GOV Token vai usar rede do bitcoin para rastrear gastos públicos no Brasil
O projeto GOV Token, solução criada para rastrear gastos públicos e ser uma ferramenta de combate à corrupção e ao desperdício de recursos com o uso da tecnologia blockchain, anunciou avanços nesta segunda-feira, 18, e confirmou que usará a rede Bitcoin como base do projeto.
Criado pela Investtools, fintech especializada no desenvolvimento de softwares para o mercado financeiro, o GOV Token recebeu, em janeiro, um subsídio de 1,5 milhão de reais da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro (AgeRio).
O GOV Token propõe o acompanhamento dos recursos liberados para uma agenda pública, tornando o processo transparente, imutável e auditável por pessoa ou entidade. A solução se baseia na emissão de tokens atrelados ao valor do real, sem fins comerciais ou de especulação. Quando liberados por um órgão público para cumprir determinado fim, os tokens são inseridos na rede, registrando todas as movimentações financeiras – valores, origens e destinos – em uma cadeia de blocos e garantindo que a quantia em dinheiro vai exatamente para o fim ao qual estava destinada.
Segundo a Investtools, a escolha da rede Bitcoin para basear o GOV Token se deu, principalmente, por conta da sua robustez e segurança, funcionando sem interrupção e sem nenhum ataque bem-sucedido em toda a sua história, que começou em 2009.
Por ser o blockchain mais distribuído do mundo, o protocolo está apoiado em milhões de computadores. Isso impossibilita qualquer alteração nos dados registrados e impede o chamado “ataque de consenso”, o que assegura que cada token seja gasto apenas uma vez. “O GOV Token se fundamenta, então, na credibilidade de um sistema já conhecido e consolidado”, diz a empresa.
“A maioria das pessoas vê o bitcoin apenas como um ativo financeiro, mas, na verdade, a rede abre inúmeras possibilidades de soluções tecnológicas por conta da sua robustez e consolidação no mercado. Nós olhamos o bitcoin para além da sua relevância como moeda e investimento, para nos apoiarmos no valor tecnológico gerado pelo seu protocolo. Espero que seja a primeira de muitas iniciativas no mercado a explorar essa capacidade do bitcoin, para expandirmos os horizontes de inovação da empresa”, disse David Gibbin, CEO da Investtools.
Para driblar a baixa escalabilidade e o tempo de geração de novos blocos da rede Bitcoin, o GOV Token usa a Lightning Network, solução de segunda camada do blockchain do bitcoin que é o principal meio de escalabilidade do protocolo. Geralmente, a Lightning Network é usada para fins de carteira digital ou como terminal de pagamentos. No entanto, os desenvolvedores do produto da Investtools decidiram aplicá-la como meio de comunicação entre as partes, para otimizar a velocidade de registro de dados e agilizar as transações.
“A Lightning Network funciona como um canal de comunicação das transações entre os membros da rede GOV Token e o blockchain do bitcoin; nela, é possível fazer transferências de forma instantânea, que, em seguida, são registradas no blockchain do bitcoin. Ou seja, isso resolve o problema da lentidão de processamento de transações, enquanto mantém a segurança, a imutabilidade e todos os benefícios inerentes ao design tecnológico da rede descentralizada”, explicou Marco Jardim, diretor de Tecnologia Blockchain da Investtools e líder técnico de desenvolvimento do GOV Token.
O GOV Token é um sistema de troca de tokens em que, a cada transação, a verificação das regras do token ocorre apenas entre as partes envolvidas na troca (client-side validation). Seguindo as regras da Lightning Network, a comunicação é feita como se ambas as partes estivessem em uma sala de chat privada, mas, em vez de trocar mensagens, trocam tokens.
Quando a “conversa” nessa sala privada termina, as informações do que foi transacionado geram um registro colateral e público no protocolo do bitcoin, assinado criptograficamente pela parte que gerou a transação. Esse registro pode entrar em uma transação dentro de um canal da Lightning Network, quando é preciso confirmação instantânea, ou diretamente no blockchain do bitcoin, quando não há problemas em esperar o tempo de mineração do próximo bloco.
Todo este processo criptográfico será “traduzido” em uma interface mais simples e compreensível para qualquer pessoa, facilitando a verificação e o acompanhamento dos gastos públicos pela sociedade civil e pelos órgãos de controle.
“Em meio a tantos casos de corrupção, ter uma ferramenta que promova uma segurança jamais vista no controle dos gastos públicos é uma inovação tão necessária quanto democrática. Por meio da Blockchain Studio, nossa unidade de negócios para disseminar conhecimento e desenvolver iniciativas voltadas para esta tecnologia, o objetivo da Investtools é oferecer à sociedade uma ferramenta disruptiva para ajudar a combater a corrupção, o mau uso de recursos públicos e a falta de transparência governamental”, completou David Gibbin.
O uso da tecnologia blockchain para finalidades que nada tem a ver com investimentos ou especulação tem se tornado bastante comum já há alguns anos e inclusive faz parte da rotina de grandes empresas pelo mundo, para fins que vão desde o controle da cadeia de produção até a certificação de origem de produtos – Visa, AB InBev, Walmart, Unilever, Shell, Pfizer e Ford são alguns exemplos. No Brasil, além de empresas, cartórios também já tem usado blockchain para autenticar documentos e realizar outros serviços.
Por funcionar como um registro auditável, permanente, imutável e seguro, blockchain públicos podem ser usados para uma infinidade de aplicações, e o combate à corrupção, ou a realização de eleições eletrônicas, certamente estão entre os mais comentados e aguardados.
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