Como a tecnologia blockchain está transformando os jogos online
por Shreyansh Singh*
Microtransações são a base de muitos jogos modernos, a ponto de muitos simplesmente as aceitarem. No entanto, novos modelos estão surgindo, graças à tecnologia blockchain, que podem romper a norma. A popularidade dos jogos “play-to-earn” está crescendo e os novos serviços estão reduzindo o custo de entrada. Essas inovações devem se tornar o catalisador para criar uma verdadeira visão do metaverso que está por vir.
Uma nova estrutura play-to-earn
Os videogames modernos estão repletos de microtransações. Quer sejam coisas simples, como roupas ou acessórios, ou ofertas mais elaboradas, como personagens e armas, essas compras no jogo dividiram amplamente a comunidade de jogadores. Quando bem feitos, eles podem oferecer novo conteúdo a um preço justo, mas quando exagerados, eles levam a uma mentalidade geral de “pague para ganhar”. Isso cria barreiras de pagamento artificiais para atingir o sucesso para aqueles que não podem simplesmente gastar dinheiro em um jogo que acabaram de comprar. Além disso, qualquer dinheiro investido em um jogo específico é perdido inteiramente quando o jogador segue em frente para outros jogos.
No entanto, com o surgimento dos jogos em blockchain e NFTs, tudo isso está mudando. Um novo modelo de jogo está surgindo baseado na propriedade real de ativos e uma nova estrutura “jogue para lucrar”. Um bom exemplo é o Axie Infinity, um jogo online baseado em NFTs para ganhar dinheiro que deu vida ao interesse de usuários do mundo todo, tornando-se o aplicativo descentralizado (dApp) número um no ecossistema da Ethereum.
Construída com base nos sistemas blockchain existentes, esta nova revolução está sendo chamada de “GameFi”. A GameFi engloba os ideais de que os jogadores não deveriam apenas jogar dinheiro fora no conteúdo do jogo, mas sim investir seus recursos em ativos que podem ser valorizados e revendidos em mercados secundários.
A tecnologia NFT torna isso possível, e os blockchains subjacentes também fornecem os meios para os jogadores ganharem moedas com valor no mundo real. Isso levou a uma nova economia totalmente digital, que não apenas recompensa os usuários por seu envolvimento, mas oferece serviços financeiros que tornam os jogos uma forma potencialmente lucrativa de geração de receita.
Um novo tipo de acesso pago
Claro, muitas vezes é preciso dinheiro para ganhar dinheiro. Muitos desses jogos, embora ofereçam caminhos reais para a geração de valor, também têm uma forma de “ingresso”, um pagamento inicial para comprar um NFT ou token do jogo, que é crucial para o mecanismo play-to-earn. Infelizmente, nem todos os recém-chegados a este espaço têm o dinheiro necessário para se envolver, levando a uma situação semelhante ao modelo “pagar para ganhar”. Por exemplo, um dos produtos mais populares é o Axie Infinity. Este jogo estilo Pokémon tem jogadores envolvendo seus “Axies” em batalhas por uma chance de ganhar recompensas reais. No entanto, para começar, os usuários precisam de pelo menos três desses monstrinhos virtuais. Infelizmente, eles não são baratos, pois cada um custa atualmente no mínimo 70 dólares no marketplace de Axie Infinity, resultando em um total de 210 dólares necessários para os novatos começarem. Isso não é acessível a muitas pessoas que gostariam de jogar.
Felizmente, existem abordagens inovadoras sendo desenvolvidas para promover um maior envolvimento. Por exemplo, novos grupos de jogadores, como a Yield Guild Games, nas Filipinas, emprestam ativos como Axies para novos jogadores em troca de uma parte de seus lucros. Isso significa que aqueles com menos recursos podem se envolver imediatamente e aqueles com mais recursos podem ganhar uma renda passiva. Este é um ótimo exemplo de como essa nova economia virtual pode beneficiar jogadores em vários níveis, e a inclusão será essencial para a construção do que está se tornando conhecido como o metaverso.
Jogos em blockchain e o metaverso
Se você não está familiarizado, o metaverso é basicamente o nome da coleção de serviços e mundos digitais que estão se tornando cada vez mais interconectados e interoperáveis. Embora seja uma visão ambiciosa, atualmente muitas plataformas tradicionais lutam para oferecer uma compatibilidade verdadeira, o que significa que várias soluções devem ser aproveitadas.
Felizmente, o blockchain torna esse problema muito mais trivial. NFTs e outros ativos descentralizados podem ser transferidos sem dificuldade em várias plataformas, desde que se conectem a um blockchain. Além disso, as moedas digitais usadas podem se tornar formas onipresentes de dinheiro que podem ser usadas em praticamente qualquer serviço virtual no futuro. Isso significa construir uma economia em pleno funcionamento que vive essencialmente no ciberespaço, revolucionando a maneira como os jogadores interagem com seus jogos favoritos, entre si e com a economia em geral.
Para esse fim, esse novo ecossistema deve trazer benefícios muito reais para os usuários em todo o mundo. A capacidade de ganhar dinheiro e explorar um imenso mundo de entretenimento virá de um ponto de acesso reconhecidamente vasto. Isso vai desfazer muitos paradigmas existentes de como o valor é criado e transferido, mas a infraestrutura básica está sendo construída agora.
Ainda existe trabalho a fazer
Por mais poderoso e lucrativo que isso possa parecer, definitivamente ainda há trabalho a ser feito. Por um lado, os desenvolvedores ainda devem balancear coisas como os tipos de itens que estão disponíveis para compra, como eles podem melhorar a experiência dos jogadores e como eles interagem com outros jogos e mercados. Se isso não ocorrer, ainda pode haver um problema de ter que pagar para ganhar, já que o blockchain não afeta isso fundamentalmente.
O que poderia resolver isso é fazer com que certos itens só sejam equipáveis depois de atingir certos níveis ou outras qualificações. Por exemplo, metadados embutidos em um NFT podem definir um item de roupa ou uma arma como utilizável apenas quando o proprietário atende aos requisitos de progressão específicos. Isso significa que os jogadores ainda estariam livres para comprar e negociar qualquer item, mas um recém-chegado com muito dinheiro não poderia simplesmente comprá-los para subir na classificação. Este é apenas um exemplo, mas destaca que não se trata de uma questão intransponível.
Outro possível obstáculo é o fato de que muitos blockchains existentes simplesmente não estão prontos para o tipo de volume de transação que o sistema proposto exigiria. Os jogadores não vão querer esperar que as transferências sejam concluídas durante vários minutos ou mais. As transferências precisam ser resolvidas no blockchain em questão de segundos.
Isso, é claro, pode ser atenuado escolhendo a rede correta. Por exemplo, a Polygon Network atua como uma solução de segunda camada para a Ethereum e oferece transações incrivelmente baratas que levam apenas alguns segundos para serem concluídas. É por isso que a Polygon tem cinco vezes mais jogos e dapps de NFTs do que qualquer outra rede fora da Ethereum e já está trabalhando com a maioria dos jogos da Web 3.0 baseados em blockchain e plataformas de NFTs, como Decentraland, OpenSea e The Sandbox.
Em última análise, está claro que não apenas os jogadores esperam um novo modelo, mas também que os jogos em blockchain e NFTs oferecem esse modelo. O progresso tem sido um pouco lento, mas cada vez mais desenvolvedores estão começando a tomar nota, e não demorará muito para que o primeiro “aplicativo matador” seja lançado. As empresas que não agirem logo podem se ver tentando recuperar o atraso antes mesmo de perceber.
* Shreyansh Singh escreve para a CoinDesk. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
Texto traduzido por Mariana Maria Silva e republicado com autorização da Coindesk
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