Artista brasileiro PV Dias cria coleção de NFTs inspirada no tecnobrega

Intitulada “Movimentos Amazônicos”, a série contém 10 colecionáveis criados a partir de intervenções em registros fotográficos e audiovisuais produzidos pelo artista paraense em Belém e na região do baixo Tocantins, no Pará.

Originalmente uma tecnologia e uma forma de expressão que surge no exterior em ambientes digitais distantes da cultura brasileira, os NFTs aos poucos vão ganhando expressões com sabor local através de obras de artistas e criadores nacionais.

Expressão da musicalidade e da cultura antropofágica do norte do Brasil, o tecnobrega combina bases eletrônicas do pop internacional com a estética popular do brega, cuja linguagem incorpora diversas formas de expressão, incluindo a moda, a dança e a poética para criar uma forma de expressão a um só tempo brasileira e global.

Foi buscando essa conexão entre tecnologias supostamente distantes que o artista paraense PV Dias criou uma coleção de NFTs intitulada “Movimentos Amazônicos”, que tem no tecnobrega uma de suas principais inspirações.

Trata-se de dez peças que estão sendo comercializadas no marketplace OpenSea com o preço base de 0,3 ETH –  aproximadamente R$ 4.500 por item da coleção. O artista optou por basear a coleção na blockchain da Polygon (MATIC), de modo a minimizar os altos custos das taxas de transação da rede Ethereum (ETH).

Outros elementos da cultura ribeirinha do norte do país também foram incorporados à obra, conforme o artista explica ao Cointelegraph Brasil:

“São obras que juntei em uma série chamada ‘Movimentos Amazônicos’, onde penso alguns movimentos dentro do território, sejam as danças, brincadeiras, transportes. São 10 trabalhos a partir de intervenções em fotografias e vídeos que faço entre Belém e a região do baixo Tocantins, no Pará. Há passos de tecnobrega, rabeta cortando o rio e histórias repensadas e registradas visualmente dentro de um cenário amazônico, entre prédios e rios”

“Tecnobrega, couple dancing between the north and south of Brazil”. Fonte: OpenSea (PV Dias)

Ao mesmo tempo que a coleção marca a primeira incursão de PV Dias no universo dos NFTs, ela também inaugura o cruzamento entre tokens não fungíveis e o tecnobrega a partir de intervenções animadas sobre registros fotográficos e audiovisuais produzidos pelo artista:

“Me interessa muito investigar esses movimentos estéticos que vieram do norte, essas manifestações artísticas que surgiram no norte. O tecnobrega também é uma das que tem uma relação mais direta com a tecnologia. Surgiu ali no final da década de 1990, com aquela coisa das bases eletrônicas, abraçando a pirataria. Foi um dos primeiros gêneros que abraçou a pirataria uma vez que a maioria das músicas eram sampleadas. As bases eram de outros artistas internacionais. Era um movimento antropofágico que incorporava esse som internacional para readequar à cultura nacional.”

Ainda segundo o artista, o tecnobrega é uma música festiva, que tem na dança uma de suas mais fortes expressões. O movimento dos corpos é um dos traços marcantes da coleção, afirma:

“Nessas obras, a dança, o movimento, é um rastro visual dessa música e é isso que eu pensei em registrar nessa série.”

Tecnobrega, dancing alone shrugging shoulders. Fonte: OpenSea (PV Dias)

PV Dias nasceu em Belém, em 1994, e hoje está radicado no Rio de Janeiro. Sua obra, no entanto, estabelece a conexão entre o local, representado por sua origem paraense, a um só tempo urbana e amazônica, e o global, com abordagens híbridas e multidisciplinares caras à arte contemporânea.

Assim, testar as possibilidades de expressão e propriedade intelectual próprias dos NFTs foi algo natural na trajetória do jovem artista:

“Eu gosto de pensar que temos que observar bem os novos meios e sempre investigar o que há de novo, para somar na nossa vida, nossos estudos, nossos trabalhos. Acho que a tecnologia está possibilitando a cada momento novas formas de pensar e ver o mundo. A arte é uma forma de ver o mundo. Por que não olhar para estas tecnologias como possíveis aliadas para nossas poéticas? Hoje em dia, a rede nos aproxima de diversas pessoas, discursos variados e artistas de múltiplas habilidades, de todos os lugares do planeta”.

A incorporação dos NFTs ao universo da alta cultura já deixou de ser novidade em um mundo cada vez mais mediado por dispositivos e linguagens digitais. Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o crítico de arte e curador Kenny Schachter afirmou que a coleção de NFTs CryptoPunks “mudou a história da arte”.

A declaração foi feita durante um painel promovido pela centenária casa de leilões Sotheby’s por ocasião de um leilão em que 104 CryptoPunks seriam vendidos – e que acabou não acontecendo porque o detentor dos NFTs teria desistido de vendê-los na última hora.

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