Tecnologia blockchain pode ser fundamental para indústria musical se livrar de ‘fake streaming’
Ao longo de sua história, a bilionária indústria musical se valeu de expedientes duvidosos para promover determinados artistas e manipular o gosto da audiência, mas a transparência da tecnologia blockchain pode acabar com esta velha tradição.
Ao longo da história, a medida do sucesso no universo da música pop é determinada pelos veículos de mídia dominantes em períodos específicos. Um dia já foi o tamanho do público que um artista conseguia atrair para assisti-lo em apresentações ao vivo, depois passou a ser a quantidade de discos ou cds vendidos, e mais tarde o número de execuções nas mais populares estações de rádio.
Quando se pensou que programas de compartilhamento de arquivos como o Napster poderiam democratizar este mercado altamente concentrado, minando o poder das gravadoras ao permitir que usuários de todas as partes do mundo tivessem acesso praticamente ilimitado a acervos musicais digitalizados, uma nova forma de exploração comercial de fonogramas surgiu e renovou os subterfúgios para determinar o gosto do público. O mais recente triunfo internacional de Anitta – sua chegada ao topo da parada global da plataforma de streaming Spotify – é um perfeito exemplo disso.
Em pleno século 21, a métrica mais importante para medir o sucesso de um artista é o número de “plays” que ele é capaz de induzir. Por isso, segundo reportagem do Olhar Digital, a ascensão do maior fenômeno pop brasileiro no Spotify foi motivado por estratégias artificiais de manipulação do algoritmo da plataforma.
Antes que se jogue a primeira pedra é bom deixar claro que o espetacular “sucesso” global de Anita não se trata de um fenômeno isolado. Em julho de 2021, dezenas de sites que fraudavam plataformas digitais de música oferecendo serviços para inflar artificialmente o número de audições de determinadas faixas foram fechados após uma operação do Ministério Público de São Paulo, informa reportagem do site da 89 FM – a Rádio Rock.
Transparência através da blockchain
Embora diferente em sua natureza, esta nova forma de manipulação das paradas segue beneficiando os artistas de grande porte, mas a tecnologia blockchain subjacente às criptomoedas pode oferecer uma nova forma de controle sobre as métricas da indústria musical, expondo-as de forma pública e transparente e ao mesmo tempo minimizando fraudes e golpes.
Independentemente dos recursos adicionais de monetização e controle de propriedade e direitos autorais proporcionados pelos NFTs aplicados à música, a simples adoção da tecnologia blockchain para registro de execuções públicas de faixas musicais pode oferecer aos artistas informações sobre a forma como sua obra é consumida, além de facilitar o processo de identificação dos direitos autorais e permitir a implementação de recursos automáticos de monetização de conteúdos musicais.
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Atualmente já existem diversas plataformas que promovem a associação entre a música e a tecnologia blockchain que estão propondo novos modelos de negócios para que os artistas encontrem formas alternativas de remuneração por seu trabalho mais justas que as praticadas pelas grandes plataformas de streaming, e possam ter a medida exata do engajamento dos fãs.
Uma das mais proeminentes provedoras de soluções musicais para a Web3 é a Audius, cujo sistema é similar ao de plataformas como o Spotify, mas que opera através da tecnologia blockchain e portanto é totalmente descentralizado.
Outros players, incluem o Emanate, que fornece recompensas instantâneas para cada canção que é tocada e tem parcerias com grandes plataformas da Web 2.0, como o próprio Spotify, o Youtube, o TikTok e o Facebook, entre outros.
O Musicoin tem como princiais atrativos para músicos e fãs a sua transparência e segurança. O AnoteMusic é um projeto que permite aos próprios artistas transacionarem suas criações de forma descentralizada e total proteção aos direitos autorais conexos.
No Brasil, há pelo menos duas iniciativas chanceladas pelo envolvimento direto de profissionais do meio musical. A Phonogram.Me foi criada pela dupla de empresários Lucas Mayer e Janara Lopes e conta com o músico e compositor paulistano – e entusiasta da cultura dos NFTs – André Abujamra como embaixador oficial.
Recentemente, o compositor, roteirista e cineasta Carlos Gayotto inaugurou a Tune Traders, uma plataforma de tokenização de direitos autorais para atender cantores, músicos e compositores brasileiros e seus respectivos fãs.
O sistema pioneiro consiste na distribuição de royalties musicais através de criptoativos sob a forma de tokens não fungíveis (NFTs). O modelo de negócios da Tune Traders prevê a distribuição de receitas de reprodução de fonogramas musicais entre o próprio autor, outros profissionais da cadeia musical, como artistas gráficos, músicos, produtores, e os próprios fãs, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.
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