Blockchain no combate às fake news
Informações confiáveis, realmente baseadas em fatos, constitui a base de toda a avaliação e tomada de decisões nos negócios e da sociedade em geral, do jornalismo à formulação de políticas e à escolha do eleitor.
Já a desinformação, também conhecida como fake news, é conteúdo fraudulento que propositalmente busca enganar com o intuito de obter ganhos políticos ou financeiros, é perniciosa a qualquer sociedade que pretenda evoluir e prosperar.
O problema da desinformação digital
Dito de outro modo, a notícia falsa consiste na distribuição deliberada de desinformação ou boatos via jornal impresso, televisão, rádio, ou ainda, online, como nas mídias sociais.
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Não é à toa a preocupação com o crescimento viral de fake news, via plataformas digitais que têm potencializado significativamente a disseminação de perigosas teorias conspiratórias, e de toda sorte de falsas afirmações sobre temas variados, como a pandemia, os protestos raciais, os resultados das eleições presidenciais e, agora, a guerra entre Ucrânia e Rússia.
Some-se a isto, as inúmeras possibilidades trazidas por tecnologias como inteligência artificial, que permitem a criação de conteúdo de áudio, foto e vídeo, altamente convincente (mas totalmente fraudulento), com potencial prejuízo às empresas na casa das dezenas de milhões de dólares. E aqui, nem estamos considerando o impacto humano da desinformação tecnológica sobre a sociedade em geral.
A boa notícia, no entanto, é que da mesma forma que muitas tecnologias podem agravar o problema da desinformação, há outras, como Blockchain, que podem ajudar na sua solução.
É disto que trata nosso artigo de hoje.
Por que o blockchain pode ajudar no combate aos riscos e causas da desinformação digital?
Uma das aplicações mais conhecidas da tecnologia Blockchain é gerenciar a transferência de criptomoedas como Bitcoin. Mas a capacidade do blockchain de fornecer validação descentralizada e uma clara rede de custódia também o torna uma ferramenta eficaz para rastrear, não apenas recursos financeiros, mas, todos os tipos e formatos de conteúdo.
Parte do que torna tão difícil combater falsificações e outros tipos de desinformação é que, atualmente, não existem padrões ou melhores práticas para identificar, rotular, rastrear e responder à mídia manipulada através de plataformas digitais.
Ora, a tecnologia Blockchain usa algoritmos que usam a função hash para identificar exclusivamente arquivos de dados.
Isto é, qualquer alteração no arquivo original resultará em um hash obviamente diferente e, portanto, será facilmente reconhecível como um arquivo diferente do original.
Ademais, como plataformas blockchain são acessíveis globalmente, permitem que indivíduos em todo o mundo registrem facilmente o hash do conteúdo original e que outras pessoas verifiquem cópias de informações comparando seus hashes com o hash original registrado na rede blockchain.
Bem por isso, ao proporcionar maior transparência ao ciclo de vida do conteúdo, a tecnologia blockchain ser uma ferramenta para restaurar a confiança em nosso ecossistema digital.
Abordagens baseadas em blockchain para o combate à desinformação
Basicamente, há três formas de soluções baseadas em blockchain que podem ser utilizadas para enfrentar os desafios postos pela desinformação digital: procedência, preservação da identidade e reputação online e, por fim, incentivo a conteúdo de alta qualidade.
1 – Verificação da procedência
A tecnologia blockchain pode ser usada no combate à desinformação, rastreando e verificando fontes e outras informações críticas para a mídia online.
As publicações podem usar a blockchain para criar um registro de todas as imagens que foram publicadas, fazendo com que informações como legendas, locais, autorizações de imagem, direitos autorais e outros metadados possam ser verificados por qualquer pessoa.
2 – Manutenção da identidade e reputação online
As editoras costumavam ser a principal fonte da reputação de determinado conteúdo. Melhor explicando, muito provavelmente um artigo publicado em uma revista de renome e com reputação construída ao longo de anos transmite maior confiabilidade ao leitor, do que em um site de que você nunca ouviu falar.
A confiança baseada apenas na reputação da instituição, no entanto, possui algumas limitações significativas.
Isto porque, estamos vivendo uma crise de confiança nas instituições como um todo, como fica bem evidenciado no documentário “Na Rota do Dinheiro Sujo”.
Bem por isso, a confiança na imprensa diminuiu na última década.
Para piorar a situação, em um cenário de mídia digital movido por receita publicitária baseada em cliques, até mesmo publicações de renome são cada vez mais incentivadas a priorizar o engajamento em detrimento da clareza.
Por outro lado, a maioria dos leitores está recebendo as notícias das manchetes via mídia social, o que pode reduzir drasticamente sua capacidade de distinguir os pontos de venda jornalísticos críveis das máquinas de propaganda com base em interesses político-financeiros. É aí que a tecnologia blockchain pode ajudar.
Um sistema baseado em blockchain pode tanto verificar a identidade do criador de conteúdo, quanto rastrear sua reputação com precisão, eliminando a necessidade de uma instituição confiável e centralizada.
Além disso, o blockchain pode ser usado para rastrear a distribuição do conteúdo, dando tanto aos consumidores quanto aos editores maior visibilidade de onde vem a desinformação e como ela se move por todo o ecossistema digital.
Importante destacar, aqui, que qualquer sistema projetado para rastrear e verificar informações com dados pessoais ou comercialmente sensíveis precisará incorporar as melhores práticas de privacidade e segurança para atender às exigências regulatórias locais e internacionais.
3 – Incentivo de conteúdo com alta qualidade
Uma das principais causas da desinformação é que criadores e distribuidores são fortemente incentivados a impulsionar cliques a todo custo, e os cliques, na maioria das vezes, vêm de conteúdos sensacionalistas.
Uma terceira abordagem baseada em blockchain é o incentivo de conteúdo com qualidade através de contratos inteligentes baseados em blockchain, que podem automatizar o pagamento do conteúdo que for verificado, segundo determinados padrões de qualidade pré-definidos.
É claro que tais sistemas serão confiáveis tanto quanto a comunidade de interessados que define seus padrões. Mas se bem projetado, um sistema blockchain pode romper o atual ecossistema de informação e incentivar as pessoas a criar e compartilhar apenas conteúdo que atenda às exigências da comunidade.
Casos de uso e possibilidades
O New York Times, por exemplo, está verificando a procedência do conteúdo através de seu News Provenance Project, que utiliza o blockchain para rastrear metadados como fontes e edições para fotos de notícias, fornecendo aos leitores um contexto e transparência maiores sobre quando e como o conteúdo foi criado.
Da mesma forma, a Truepic, empresa de autenticação de fotos e vídeos, registra o conteúdo nas blockchains Bitcoin e Ethereum para estabelecer uma cadeia de custódia desde a captura até o armazenamento.
Diferentes aplicações terão, naturalmente, diferentes requisitos e tipos de metadados relevantes, mas em geral, a cadeia de bloqueio oferece um mecanismo para verificar de onde vem o conteúdo e como ele pode ter sido manipulado em sua jornada digital até o consumidor final.
Um exemplo da abordagem de incentivo de conteúdo com qualidade foi a startup blockchain Civil, lançada em 2017 para incentivar a precisão no jornalismo, que recompensa financeiramente os usuários com criptomoedas pela publicação de informações precisas, além de cobrar taxas no caso do desatendimento aos padrões da comunidade.
Apesar da Civil não existir mais, ela foi importante para incentivar o surgimento de outras empresas, nesta mesma linha, como a Nwzer e a Pressland, cujo objetivo também é apoiar jornalistas independentes e cidadãos, removendo barreiras à distribuição e utilizando blockchain para verificar a precisão e integridade do conteúdo das notícias.
Possibilidades
Conquanto a tecnologia blockchain tenha muito potencial para trazer mais precisão e transparência, nenhuma tecnologia por si só é capaz de solucionar completamente os desafios relacionados ao estabelecimento de confiança entre as pessoas, nem eliminar as motivações humanas atreladas ao lucro e ao ganho político que impulsionam a desinformação.
Ou seja, também cabe às comunidades de usuários que utilizam plataformas blockchain estabelecer como o conteúdo será adicionado, como será verificado e que incentivos serão postos em prática para construir e manter a confiança nas informações.
Logo, se os usuários não confiarem na maioria dos colaboradores que registram e verificam as informações no blockchain, novamente retornamos à estaca zero.
Claro que tornar as ferramentas baseadas em blockchain tão acessíveis e fáceis de usar quanto possível certamente ajudará no combate às fake news.
Mas ainda que a maioria dos usuários de determinada plataforma seja bem intencionada, como resolver questões como o tempo e a capacidade, necessários para verificar a enorme quantidade de conteúdo produzido todos os dias?
E você, acha que apenas o investimento em soluções tecnológicas é suficiente para solucionar a criação, disseminação e monetização da desinformação?
Não acha que também seria interessante o investimento em políticas complementares e iniciativas educacionais focadas no combate às fake news?
Informação correta é poder! Nos vemos em breve.
O artigo Blockchain no combate às fake news foi visto pela primeira vez em BeInCrypto Brasil.