações com o aumento da taxa provavelmente decorre de seu apelo como uma tecnologia em evolução. Historicamente, a criptomoeda acompanha de perto os movimentos das ações de tecnologia, que são sensíveis à intensificação da política monetária.
O gráfico acima fornecido por Ilan Solot, estrategista de mercado global da Brown Brothers Harriman, mostra uma forte correlação entre o ciclo de tecnologia, medido pela proporção do índice Nasdaq para o S&P 500 e o bitcoin.
Uma proporção crescente, mostrada pela linha vermelha, significa que as ações de tecnologia estão superando o desempenho do mercado de ações mais amplo, normalmente um momento de boom para os mercados de bitcoin e criptografia.
“Como qualquer ativo financeiro, as criptomoedas sofrerão com as amplas movimentações do mercado. Mas, em particular, as criptos (representadas pelo bitcoin) este ano parecem ter um desempenho melhor durante os períodos em que a tecnologia está apresentando desempenho superior”, disse Solot. “Podemos ver isso usando uma proporção Nasdaq/ S&P 500. Essa correlação pode ser motivada por alguma sobreposição da base de investidores ou simplesmente porque ambos os ativos tendem a ter um beta mais alto”. Beta é uma medida da extensão em que um ativo se move alinhado ao mercado mais amplo.
“Mas seja qual for o caso, suspeitamos que essa correlação vai se afrouxar eventualmente, especialmente para criptomoedas que não são o bitcoin”, disse Solot.
Por enquanto, no entanto, o destino do bitcoin parece estar amarrado às ações de tecnologia, que começaram a apresentar desempenho inferior no mercado em meio a fortes apostas em um aumento da taxa do Fed.
Texto traduzido por Mariana Maria Silva e republicado com autorização da Coindesk
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