Criptomoedas viram ‘luz no fim do túnel’ diante da fragilidade econômica do Brasil e da América Latina
Criptoativos levam “ares de liberdade econômica” para milhões de pessoas e atraem novos investimentos para a região.
Imagine guardar o equivalente a US$ 50 bilhões em uma moeda durante 14 anos e depois descobrir que esta ‘reserva’ se transformou em US$ 0,25. O que parece uma suposição esdrúxula é a realidade da Venezuela, cuja inflação, de 2007 para cá, transformou em pó sua moeda nacional, o bolívar.
A moeda do país latino-americano sofreu um corte de seis zeros no dia 1º de outubro, embora já tenham sido 14 dígitos cortados nos últimos 14 anos. Mas o cenário econômico catastrófico da Venezuela também ajuda a explicar a ascensão das criptomoedas na América Latina, conforme aborda em uma matéria do O Estado de São Paulo nesta quarta-feira (15).
O mercado de criptomoedas se tornou uma espécie de refúgio para milhões de pessoas em diferentes países latino-americanos, em consequência dos “desarranjos” das economias locais. Entre eles figuram a desvalorização das moedas, a falta de políticas monetárias e as altas taxas de informalidade.
Na outra ponta, a facilidade de acesso à internet e a posse de um smartphone são suficientes para abrir para estas pessoas as portas do mercado de criptomoedas. E já abriu.
Em muitos casos, as criptomoedas significam a sobrevivência, uma vitória contra a fome e garantia de moradia e dignidade para muitos latino-americanos, já que criptos como o USDT, por exemplo, lastreado em dólar, estão incorporados em diversos setores da economia de alguns destes países.
A explicação para a ‘imunidade das criptomoedas’ estaria na impossibilidade de os governos latino-americanos imprimi-las, o que protege os criptoativos da inflação. Outro argumento seria o fato de que a emissão dos tokens não passa pelo controle e jurisdição de governos e instituições financeiras.
Para se ter uma ideia do que isso representa, em 2020 os países latino-americanos enviaram ao exterior US$ 25 bilhões em criptoativos, enquanto US$ 24 bilhões entraram na região. Deste total, US$ 3 bilhões foram para Venezuela, segundo a reportagem.
Em setembro deste ano, a população inteira de um nação foi exposta aos criptoativos, quando El Salvador se tornou o primeiro país do mundo a legalizar o Bitcoin (BTC).
O entusiasmo dos latino-americanos pelos criptoativos também chegou ao setor privado, entre eles os conglomerados tecnológicos que atuam na região. É o caso da multinacional japonesa Softbank.
Em entrevista à Bloomberg na última semana, o diretor-gerente do Latin America Fund do grupo nipônico, Paulo Passoni, revelou que 10% dos US$ 5 bilhões em fundos administrados pela corporação estão em criptoativos.
Está óbvio que os ativos cripto formam o espaço mais atraente para investimentos na América Latina… Claro que há algum excesso, claro que nem todos os tokens valem o que o mercado está dizendo… mas eu acredito que é a coisa mais relevante acontecendo no mundo agora, afirmou.
Em setembro desse ano o Softbank anunciou investimentos em 15 das 25 empresas latino-americanas da categoria unicórnio, as startups com valor de mercado a partir de US$ 1 bilhão, entre elas a brasileira Gympass e a colombiana Rappi. Outra empresa do grupo, a 2TM Participações, proprietária da maior exchange de criptomoedas do Brasil, recebeu um aporte de US$ 50 milhões em novembro deste ano, segundo a reportagem que também foi publicada pelo InfoMoney.
Ainda que o futuro seja incerto, com projetos de regulamentação pipocando nos parlamentos latino-americanos, as criptomoedas parecem ter se transformado em sinônimo de ‘libertação’ para milhões de pessoas e nada mais será como antes, venha o que vier.
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