Deepfakes podem representam grave ameaça às exchanges de criptomoedas, avaliam especialistas
Uso de imagens manipuladas e extremamente realistas pode afetar procedimentos de segurança de plataformas do mercado de ativos digitais
Recentemente, o uso de ‘deepfake’ rendeu manchetes equivocadas. Imagens de Donald Trump sendo preso circularam na internet, parecendo muito realistas. As imagens, no entanto, foram fabricadas usando a ferramenta de inteligência artificial Midjourney. Além de manchetes errôneas, a popularização de deepfake pode representar uma ameaça a plataformas que realizam reconhecimento facial, como exchanges de criptomoedas.
Deepfake é um perigo real
‘Deepfake’ é o termo em inglês usado para definir uma imagem ou vídeo que tenta fazer parecer real uma situação, ou uma identidade, que é falsa. Sérgio Ribeiro, Gerente de Segurança e Infraestrutura do CPQD, afirma que esse recurso pode ser usado nos procedimentos de “Conheça seu Cliente” (KYC, na sigla em inglês) empregados por exchanges de criptomoedas.
“O KYC é um elemento crucial para as exchanges de criptomoedas, uma vez que elas precisam garantir a conformidade regulatória e a segurança de suas transações. No entanto, o uso de deepfakes pode abrir brechas para a criação de contas fraudulentas em nome de terceiros, ou até mesmo possibilitar a manipulação de dados pessoais por meio do reconhecimento facial”, avalia Ribeiro.
Para combater uma crescente em deepfakes burlando procedimentos de segurança, a análise de múltiplos fatores, verificação biométrica ou a autenticação em tempo real podem ser efetivas, comenta Ribeiro. Além do emprego de ferramentas, é importante que as plataformas estejam ativamente atentas ao recebimento de imagens e vídeos manipulados.
“Ao enfrentar essa ameaça em constante evolução, as exchanges de criptomoedas devem buscar soluções que combinem tecnologia e expertise humana, de modo a garantir a autenticidade das identidades dos usuários”, diz o gerente de Segurança e Infraestrutura do CPQD.
Medidas de segurança
A ideia de imagens manipuladas para serem extremamente realistas assusta, mas seu uso para fins escusos pode ser combatido. Sergio Ribeiro, o CPQD, destaca que existem esforços em andamento para combater, de forma eficaz, a manipulação destas imagens.
“Uma das abordagens promissoras é o uso de algoritmos de aprendizado de máquina e inteligência artificial para detectar indícios de falsificação em vídeos e imagens. Esses algoritmos são treinados em um conjunto de dados diversificado, que inclui tanto exemplos de deepfakes quanto de conteúdo autêntico”, explica Ribeiro.
Através da análise minuciosa de elementos presentes nas imagens, como artefatos de compressão, movimentos irregulares ou inconsistências no alinhamento facial, esses sistemas podem identificar sinais reveladores de manipulação.
Mesmo assim, o especialista em segurança destaca que a detecção de deepfakes é um desafio em constante evolução, já que os agentes maliciosos também aprimoram suas técnicas.
Esforços de educação sobre deepfake também são uma estratégia importante para combater golpes usando esses recursos, destaca Ribeiro. Ao tornar os usuários de exchanges cientes dos riscos envolvendo imagens manipuladas, o especialista diz que é possível fortalecer a resiliência da comunidade e reduzir o impacto dos ataques de deepfake.
NFTs podem ser usados?
Uma das aplicações práticas dos tokens não-fungíveis (NFT) é sua utilização em sistemas de identificação. Um exemplo é a rede social descentralizada SoulPrime, que registra os cadastros de usuários em NFTs.
Carolina Mello, Diretora de Marketing da Nodle, avalia que uma abordagem possível para lidar com o problema dos deepfakes é associar informações de identidade individual a um NFT. “Isso permitiria a verificação e autenticação fáceis da identidade do indivíduo ao realizar transações ou acessar determinados serviços”, diz Mello.
Embora sejam alternativas mais seguras para resolver questões de identificação digital, os NFTs podem enfrentam problemas regulatórios. Por armazenarem as informações de forma permanente na blockchain, esses tokens esbarram nas regras de proteção de dados vigentes, como a Lei Geral de Proteção de Dados.
Além disso, a Diretora de Marketing da Nodle diz que o uso de NFTs em processos de KYC ainda está em seus estágios iniciais. “Mais pesquisas e desenvolvimento são necessários para determinar sua viabilidade e implementação potencial em uma escala mais ampla”, acrescenta.
Mello julga como vital a adaptabilidade da indústria blockchain, que deve permanecer colaborativa para aprimorar suas abordagens e garantir a autenticidade das informações. Sergio Ribeiro, do CPQD, também avalia que o combate aos golpes usando deepfakes em plataformas de criptoativos depende de todo o ecossistema cripto.
“É um esforço conjunto que requer investimento contínuo em pesquisa, desenvolvimento e conscientização para enfrentar essa ameaça em constante evolução no mercado de criptomoedas”, conclui Ribeiro.
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