Dólar fixa piso em R$ 5 por ‘neopedalada’ do Banco Central, dizem economistas

O dólar pode ter estabelecido um novo patamar acima de R$ 5 para o longo prazo. Essa é a opinião de economistas que criticam a lei que permite repasses do Banco Central ao Tesouro. A visão é que o governo estaria distorcendo a política cambial por se beneficiar com o enfraquecimento do real.

Na última quinta-feira (27), o Conselho Monetário autorizou transferência de R$ 325 bilhões para pagamento da Dívida Pública Interna. O valor é proveniente de resultados positivos das reservas cambiais brasileiras.

Apesar de autorizado pela Lei 13.820/19, o repasse tem sido alvo de discussão entre especialistas. Críticos consideram que os repasses vêm principalmente de ganhos contábeis advindos da desvalorização do real. Dessa maneira, o governo estaria aproveitando a alta do dólar para fazer caixa.

Gustavo Franco, ex-presidente do BC e um dos criadores do Plano Real, chamou a prática de “Neopedalada”.

É o que pensa também Fernando Ulrich, economista engajado no mundo das criptomoedas. Ele não considera que a legalidade dos repasses retirem o caráter de pedalada.

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Para ele, a Lei 13.820/19 legaliza o financiamento do Tesouro pelo Banco Central. Ele dá a entender que a política cambial não terá interesse em manter o dólar abaixo de R$ 5. Dessa maneira, esse seria o novo piso da moeda americana.

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Banco Central não informa quanto do repasse provém de ganho contábil

Um dos problemas em torno dos repasses está ligada à falta de transparência da origem dos recursos. A Lei que permite o repasse não obriga o BC a detalhar de onde vêm os ganhos.

Dessa maneira, não é possível, por ora, dizer quanto dos R$ 325 bilhões enviados ao Tesouro são efeito direto da desvalorização do real. O montante total é proveniente de resultados das reservas cambiais, mas apenas parte dela vem de ganho contábil pelo aumento do dólar.

O professor de economia Fábio Terra, da Universidade Federal do ABC, explica que as reservas também geram ganhos na rentabilidade e quando o BC vende dólar.

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Segundo ele, a saída de dólares valoriza as reservas e gera ganhos ao Banco Central. Do mesmo modo, a venda de swaps para segurar a subida do dólar faz o mesmo. Ao longo do tempo, portanto, esses dois movimentos vêm gerando ganhos. Agora, esse dinheiro está sendo repassado para o Tesouro.

Dólar a R$ 5 está em linha com o que o mercado espera

O dólar a pelo menos R$ 5 está de acordo com levantamentos feitos pelo BC com agentes do mercado. No último relatório Focus, a mediana de médio prazo já mostra expectativa para dólar a R$ 5,10 em 2023.

No entanto, o possível novo piso em R$ 5 pode piorar o cenário ainda mais. O agregado da pesquisa do Banco Central, por exemplo, já apontava projeção de dólar a R$ 4,80 ano que vem. O receio entre alguns economistas é que, com os ganhos repassados ao Tesouro, o governo tenha pouco interesse em valorizar o real.

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