Mineradora de BTC comandada por brasileiros prospera no mercado de baixa investindo em fontes alternativas de energia

Enquanto uma série de mineradoras de Bitcoin vem enfrentando dificuldades diante do aumento da taxa de hash da rede do Bitcoin ao mesmo tempo que o preço do BTC é negociado 70% abaixo de máxima histórica, a Arthur Mining está expandindo suas operações, inclusive com foco no Brasil.

Fundada nos EUA pelos sócios brasileiros Ray Nasser e Rudá Pellini, a Arthur Mining é uma das empresas pioneiras no que vem sendo chamado de green mining (mineração verde) – a combinação de eficiência operacional e minimização dos impactos ambientais na atividade de mineração de Bitcoin (BTC) – e vem fazendo deste recurso seu principal trunfo para crescer mesmo diante de condições de mercado extremamente adversas para os mineradores.

Ao mesmo tempo que o preço do BTC acaba de renovar as mínimas do atual ciclo de baixa, em um movimento descendente que se iniciou há exatamente um ano, a dificuldade de mineração e a taxa de hash da rede do Bitcoin mantiveram-se em ascensão no período, e atualmente ambos encontram-se em uma zona muito próxima de suas máximas históricas.

Se hoje o preço do BTC está 75% abaixo do recorde histórico de US$ 69.000 registrado justamente em 10 de novembro do ano passado, a taxa de hash cresceu 66,38% no mesmo período, de acordo com dados do ycharts. 

Em geral, pessoas não familiarizadas com as particularidades da atividade atém-se exclusivamente a estes dois fatores para mensurar os desafios que se impõe aos mineradores em tempos como os atuais. No entanto, há um terceiro fator fundamental e que tem um peso significativo em momentos de aperto, destaca Ray Nasser, CEO da Arthur Mining em uma entrevista exclusiva para o Cointelegraph Brasil:

“Todo mundo olha para a taxa de hash e a dificuldade contra o preço do Bitcoin e assume que a lógica é preço caindo, taxa de hash e dificuldade também deveriam cair e vice-versa. Isso é pensar em duas dimensões, com duas variáveis. Mas tem uma outra variável que é tão importante quanto essas duas: que é o preço das máquinas. As empresas começaram a vender máquinas para pagar as dívidas, então a demanda por máquinas está lá embaixo agora. E os produtores de máquinas querem vender máquinas, então eles baixaram o preço das máquinas significativamente. No passado, quem comprou máquinas baratas quando os preços caíram, acabou ganhando muito dinheiro. Isso aconteceu em 2016 e em 2018. E os mineradores sabem disso. Este momento é muito bom para investir em mineração. E isso está se refletindo na taxa de hash.”

Fontes de energia renováveis

Além de se aproveitar das oportunidades do mercado para aumentar sua capacidade operacional, a Arthur Mining reaproveita fontes de energia que normalmente seriam desperdiçadas para minimizar os custos energéticos de suas operações.

Utilizando gases normalmente desperdiçados e subvalorizados das indústrias de petróleo e gás, como por exemplo o metano, que é cerca de 25 vezes mais poluente que o gás carbônico, a Arthur Mining obtém uma vantagem competitiva sobre seus pares na indústria que dependem de fontes de energia convencionais.

Nasser revelou que o custo de produção de Bitcoin da Arthur Mining atualmente gira em torno de US$ 5.000, portanto bastante inferior ao preço do BTC no mercado à vista mesmo com a desvalorização acumulada ao longo deste ano. Enquanto isso, algumas operações têm custos que chegam a US$ 25.000, o que torna a atividade inviável e, em última instância, até mesmo obrigam as mineradoras a desligarem as máquinas.

Aproveitando-se do baixo custo de energia e do aumento de sua capacidade operacional, a Arthur Mining manteve-se lucrativa, afirma o CEO da empresa:

“A Arthur Mining continua lucrativa porque a gente continua produzindo Bitcoin. Está certo que a gente está vendendo a um preço mais baixo do que antes, mas a gente continua produzindo, vendendo e lucrando com isso. Obviamente, os mineradores mais eficientes permanecem no mercado e os menos eficientes saem do mercado, o próprio mercado vai se ajustando e isso está acontecendo nesse bear market novamente. Isso aconteceu em 2018, quando o Bitcoin caiu de 18.000 para US$ 3.000 e a taxa de hash continuou subindo e alcançou máximas históricas como agora. Se você é eficiente ao comprar Bitcoin seu saldo continua positivo. O mercado está muito lucrativo para minerar.” 

Custos de produção do Bitcoin

Como qualquer commodity, seja o petróleo, o ouro, ou produtos agrícolas, o Bitcoin tem um custo de produção que varia de acordo com condições específicas, como geolocalização e capacidade de processamento computacional, e outras sazonais, sendo os custos da energia o principal fator a impactar a rentabilidade dos mineradores – aproximadamente dois terços do total, segundo Nasser. 

A vantagem competitiva se dá através da minimização destes custos de produção e a chave para o sucesso da Arthur Mining está no investimento que a empresa vem fazendo em fontes alternativas de energia, diz Nasser:

“Na Arthur Mining a gente trabalha para destravar potencial energético que não existe a priori. A gente cria uma energia renovável que limpa o meio ambiente ao mesmo tempo em que gera valor.”

As operações da Arthur Mining nos EUA estão localizadas lado a lado de empresas petroleiras para reaproveitar os rejeitos produzidos pela extração de petróleo do solo através de uma tecnologia desenvolvida pela própria empresa, diz Nasser:

“A gente adaptou uma tecnologia em que a gente usa transformadores para capturar essa energia que gera altos custos para as petroleiras e do qual elas são obrigadas por lei a manejar de forma a minimizar o impacto sobre o meio ambiente. A gente compra esse gás diretamente das empresas produtoras de petróleo e gera energia A Arthur Mining só usa fontes de energia renovável.”

Operações no Brasil

Partindo desta premissa fundamental, Nasser conta que a empresa tem planos de expandir suas operações para o Brasil a partir do ano que vem, oferecendo conhecimento, infraestrutura e serviços para que grandes empresas do setor energético possam utilizar energia que hoje é desperdiçada para a mineração de Bitcoin.

Embora não possa citar os nomes das empresas com quem vem conversando, o CEO da Arthur Mining afirma que as negociações encontram-se em estágio avançado. Nasser destacou também que a curva de aprendizagem e adoção do Bitcoin no Brasil a nível institucional ainda está atrasada em relação aos EUA, mas este potencial inexplorado está começando a ser destravado:

“Não há razão para desperdiçar energia no mundo, hoje. Agora, a gente tem uma solução para este problema. O Bitcoin é a solução na medida em que você pode gerar valor a partir desse excedente energético que normalmente seria desperdiçado. As grandes mineradoras de Bitcoin no futuro serão as empresas de energia, e as empresas brasileiras estão começando a perceber isso.”

Nasser revelou também que a Arthur Mining tem um projeto focado no Brasil para gerar bioenergia a partir de aterros sanitários:

“Aqui no Brasil, a gente tem um projeto para gerar bioenergia a partir de aterros de lixo, transformando os resíduos em biogás para utilização em operações de mineração de Bitcoin. A ideia é montar containers para minerar Bitcoin em aterros de lixo. Ou seja, vamos transformar lixo em energia, lixo em Bitcoin, lixo em dinheiro. Toda energia desperdiçada que sobra de sistemas de energia solar, eólica ou hidrelétrica pode ser transformada em Bitcoin.”

Condições do mercado

Nasser ainda não vislumbra as condições necessárias para uma reversão de tendência definitiva na ação de preço do BTC, pois acredita que as condições macroeconômicas são o principal fator a impactar o valor de mercado dos ativos de risco, categoria na qual o Bitcoin e as criptomoedas passaram a figurar desde que o Banco Central dos EUA (Fed) reverteu sua política monetária para tentar conter a alta da inflação:

“O Bitcoin, queiram ou não, independentemente do que as pessoas acreditam, ele é visto como um ativo de risco como as ações de tecnologia: uma Tesla, uma Apple, uma Netflix. E a gente está passando por um momento em que não há liquidez no mercado. A liquidez está sendo secada pelas políticas monetárias do Fed.”

Portanto, embora eventos como a crise de liquidez da FTX e o colapso do ecossistema Terra em junho tenham um impacto negativo sobre o preço dos criptoativos, o foco dos investidores deve estar concentrando nos sinais do Fed:

O Bitcoin vai iniciar sua recuperação não quando os juros pararem de subir, mas sim quando o mercado estiver prevendo que os juros vão parar de subir, pois o mercado sempre antecipa a economia. Aí, a gente vai ver uma subida muito grande do Bitcoin em relação a qualquer outro ativo nos mercados financeiros tradicionais. Os fundamentos do Bitcoin só melhoram, a taxa de hash está em alta, ele está mais seguro, a adoção está crescendo. Quando você tem um ativo em que os fundamentos evoluem e o preço não sobe, você tem uma oportunidade.” 

Segundo Nasser, a tradicional capitulação dos mineradores que marca os fundos dos ciclos de baixa já aconteceu, embora algumas mineradoras que já vinham operando no limite estejam mais uma vez pressionadas pela queda do Bitcoin a novas mínimas depois que a crise de liquidez da FTX contagiou o mercado.

Por fim, o CEO da Arthur Mining destaca que os mercados de baixa são os melhores momentos para investir na atividade de mineração, independentemente dos resultados de curto prazo:

“Mineração é um investimento anti-cíclico e todas as vezes que os investidores, especialmente em mineração, investiram durante o mercado de baixa, deu certo. Ah, mas vai demorar. Eu concordo que pode demorar a subir porque há muita incerteza no cenário macro. Mas enquanto não sobe, a gente segue acumulando Bitcoin. Então, quando subir, o nosso estoque de Bitcoin vai ser muito superior ao que a gente teria investindo diretamente em Bitcoin. Essa é a beleza de minerar. Você tem uma exposição muito mais eficiente e muito mais segura, pois você está produzindo Bitcoin.”

Assista a entrevista completa com Ray Nasser sobre os desafios e oportunidades da mineração de Bitcoin durante os mercados de baixa no canal do Cointelegraph Brasil no Youtube.

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