EUA caçam donos de 115 carteiras de bitcoin que teriam sido usadas para financiar Al Quaeda
Os Estados Unidos entraram com uma ação na quinta-feira (13) para confiscar 155 carteiras de criptomoedas suspeitas de financiarem organizações sírias ligadas ao grupo terrorista da Al Quaeda. Em apenas um ano, foram recebidas doações de mais de 15 bitcoins em inúmeras transações. Caso os responsáveis pelas carteiras não apresentem defesa, os EUA dizem que vão confiscar os Bitcoins.
De acordo com a ação civil que tramita na Corte do Distrito de Columbia, os pedidos de doações se davam por meio de grupos no Telegram e no Facebook. As investigações do FBI (Federal Bureau of Investigation), do serviço de unidade de crimes cibernéticos e da HSI (Homeland Security Investigation) apontaram que as criptomoedas transacionadas nessas carteiras eram para financiar o terrorismo.
Consta na petição do governo americano, assinada pelo promotor de Justiça Michael Sherwin, que havia um esquema estruturado de simulação entre as carteiras (layering) a fim de dificultar o rastreamento da origem das doações.
Bitcoin no terrorismo
Das 155 carteiras de criptomoedas, uma delas identificada pelas iniciais 3LcrD funcionava como uma espécie de hub central que recebia toda a captação feita dos bitcoins e depois redistribuia entre as demais carteiras.
Entre 25 de fevereiro de 2019 a 5 de fevereiro deste ano, a carteira que funcionava com hub central recebeu aproximadamente 15.27050803 bitcoins por meio de 187 transações.
Parte dessas criptomoedas vieram do grupo de Telegram já extinto “Tawheed & Jihad Media”. Entre abril e maio de 2019, a carteira com iniciais 37yrx7, vinculada a esse grupo havia recebido 0.14610741 BTC de doações. Todas as criptomoedas foram, então, repassadas à carteira 3LcrD (hub central).
A hub central, então, após coletar todas as criptomoedas repassou à carteira vinculada ao grupo “Tawheed & Jihad Media”, cerca de 9,10918723 bitcoins por meio de 38 transações.
Esses fundos foram recebidos por cartões de presente online com criptomoedas, prática bem comum para se lavar dinheiro, segundo afirmou o governo dos EUA.
Financiando munições
Uma das campanhas do “Tawheed & Jihad Media” era intitulada “financie munições e foguetes para a Mujahideen”, o que na visão do governo americano já mostra se tratar de um “repositório para doações pro Al-Quaeda”, pois o termo Mujahideen se refere aos soldados do grupo terrorista de Osama Bin Laden.
Esse grupo não foi, contudo, o que mais captou recursos. A organização síria que em português poderia ser traduzida como “Deixe impacto antes de partir” conduziu uma das maiores campanhas para doação de bitcoins. Segundo a petição do governo dos EUA, o grupo sírio afirmava que estava levantando fundos para a condução de trabalho humanitário, mas postava em grupos de Telegram “preços de equipamento militar necessário para os combatentes na Síria”.
O grupo, então, recebeu aproximadamente 14.58133728 Bitcoins por meio de 65 transações no período entre março e dezembro do ano passado. Desses mais de 14 bitcoins, 0.73060999 vieram de uma carteira que faria parte do esquema, por meio de sete transações.
Segundo a petição, “um grupo de aproximadamente 29 carteiras de bitcoins receberam 0.29328346 bitcoins via seis transações” do que seria hub central.
Operações sem rastro
Somente o grupo Al Ikhwa anunciou dezesseis carteiras para receber donativos em bitcoin. O anúncio foi feito até mesmo num grupo no Facebook e o grupo recebeu 0.43820188 Bitcoins. No entanto, essas criptomoedas foram transacionadas diversas vezes entre essas carteiras e metade desses Bitcoins foi enviado ao “Hub central”.
O grupo no Telegram era descrito como de “caridade independente na Síria” e declaravam que “não serviam de suporte para qualquer ato terrorista”. No entanto, a investigação descobriu que o grupo pedia Bitcoin para ajudar os irmãos na Síria na defesa do Islamismo naquele país.
O administrador do grupo mencionou que o Bitcoin por ser anônimo e irrastreável afastaria o risco de saberem que a doação foi para a Síria. Ele mencionou que caso a polícia afirmasse que as doações foram para Síria, ela estaria mentindo.
“Eles não podem rastrear o Bitcoin, mas eles podem ver o endereço de IP. No entanto, nossos IPs na Síria são turcos porque nossa internet vem da Turquia. Então, se eles tentarem pegar alguém dizendo que enviou o dinheiro para cá conforme mostra o endereço do IP, diga que estão mentindo pois o negócio foi feito na Turquia”.
Ligações perigosas
O Al Ikhwa era ligado ao grupo jihadista Malhama Tactical, o qual segundo o documento está “formado por militantes do Usbequistão e da Rússia”. Esse grupo teria recebido aproximadamente 0.19501359 Bitcoins entre julho e novembro do ano passado.
Esse fato, portanto, foi após o líder Abu Salman Belarus ter postado em seu Twitter as carteiras para doação de Bitcoins. O grupo Jihadista contava com 23 carteiras de criptomoedas.
Outro grupo ligado ao Al Ikhwa era o “Reminders From Syria”. Esse sequer grupo chegou a afirmar que não era filiada a qualquer organização armada na Síria. A campanha, porém, em que se remete aos ”soldados na causa de Deus” mostra outra coisa. Nela, há a imagem de uma kalashinikov 47 (Ak- 47) formada por notas de dólares.
O grupo, contudo, não levantou muitos fundos. Conseguiram um pouco mais de 0.005 Bitcoins por meio de sua carteira de criptomoedas com o endereço iniciado em 3QkrD. Ele ainda possuía uma outra carteira para fazer as transferências e dificultar rastreamento dos Bitcoins.
Nessa mesma linha, atuou o Al Sadaqah. O termo em árabe significa “caridade”, mas a ajuda era para comprar armas. Num dos anúncios, o Al Sadaqah foi direto ao ponto.
Com fotos de soldados, o grupo pedia a doação anônima com criptomoedas para patrocinar “o Mujahidin (soldado) na Síria com armas, ajuda financeira, e outros projetos assistenciais ao Jihad”.
Finalidade da ação
A intenção do governo dos Estados Unidos com esse processo não é de criminalizar os responsáveis. Não se trata, portanto, de uma ação penal. O caso é de ação que visa confiscar os bens, caso os responsáveis por eles não apresentem sua defesa.
“Que a devida notificação seja dada a todas as partes para comparecerem e mostrarem os motivos pelos quais o confisco não deve ser decretado”, afirmou o promotor de Justiça na petição.
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