Fim da correlação com ações só virá com capitulação definitiva do mercado de criptomoedas, afirmam analistas

Correlação do Bitcoin com o Índice S&P 500 atingiu uma nova máxima histórica depois das turbulências causadas pelo colapso do UST, a stablecoin algorítmica da Terra; analistas são unânimes em apontar que somente uma queda mais profunda do mercado pode preparar o terreno para uma reversão de tendência definitiva.

A correlação do Bitcoin (BTC) com Índice S&P 500 atingiu uma nova máxima histórica na esteira das turbulências desencadeadas pelo colapso da paridade da stablecoin TerraUSD (UST) com o dólar e a confirmação de novas mínimas históricas em 2022 para o preço do BTC – US$ 29.944 – e para a capitalização total do mercado de criptomoedas – US$ 1,4 trilhão. Os dados são do CoinMarketCap.

Desde sexta-feira, o mercado de criptomoedas perdeu aproximadamente US$ 240 bilhões. O Bitcoin chegou a cair 16%, recuando da faixa de US$ 36.000 até registrar a nova mínima anual, enquanto as perdas do Ethereum (ETH) ficaram em 14%.

Apesar dos problemas internos à indústria que vieram à tona durante o fim de semana, “frustração” foi a palavra utilizada pelo fundador e CEO da Quantum Economics, Mati Greenspan, para descrever o “novo recorde” do Bitcoin em uma postagem no Twitter.

Bitcoin correlation with the S&P 500 has reached a new frustrating all time high. pic.twitter.com/NXMnmmvKex

— Mati Greenspan (@MatiGreenspan) May 10, 2022

A correlação do Bitcoin com o S&P 500 atingiu um novo e frustrante recorde histórico.

— Mati Greenspan (@MatiGreenspan)

Capitulação

A sensação da comunidade cripto é que o fim da correlação com outros ativos de risco marcará o início de uma aguardada reversão de tendência rumo a uma retomada dos melhores níveis alcançados este ano, antes que seja possível buscar novas máximas históricas, talvez em 2023, ou, mais provavelmente, em 2024.

No entanto, nomes de peso da indústria são unânimes em afirmar que a aguardada descorrelação só virá a custo de perdas que levarão à capitulação definitiva do mercado de criptomoedas, conforme afirmou David Nage, gerente de portfólio da firma de investimentos em criptomoedas Arca em uma reportagem da Blockworks:

“Definitivamente, eu acredito que os ativos digitais vão se desvincular de sua correlação com as ações atraindo novamente o interesse de usuários e investidores. São novas plataformas e inovações que possibilitam isso.”

Ainda segundo Nage, a indústria estaria passando por uma crise de criatividade em setores como finanças descentralizadas (DeFi) e NFTs (tokens não fungíveis), possivelmente motivada pela afluência de recursos durante o ciclo de alta de 2020 e 2021.

Dinheiro esse que agora está em fuga. Como aconteceu em ciclos de baixo anteriores, isso obriga a indústria a focar no desenvolvimento de projetos e soluções, esquecendo por um tempo os números do mercado:

“O que vimos nos últimos invernos cripto, especialmente em 2018, é que há um momento no tempo em que a inovação volta à maturação. Quando os desenvolvedores começam a se esforçar – eles passam a se dedicar a construir plataformas que atraiam atenção dos usuários e criem novos casos de uso, em vez de se preocupar em captar mais fundos a cada três meses.”

É provável que este movimento já esteja em curso. O revés dos últimos dias serviu para aprofundar as perdas do mercado de criptomoedas quando comparado aos Índices Nasdaq e S&P 500 até agora em 2022. O S&P 500 e o NASDAQ perderam, respectivamente, 16% e 26% no acumulado do ano. Ao passo que a capitalização de mercado das criptomoedas caiu mais de 35% no mesmo período, de acordo com dados da Blockworks.

Ao comentar o banho de sangue que se abateu sobre o mercado de criptomoedas na segunda-feira, 9, em uma entrevista à CNBC, o CEO da Galaxy Investment Partners, Mike Novogratz, sustentou a tese do início do fim da descorrelação com base nos números das piores 24 horas de 2022 até aqui.

O executivo reforçou também que ela não será marcada pela retomada imediata da alta das criptomoedas. Pelo contrário, virá com novas desvalorizações de preço:

“As criptomoedas estão muito correlacionadas com a Nasdaq, mas na minha opinião essa correlação vai acabar. Já vimos os primeiros estágios disso – Nasdaq cai 3% e as criptomoedas  caem 9%, mas eu acho que há mais dor por vir. Vamos continuar assim até uma nova história aparecer, para depois cairmos de novo. Meu instinto diz que há mais estrago a ser feito”.

Nage e Novagratz apontam que, ao contrário de 2020, quando os mercados foram inundados pela liquidez das políticas de afrouxamento monetário promovidas pelos bancos centrais para minimizar o declínio econômico causado pela COVID-19, agora não há condições para uma recuperação em “V”.

Em uma entrevista para o podcast In the Know, a fundadora da ARK Invest, Cathie Wood, referendou a tese de que antes da capitulação não há espaço para o fim da correlação entre criptomoedas e ações, e a reversão para um novo ciclo de alta.

Wood destacou, porém, que a capitulação precisa se abater sobre todos os mercados antes de que seja possível engatar uma recuperação:

“Criptomoedas são uma nova classe de ativos, não deveriam estar correlacionadas com o Nasdaq, parece. Mas está altamente correlacionado agora. Você sabe que está em um mercado de baixa e talvez perto do fim quando tudo começar a se comportar da mesma forma, e agora estamos vendo a capitulação de um mercado após o outro.”

O momento sombrio dos mercados não representa uma ameaça para o futuro da indústria, segundo Wood. A executiva acredita que a indústria de tecnologia como um todo, incluindo as criptomoedas, pode crescer até 20 vezes nos próximos oito anos, atingindo uma capitalização de mercado de mais de US$ 200 trilhões até 2030, “graças ao sequenciamento genômico, robótica, robótica adotiva, armazenamento de energia, inteligência artificial e tecnologia blockchain.”

Criptomoedas e a inflação

A recente queda do mercado pôs em cheque a narrativa do Bitcoin enquanto ativo de proteção e reserva de valor vocalizada pela comunidade cripto. As perdas do Bitcoin em 2022 amplificaram os efeitos da inflação no curto prazo, enquanto a alta correlação da principal criptomoeda do mercado com as ações de tecnologia fazem dos ativos digitais nada mais do que uma aposta alavancada sobre o desempenho das principais empresas do setor.

Nage acredita que uma transição geracional está em curso e novas formas de lidar com a inflação passarão a ser adotadas por jovens consumidores, investidores e, eventualmente, governantes e agentes financeiros. Para ele, o Bitcoin e as criptomoedas terão um papel preponderante neste novo modelo, embora admita que ele ainda está em maturação. Levará um tempo até que ele se imponha, mas, segundo o gerente da Arca, será inevitável:

“No final do dia, nossa geração, juntamente com as gerações mais novas, sempre estarão incrivelmente interessadas em ativos digitais e novas tecnologias. Somos uma geração criptonativa – jogos, dispositivos móveis, internet, isso é o que a gente conhece e entende.”

Amanhã será divulgado o Índice de Preços ao Consumidor dos EUA (CPI) e o mercado está antecipando um novo aumento da inflação, que já está nos patamares mais elevados desde o início dos anos 1980. Caso se confirme, um novo banho de sangue não está descartado. De acordo com Diego Consimo, analista do Crypto Investidor, uma queda do preço do BTC até o suporte de US$ 24.300 não pode ser descartada no curto prazo, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente.

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