Dias antes da morte de CEO de exchange de criptomoedas, R$ 3,7 milhões em ethereum foram transferidos

Na semana que antecedeu a morte do fundador e CEO da exchange de criptomoedas QuadrigaCX, pelo menos 5.000 ethereum foram transferidos para carteiras da Bitfinex, Kraken e Poloniex, sendo a maior parte enviada para a Binance (4.550.ETH). Gerald Cotten, que morreu no dia 09 de dezembro de 2018, era o único responsável pelas chaves privadas das carteiras da exchange.

Segundo análise de dados públicos de blockchain realizada pela Coindesk e publicada na última sexta-feira (08), quase US$ 1 milhão (R$ 3,7 milhões) em ether (ETH) foram enviados da QuadrigaCX para outras exchanges somente em dezembro, o mesmo mês em Cotten morreu. O total de ETH transferidos foi de 9.000 unidades.

De acordo com a reportagem, não está claro se foi algum cliente ou a própria QuadrigaCX que iniciou essas transações, mas a movimentação deste fundos já causou furor na comunidade de criptomoedas, principalmente nos clientes afetados.

Os analistas da Coindesk usaram uma trilha que começa em junho de 2017, a última vez que a carteira da QuadrigaCX, identificada publicamente, havia sido usada, diz a reportagem.

O caso QuadrigaCX está sendo investigado pela justiça canadense. A Coindesk solicitou à exchange informações sobre as transferências, mas não obteve retorno.

Kraken oferece ajuda no caso QuadrigaCX

Jesse Powell, cofundador e CEO de uma das maiores bolsas de criptomoedas do mundo, a Kraken, disse, via Twitter, que pode ajudar no caso e está à disposição da polícia.

“Nós temos milhares de endereços de carteira identificadas como sendo da QuadrigaCoinEx e estamos investigando esta bizarra história, francamente inacreditável do fundador ter morrido e as chaves ficarem perdidas. Se a polícia canadense se interessar, entre em contato com a Kraken”, postou.

Entenda o caso Quadriga

A morte de Cotten foi anunciada de forma tardia quando sua esposa, Jennifer Robertson, entrou com pedido de proteção ao credor na Suprema Corte da província de Nova Escócia, no Canadá, no dia 31 de janeiro.

O pedido foi acatado no dia 05 de fevereiro e a empresa não pode receber nenhum processo nos próximos 30 dias a partir desta data.

Robertson alegou que somente o marido detinha as chaves privadas das contas da exchange. Ela apresentou uma declaração de morte de uma empresa de funeral — um hospital particular de Jaipur, na Índia, chamado Fortis Escorts, também confirmou o óbito no dia 07 deste mês.

A exchange ficou inacessível uma semana após a notícia da morte de Cotten, fundador da empresa com 363.000 usuários registrados. Dentre eles, 92.000 possuem saldos em conta.

Testamento dias antes de morrer

Cotten apresentou um testamento 12 dias antes de morrer. Nele, Robertson foi registrada como a única beneficiária e executora de todo o espólio do falecido — eles não tiveram filhos.

Segundo documentos judiciais, a viúva herdou uma grande quantia (não divulgada) de ativos e de dinheiro que mantinha nos bancos Bank of Montreal e no Canadian Tire, carro de luxo de quase meio milhão de reais, iate e até mesmo um avião. É o que mostra o testamento de 27 de novembro de 2018.

Cotten, cuja morte, segundo Robertson, foi repentina, levou consigo o acesso a US$ 180 milhões em Bitcoin, Ethereum, Bitcoin Cash, Litcoin e US$ 70 milhões em fiat, caso as chaves privadas não reapareçam.

O montante totalizou, então, 250 milhões de dólares canadense (cerca de R$ 700 milhões) pertencentes a 115 mil usuários.

Laptop criptografado

No laptop, os endereços de email e o sistema de mensagens que ele usava para administrar a empresa eram todos criptografados.

Nele estavam as chaves privadas e senhas de acesso a tudo que era relacionado às finanças da QuadrigaCX — contas bancárias, fundos de criptomoedas online e offline.

Robertson, que ficou de posse do computador, disse que não conseguiu o acesso ao dispositivo justamente por estar criptografado. Ela não possuía nenhuma chave privada.

Segundo a viúva, o laptop era o único dispositivo que Cotten usava para conduzir tudo a respeito da exchange.

“O computador laptop do qual ‘Gerry’ conduziu os negócios é criptografado e eu não sei a senha ou a chave de recuperação. Apesar de vários esforços em buscas, não consegui encontrá-las em nenhum lugar”, diz o documento assinado pela viúva.


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