Hype das ‘caixinhas’ no mercado de NFTs pode aquecer o mercado?
Modelo de revelação de NFTs tem se mostrado popular nas coleções recentes, e especialistas opinam sobre esse movimento
A coleção de tokens não-fungíveis (NFTs) Renga movimentou o mercado no mês passado. O motivo foi o sistema de ‘revelação’ usado pela coleção: era possível comprar uma caixa que revelaria um personagem da coleção. A antecipação por personagens raros fez com que o valor da caixa disparasse no mercado.
Outras coleções se beneficiaram do hype gerado pela Renga, como Gangster All Stars e Street Machine. Especialistas ouvidos pelo Cointelegraph Brasil opinam sobre essa tendência de coleções focadas em revelações ser suficiente para reverter a queda no nível de negociações do mercado cripto.
Modelo de NFT não é novo…
O caso da Renga foi um sucesso na rede Ethereum (ETH). Em apenas 24 horas, o volume de NFTs da coleção sendo negociados saltou 820%. O preço da caixa responsável por gerar os personagens saltou de 0,4 ETH para 0,6 ETH.
A Gangster All Stars, lançada no mesmo período, pegou parte do hype. Também usando caixas que revelam diferentes personagens, os preços saltaram de 0,28 ETH para mais de 0,8 ETH em menos de um mês. O mesmo aconteceu com a coleção Street Machine, cujas caixas poderiam ser adquiridas por 0,03 ETH, hoje possuem o valor mínimo de 0,12 ETH.
O modelo de revelação é caracterizado pelo lançamento de um token inicial, que pode ser uma caixa ou outro objeto que dará origem a um personagem. Após um período definido pela equipe por trás da coleção, esse token se transforma em um NFT cujas características são aleatórias. É importante entender que, dentro destas características, existem graus de raridade que fazem um token valer mais ou menos.
Embora a Renga tenha popularizado esse modelo de coleção, fazendo surgir coleções como Starzo + Friends, Friday Beers e outras, não se trata de algo novo. Bernard Pedra, analista de fundos do Mercado Bitcoin, explica que essa estratégia é usada para baratear o lançamento das coleções.
“Cria-se um token padrão ERC-1155, que pode se transformar em outros tipos de tokens posteriormente, para angariar fundos. Esses fundos são utilizados no desenvolvimento dos NFTs da coleção, que são então revelados e se tornam tokens padrão ERC-721 (o padrão de não-fungibilidade).”
… mas o hype é inegável
Mesmo não sendo algo novo, Pedra reconhece que há um caso de hype em curso, fazendo com que coleções de tokens não-fungíveis tentem replicar os sucessos de outras coleções.
Sobre o sucesso atual deste modelo, o analista do Mercado Bitcoin avalia que há um fator psicológico em jogo. “É como aquelas caixas de itens dos jogos de videogame, comuns em gachas. As pessoas compram esperando um item raro e, mesmo que existam grandes chances de sair algo ruim, elas seguem esperançosas.”
A entrada repentina desse modelo de lançamento de NFTs, no entanto, não é o suficiente para classificá-lo como uma tendência. “É uma forma de lançamento como qualquer outra, mas que está popular agora.”
Pedra acrescenta que essas coleções são propícias para especular sobre o valor das caixas de revelação, que acabam com preço mais alto do que itens da coleção. Esses NFTs não são, contudo, uma força capaz de virar o baixo volume do mercado de tokens não-fungíveis.
Atenção na hora de especular
Ainda que o modelo de ‘caixinhas’ não reverta o resfriamento do mercado de tokens não-fungíveis, existem aqueles que desejam especular. É importante saber, então, quais são as melhores práticas.
Não há um “roteiro de investimento infalível”, comenta o investidor e entusiasta de NFTs que se identifica como Mr. Bull. É possível, no entanto, observar características de coleções que podem reduzir riscos na hora de investir.
A primeira característica é a equipe. O mercado cripto prega a descentralização, porém, dentro do bear market e no mercado de NFTs, Mr. Bull afirma que é importante saber quem está por trás dos projetos. “Prefiro que as pessoas sejam públicas, isso me ajuda a evitar golpes.” Ele também afirma que também é válido pesquisar outras coleções das quais os fundadores tenham participado, e que tipo de conexões eles possuem.
A arte é outra característica que pode ser levada em consideração. Coleções com propostas visuais não utilizadas antes, ou que sejam muito chamativas, são, geralmente, NFTs com potencial de valorização. Em termos de exclusividade, um roadmap sem propostas genéricas também é um sinal positivo. “Evito propostas que falem de percentual de NFTs vendidos ou sorteio de coisas.”
Falando em números, a quantidade de NFTs na coleção também é um ponto a ser abordado. Quanto menor a oferta, melhor. As coleções “gênesis” costumam ser bem-sucedidas, como aconteceu com a Genesis Godjira. “No bear market, suprimento de 50 até 6.666 é uma boa faixa.”
Algo curioso (e perigoso) do mercado de NFTs é: quanto mais ativa for a participação de uma carteira, mais visada ela se torna. É normal que agentes mal-intencionados enviem tokens para carteira de investidores ativos nesse mercado. Nesse caso, Mr. Bull aconselha que os investidores não interajam com esses tokens, movendo-os para o status de “escondido” dentro dos marketplaces.
Cuidados com o mint
Ao participar de uma oportunidade de mint, Mr. Bull conta que evita projetos com preço muito alto. A faixa de 0,03 ETH até 0,08 ETH é considerada por ele como uma “faixa justa de preço”. “O Bored Ape não custou 0,2 ETH para mintar, então não tem porque outras coleções cobrarem.” Ainda sobre o mint, o investidor conta que coleções cuja a maior parte dos NFTs são ofertados para uma lista de membros pré-escolhidos (whitelist).
Para que o preço de uma coleção de NFTs suba, é necessário que existam pessoas interessadas em comprar. Uma comunidade engajada é um bom medidor da atividade, na visão de Mr. Bull. Checar o Twitter e o servidor do Discord da coleção pode ser uma boa forma de medir não só o interesse, mas o engajamento da comunidade.
O número de NFTs permitidos por carteira também é uma importante métrica. Se usuários podem reservar muitos tokens, como 10 unidades, esse é um sinal vermelho para Mr. Bull. O investidor conclui listando outros passos adotados por ele.
“Outros práticas que eu sigo na fase de mint:
- Eu sempre espero que outros usuários vão na frente, assim eles ‘testam as águas’ e eu me certifico que o projeto é seguro. Isso também me ajuda a ver se há uma quantidade relevante de pessoas interessadas na coleção;
- É melhor chegar um pouco depois do que correr. Por exemplo, em uma coleção que permitiu o mint de 5 mil unidades, eu espero até que 4,5 mil tenham sido emitidas;
- Observo o mercado secundário. Se muitos investidores estão comprando os NFTs de pessoas que estão fazendo o mint, elas estão otimistas com o projeto.”
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