Mineração de criptomoedas com placas de vídeo deixa de ser lucrativa após The Merge da Ethereum

Depois que a Ethereum concluiu sua transição para adotar um mecanismo de consenso baseado em Prova-de-Participação, lucro da mineração de criptomoedas que utilizam o algoritmo de Prova-de-Trabalho EtHash caiu 96,5%.

O The Merge da Ethereum (ETH) marcou o fim de uma era para os usuários da rede e para o mercado de criptomoedas de forma mais ampla. Porém, nem todos se beneficiaram da mudança. Inclusive porque os impactos de curto prazo sobre a ação de preço do ETH não foram positivos.

Para a classe específica dos mineradores, a transição da rede líder de contratos inteligentes de um mecanismo de consenso baseado em Prova-de-Trabalho (PoW) para um algoritmo baseado em Prova-de-Participação (PoS) teve consequências econômicas negativas adicionais, visto que o equipamento utilizado para adicionar blocos à rede e obter criptomoedas em troca de poder computacional perdeu a utilidade.

Em um primeiro momento, acreditou-se que a migração para redes alternativas como a Ethereum Classic (ETC), ou mesmo os hard forks de Prova-de-Trabalho da rede original, como o Ethereum POW (ETHW) e o Ethereum Fair (ETF), poderia se configurar como uma solução. No entanto, uma reportagem publicada pelo portal Tom’s Hardware, especializado em equipamentos e infraestrutura de computação, revelou que a mineração de criptomoedas com placas de vídeo (ou GPUs) deixou de ser lucrativa depois da mais recente atualização da Ethereum.

Apenas um dia depois do The Merge, a lucratividade da mineração com placas de vídeo teria entrado em colapso, de acordo com dados do portal WhatToMine. Adotando o padrão de US$ 0,10 por kWh, os melhores resultados obtidos com a atividade dependem de placas como a GeForce RTX 3090 e a Radeon RX 6800 ou 6800 XT. Tecnicamente, são as únicas que apresentam resultados positivos, na proporção de US $ 0,06 por dia, descontados os custos de energia e sem levar em consideração o desgaste do equipamento.

Apesar do lucro líquido, o investimento não compensaria, pois, com essa margem, o minerador levaria mais de 20 anos para reaver o valor empenhado para a aquisição de uma placa RX 6800. Deve-se levar em consideração nessa conta também o estágio atual do mercado de criptomoedas. A queda acentuada desde novembro do ano passado limita os ganhos com a mineração. Em um mercado de alta, possivelmente a situação seria diferente. Mas quem se arriscaria a esta altura a fazer previsões sobre o futuro desta classe de ativos emergentes?

A opção de minerar acumulando prejuízos visando lucros futuros em caso de uma eventual reversão de tendência do mercado é viável, mas não é exatamente uma opção inteligente. Afinal, não basta apenas uma placa de vídeo e uma conexão com a rede elétrica para minerar criptomoedas. Há toda uma série de itens adicionais, como a refrigeração das máquinas, o espaço físico e os custos de manutenção do equipamento, que, hoje, fazem da mineração de criptomoedas caseira uma atividade pouco atrativa.

Para aqueles que esperam o fim do atual ciclo de baixa e uma renovada corrida de touros rumo a novas máximas históricas poderiam utilizar o dinheiro a ser investido em uma placa de vídeo para comprar criptomoedas diretamente no mercado à vista.

Ainda que faça sentido para aqueles que já possuem o equipamento necessário, das 21 placas gráficas da da série AMD RX 6000 e da série Nvidia RTX 30, apenas as duas mencionadas acima não estavam gerando prejuízos aos mineradores em 18 de setembro. Mesmo tomando por padrão o custo de US$ 0,10 por KWh (equivalente a pouco mais de R$ 0,50) – um valor extremamente baixo e irreal para a realidade brasileira. No Rio de Janeiro, por exemplo, o custo médio do kWh é de R$ 6.

O mercado de placas de vídeo usadas indica que há excesso de oferta e queda nos preços, uma tendência que deve se acentuar no curto prazo, à medida que muitos mineradores estão optando por se desfazer dos seus equipamentos.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, a própria Nvidia disse não ter parâmetros para mensurar os impactos do The Merge sobre o mercado de placas de vídeo e o tamanho da redução da demanda pelos seus produtos.

No final de agosto, a empresa divulgou seus resultados financeiros para o trimestre encerrado em 31 de julho, revelando uma queda das receitas de 19% no período, enquanto o lucro líquido recuou 59%. Apenas a receita de sua divisão de jogos, que inclui as vendas de suas GPUs utilizadas na mineração de criptomoedas, caiu 44% em relação ao trimestre anterior.

Embora tenha atribuído a retração a “condições de mercado desafiadoras”, a CFO da Nvidia, Colette Kress, afirmou “não poder quantificar com precisão até que ponto a redução da demanda por mineração de criptomoedas contribuiu para o declínio na demanda dos produtos.”

Algoritmos de consenso alternativos

Dados adicionais do site AsicMinerValue mostram que, atualmente, a lucratividade máxima para mineradores de EtHash, o algoritmo de Prova-de-Trabalho utilizado pela Ethereum antes do The Merge, é de US$ 2,74 por dia, desde que utilizando um modelo Asic para mineração de ETC.

Atualmente, as alternativas à Ethereum para os mineradores PoW não utilizam o antigo algoritmo da rede líder de contratos inteligentes. O algoritmo mais lucrativo é o da Kandena (KDA), que rende aos mineradores US$ 65,38 ao dia.

Em seguida vem o Scrypt, mecanismo de consenso utilizado pelo Litecoin (LTC) e o Dogecoin (DOGE). No caso de ambas as moedas, no entanto, a lucratividade cai bastante e chega ao máximo de US$ 12,21 por dia, de acordo com os dados do AsicMinerValue.

Ainda segundo dados do AsicMinerValue, cinco dias antes do The Merge, mineradores de Ethereum obtinham lucros da ordem de US$ 79,53 por dia. Desde então, a queda chega a 96,5%.

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