‘Não seja enganado, Bitcoin não vale nem R$ 1 pois ele não serve para nada’, diz pesquisador da Unicamp

‘A rede de bitcoin não tem absolutamente nada. Uma empresa tem fábricas, logística, produtos, patentes, todas essas coisas pertencem aos donos das ações, qualquer lucro pertence aos acionistas. No caso de criptomoedas, não tem bens, não tem produtos, não tem nada, diz pesquisador da Unicamp

Para o cientista da computação Jorge Stolfi, que também é professor titular da Unicamp e Ph.D. pela Universidade de Stanford, o Bitcoin (BTC), hoje cotado perto de US$ 17 mil não vale, na verdade, nem R$ 1. Segundo ele, a maior criptomoeda do mercado não passa de um esquema de pirâmide financeira e que não entrega nada de valor.

Em uma entrevista concedida a DW Brasil, ele argumenta que como o Bitcoin não entrega nenhum valor para a sociedade, seu preço é determinado unicamente pela crença dos investidores, ou seja, alguém só pode ‘tirar’ dinheiro do Bitcoin quando outra pessoa está disposta a comprar por um valor mais alto do que o pago inicialmente.

Este movimento especulativo, segundo Stolfi é muito diferente do que ocorre no mercado de ações, no qual os ativos tem um valor frente ao que é produzido e entregue a sociedade na forma de produtos/serviços, portanto, quando há uma discrepância nos preços, logo isso é corrigido pelo próprio mercado que ajusta as dinâmicas conforme o valor percebido da empresa.

“Suponha que você compre um bitcoin por 20 mil dólares e venda por 50 mil dólares. Você ganhou 30 mil dólares. Mas por quê? Porque alguém comprou o seu bitcoin por 50 mil dólares. Esses 30 mil dólares não vieram de uma atividade produtiva; no caso de um sistema, é puramente transferência.

A rede de bitcoin não tem absolutamente nada. Uma empresa tem fábricas, logística, produtos, patentes, todas essas coisas pertencem aos donos das ações, qualquer lucro pertence aos acionistas. No caso de criptomoedas, não tem bens, não tem produtos, não tem nada”, disse.

O pesquisador também afirma que o que mantém o Bitcoin ‘vivo’ é a expectativa das pessoas de ganhar dinheiro com isso. Nada mais. Além disso, segundo ele, os grandes investidores sabem que o BTC não entrega nenhum valor e só estão neste mercado esperando a hora certa de lucrar com a pirâmide.

“O pessoal que está fazendo trading está comprando e vendendo, comprando e vendendo, então o preço está mexendo aleatoriamente. Aí, de repente, alguém faz uma grande compra, e o preço vai lá para cima, e os jogadores, em vez de voltarem para aquele preço anterior, continuam transacionando nesse novo preço, simplesmente porque eles não têm a menor ideia de qual preço estava certo. O mesmo acontece com alguém que vende muito, e o preço vai lá embaixo”.

Bitcoin é pirâmide

Stolfi também argumenta não haver qualquer valor o sistema de mineração de Bitcoin que inclusive é deficitário, pois o custo de energia e o custo das transações não é suficiente para manter a rede operacional. Para ele o que sustenta a rede é justamente o movimento especulativo do preço do BTC que acaba ‘financiado’ as atividades deficitárias da mineração.

Sobre o fato do BTC ter um estoque limitado e atuar como uma espécie de “loja de valor” o professor da Unicamp argumenta que isso não é verdade, pois, apenas porque algo é raro ou tem um estoque limitado, isso não quer dizer que está item tenha valor.

Ele destaca que o valor do ouro não é dado apenas por ele ter um estoque limitado, mas principalmente pelo seu uso prático na fabricação de diversos itens e, como o BTC não entrega nenhum valor para a sociedade, ele não tem como ser valorizado apenas por ser ‘raro’.

“Os palitos de dentes que usei são raros, não vai ter mais que mil palitos, mas não valem nada, porque não ninguém quer, não adianta ser raro. Mas as pessoas compram essa história de como o negócio que é raro vai ser valioso, contam uma mentira que o ouro só é valioso porque é raro, mas o ouro é excelente para fazer joias e outras coisas. Não tem substituto para esse metal, assim, dois terços de todo ouro que é minerado é usado em joias e para dourar coisas. Já o bitcoin não serve para nada.

Jorge Stolfi também aponta que o sistema de contratos inteligente do Ethereum (ETH), que tem como princípio a descentralização, sofre de diversos problemas, entre, eles, justamente a descentralização que tem como falha a intermediação de conflitos.

“Mas, por outro lado, se alguém rouba ou tira o seu dinheiro, vende uma mercadoria que não manda, ou a mercadoria está estragada e quer ter a possibilidade de estornar… Empresas tipo Visa e PayPal têm que ter funcionários que decidem se um estorno é autorizado ou não. E quando você tenta fraudar um negócio, eles têm advogados que vão atrás e processam você. Mas um sistema descentralizado, que todas as criptomoedas podem ter, não tem esse tipo de serviço”.

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