Correlação histórica do Bitcoin com mercado de ações em momentos de queda invalida narrativa do ‘ouro digital’
Performance do Bitcoin em momentos críticos do cenário macroeconômico sugere que o Bitcoin não é um ativo de proteção e que este papel ainda é mais adequado ao velho metal precioso.
A euforia do mercado de criptomoedas ao longo de 2021, quando o Bitcoin (BTC) mais do que triplicou o valor de sua máxima histórica de 2017, fez com que a narrativa do ouro digital e do consequente papel do Bitcoin como ativo de proteção contra a inflação ganhasse força. No entanto, a ação de preço do Bitcoin em momentos de incereza no cenário macroeconômico global, como agora, provam o contrário.
De acordo com reportagem publicada pela Business Insider, os investidores recorrem ao Bitcoin e às criptomoedas como forma de obter retornos descorrelacionados de ativos tradicionais como ações, títulos do tesouro e o próprio ouro, mas não como ativo de proteção, como mostram duas ocorrências recentes.
O fato de ambas terem ocorrido durante o último ciclo de baixa do Bitcoin reforça a tese de que já estaríamos vivenciando um novo inverno cripto. Olhando em retrospecto, o preço do Bitcoin está 51,5% abaixo de seu recorde histórico, alcançado em 10 de novembro. Muitos analistas acreditam que o fundo pode ainda não ter chegado.
2018
O primeiro evento que mostra a correlação do Bitcoin com ativos tradicionais remete ao final de 2018, quando o mercado acionário registrou uma queda de quase 20% e o BTC perdeu 50% do seu valor, ao passo que o ouro seguiu em direção oposta acumulando ganhos de 8%.
Como agora, o cenário macroeconômico foi responsável pela fuga dos ativos de risco. Na ocasião, o FED sinalizou um aumento na taxa de juros combinado com a desaceleração do crescimento econômico nos EUA.
Desempenho S&P 500 ETF Trust Bitcoin e Ouro – Outubro a dezembro de 2018. Fonte: Koyfin
2020
O segundo foi o crash instantâno dos mercados motivado pelo anúncio da pandemia do COVID-19 e antecipação dos investidores aos possíveis impactos futuros sobre a economia em março de 2020. Na ocaisão, o Bitcoin novamente a queda do Bitcoin se aproximou dos 50%, enquanto as ações caíram 34%.
Mais uma vez, diante da fuga dos investidores de ativos de risco, o ouro mostrou-se refúgio preferencial, mantendo-se estável com uma baixa de apenas 0,2%.
Desempenho S&P 500 ETF Trust Bitcoin e Ouro – Fevereiro a março de 2020. Fonte: Koyfin
2022
Agora, diante de um recuo de quase 7% no S&P 500 desde o início de 2022, o Bitcoin corrigiu 24%, enquanto o ouro permanece estável. Tal comportamento indica que, por enquanto, o Bitcoin não está consolidado como um ativo de proteção, ao contrário do que muitos alardearam nos topos históricos da maior criptomoeda do mercado.
O BTC ainda é um ativo de alto risco, extremamente volátil, que potencializa seus ganhos com retornos superiores a quaisquer outra classe de ativos desde que o cenário marcoeconômico se mostre favorável para ativos de risco.
A principal razão pela qual o ouro não perde seu status de ativo de proteção em meio à turbulência do mercado é que ele tem se provado uma forma efetiva de reserva de valor por séculos ao longo da história da civilização. O Bitcoin pode parecer muito mais apropriado enquanto reserva de valor em uma sociedade cada vez mais globalizada e digital. Volátil e imaterial por natureza, o BTC ainda não oferece aos investidores o mesmo grau de confiança que o ouro em um horizonte de longo prazo.
Ao que tudo indica, tudo depende do momento do ciclo de mercado. E o começo de 2022 definitvamente não é um momento positivo para o mercado de criptomoedas. Além da queda, a repressão aos criptoativos estão recrudescendo em diversas jurisdições.
Mesmo nos EUA, debates sobre a CBDC norte-americana em oposição às stablecoins e o impacto ambiental da mineração de Bitcoin deixam os investidores do varejo inseguros para comprar a baixa. Ao contrário, muitos Bitcoins têm sido vendidos abaixo do preço de compra, sinal do medo crescente que se espalhou pelo mercado.
No momento em que este texto está sendo escrito, o Bitcoin está sendo negociado a US$ 33.596 e, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil, um fechamento diário nesta segunda-feira abaixo dos US$ 34.000 pode intensificar ainda mais as vendas, mostrando que os ursos seguem firmes no comando.
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