Rede social descentralizada alternativa ao Twitter entusiasma Jack Dorsey e preocupa Elon Musk
O Nostr é uma rede social descentralizada e não censurável baseada em um protocolo de código aberto que despertou reações opostas do ex e do atual CEO do Twitter.
O Nostr é um protocolo aberto idealizado por desenvolvedores brasileiros para servir de base para uma rede social descentralizada de alcance global e imune à censura. O projeto vem ganhando destaque desde que em 15 de dezembro o fundador e ex-CEO do Twitter Jack Dorsey fez um aporte de 14 BTC (aproximadamente US$ 236.000) para contribuir com o desenvolvimento do Nostr, que tem como um de seus idealizadores o programador pseudônimo brasileiro fiatjaf.
Com um nome inspirado no latim, utilizado para designar um grupo de pessoas com interesse comum, e também um acrônimo para Notes and Other Stuff Transmitted by Relays (Notas e Outras Coisas Transmitidas por Retransmissores, em tradução livre), o Nostr apresenta-se como uma alternativa aos modelos centralizados popularizados pelo Twitter e o Facebook para redes de interação social de usuários internet.
O Nostr não depende de um servidor central, o que o torna mais resiliente à censura e à moderação do conteúdo publicado pelos usuários. Ela é baseada em assinaturas criptográficas. Assim como na rede do Bitcoin (BTC), os usuários detêm uma chave pública, através da qual podem ser identificadas pelos demais participantes da rede, e uma chave privada para assinar transações – no caso, publicar e transmitir informações.
A infraestrutura aberta do protocolo baseia-se em dois componentes: os clientes, que oferecem acesso ao protocolo; e os nós, que atuam como retransmissores de informações. Cada usuário da rede necessariamente roda um cliente, e também podem rodar um nó, embora este não seja um pré-requisito para utilizar o Nostr, como explicam os desenvolvedores na página do protocolo no GitHub:
“Todo mundo roda um cliente. Pode ser um cliente nativo, um cliente da web, etc. Para publicar algo, você escreve uma postagem, assina com sua chave e envia para vários retransmissores (servidores hospedados por outra pessoa ou por você mesmo). Para obter atualizações de outras pessoas, você pergunta a vários retransmissores se eles têm alguma informação sobre essas outras pessoas. Qualquer um pode executar um nó. Um nó é muito simples e burro. Não faz nada além de aceitar postagens de algumas pessoas e encaminhar para outras. Os nós não precisam ser confiáveis. As assinaturas são verificadas no lado do cliente.”
Centralização do Twitter
O Nostr entrou no radar de atenção de parte da comunidade cripto depois que se tornou evidente a centralização das políticas e dos termos de uso do Twitter sob a liderança de Elon Musk, com direito a censura de jornalistas, a suspensão de contas de usuários, a vedação de divulgação de links de plataformas concorrentes, além de acusações explícitas de autoritarismo na gestão do novo CEO.
Os desarranjos do Twitter em sua nova fase sob a tutela de Musk fez com que muitos usuários buscassem redes sociais alternativas descentralizadas e não censuráveis.
Primeiramente, muitos usuários abriram contas no Mastodon, mas o aval de Dorsey despertou a curiosidade de um número maior de usuários para o Nostr. A ponto de o protocolo de código aberto ter sido incluído na lista de plataformas cuja divulgação de conteúdo tornou-se mais restrito ao lado de gigantes como o Facebook e o Instagram.
O detalhe é que a quantidade de usuários do Nostr ainda é insignificante. De acordo com um dashboard que mensura as atividades no Nostr, foram contabilizadas 23.674 interações com o protocolo nas últimas 24 horas.
Independentemente disso, ao que parece Musk teme que uma alternativa descentralizada possa minar a preeminência do Twitter em um futuro não muito distante. Especialmente diante da empolgação demonstrada por Dorsey em uma de suas primeiras postagens na rede social descentralizada:
“Isso é exatamente como o Twitter antes de ele chegar a 5 mil usuários, só que melhor.”
Além de Dorsey, outros Bitcoiners eminentes aderiram ao Nostr, incluindo o fundador e presidente executivo da MicroStrategy, Michael Saylor.
O @saylor, obviamente, não perderia essa chance.
Entrou HOJE. Tem 500 seguidores (eu fui um dos primeiros 500! 😂).
E você? Será Top 1000 primeiros?
Quem mais você verá chegar por lá?
Ps: o mundo inteiro.
Comece pelo @jb55, @dergigi e @PrestonPysh, por ex.
Outros seguirão. pic.twitter.com/05LBAHp1Hd
— Diego Kolling (@diegokolling) December 20, 2022
Quem são os brasileiros que estão por trás do Nostr
Como mencionado anteriormente, a principal cabeça por trás do Nostr é o desenvolvedor pseudônimo fiatjaf, que é reconhecido no espaço como uma “máquina de escrever códigos”. fiatjaf participa de projetos como o NBD, uma iniciativa de código aberto de suporte ao desenvolvimento do Bitcoin e da Lightning Network e trabalha na Zebedee, uma empresa focada no desenvolvimento de games nativos para a rede do BTC fundada pelo também brasileiro André Neves.
Inclusive, logo após o anúncio do aporte de Dorsey, a Zebedee implementou um nó retransmissor do Nostr, como destacou Neves em uma postagem no Twitter.
Given the recent announcements by @jack‘s funding of @nbd_wtf / @zebedeeio developer @fiatjaf to work & foster the #nostr community, I figured it was time to roll out a beefy production-ready relay
Presenting https://t.co/PTFKygW6dL
wss://nostr.zebedee.cloud#nostr ⚡️ #Bitcoin— André Neves (@andreneves) December 16, 2022
Dados os anúncios recentes do financiamento de @jack para a desenvolvedor da @nbd_wtf / @zebedeeio @fiatjaf para trabalhar e promover a comunidade #nostr, achei que era hora de lançar um retransmissor robusto pronto para produção
Apresentando https://t.co/PTFKygW6dL
wss://nostr.zebedee.cloud#nostr ⚡️ #Bitcoin
— André Neves (@andreneves)
Após a implementação da rede social descentralizada, a ideia é que o Nostr possa servir de infraestrutura para o desenvolvimento de outros projetos descentralizados. Entre eles uma versão não permissionada e anti-censura da Wikipedia.
👀
— jack (@jack) December 20, 2022
Nostrpedia vai ser o nosso app matador.
— fiatjaf (@fiatjaf)
Como criar um perfil na rede
Por enquanto, o aplicativo mais acessível para rodar um cliente na Nostr é o Damus, que está disponível apenas para iOS – o sistema operacional da Apple. Uma vez instalado, basta gerar um par de chaves – uma pública e uma privada.
Também é possível criar chaves usando um cliente nostr como o anigma.io ou o astral.ninja. O primeiro criará automaticamente um par de chaves privada/pública. O outro perguntará se você deseja criar esse par de chaves e, em caso afirmativo, ele o criará para você.
Um método alternativo mais simples para criação e gerenciamento de chaves pode ser acessado através da instalação da Alby uma carteira baseada em uma extensão do Chrome ou do Firefox. A Alby tem suporte nativo ao Nostr.
A partir da instalação e ativação do cliente é possível atualizar nome de perfil, incluir uma foto, adicionar uma descrição textual. Em seguida, já é possível fazer as primeiras postagens e acessar as publicações de outros usuários.
Por fim, vale encontrar perfis a serem seguidos. É possível utilizar este link para encontrar as chaves públicas de contas do Twitter. Além disso, também é possível buscá-los manualmente através do nors.directory.
A Astral.ninja tem um feed global onde é possível ver postagens de outros perfis. As páginas nostr.io/stats e damus.io/channels mostram os usuários mais ativos do Nostr.
Por fim, é importante ressaltar que o Nostr não tem nenhuma relação direta com a rede do Bitcoin e não possui nenhum token nativo. Trata-se de um protocolo aberto de transmissão de informações – e não de valores.
É apenas uma ferramenta para retransmissão de dados para diferentes usuários, que são capazes de recuperá-los a partir de diferentes aplicativos para fins de comunicação. No entanto, alguns clientes do Nostr, como o Damus, oferecem suporte para pagamentos em Bitcoin via Lightning Network.
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil, em agosto deste ano o Brasil ganhou seu primeiro centro de pesquisa para desenvolvedores de Bitcoin. Fundado pelos brasileiros Lucas Ferreira, da Lightning Labs, e o já citado André Neves, da ZEBEDEE , o Vinteum vai treinar e financiar desenvolvedores de código aberto para formar uma nova geração de técnicos e construtores capazes de contribuir para a evolução do Bitcoin e da Lightning Network.
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