Bancos serão substituídos por inteligência artificial e contratos inteligentes, afirma especialista que previu revolução das fintechs
Autor do hoje clássico “Bank 2.0” e do recém lançado “The Rise of Technosocialism: How Inequality, AI and Climate will Usher in a New World”, Brett King visualiza um futuro em que o dinheiro e políticas monetárias será 100% programáveis e dispensarão instituições bancárias.
Instituições bancárias não têm futuro e até 2050 terão sido substituídas por um arranjo tecnológico que combinará inteligência artificial, contratos inteligentes e ativos digitais, afirmou Brett King, futurólogo que foi consultor de Barack Obama e anteviu a revolução das fintechs no hoje clássico “Bank 2.0”, em entrevista ao Estado de São Paulo publicada na sexta-feira, 12.
Em menos de 30 anos, metade das nações do mundo serão coordenadas por máquinas e as maiores economias do mundo serão autônomas. Nesse mundo tecnocrático, será dispensado o componente humano para estabelecer políticas governamentais e monetárias, definir alocações de recursos mais eficientes e criar sistemas de proteção social contra as mudanças climáticas e a crise de desemprego gerada pela automação, afirma King em seu novo livro, “The Rise of Technosocialism: How Inequality, AI and Climate will Usher in a New World” (A Ascensão do Tecnosocialismo: Como a desigualdade, a AI e o Clima vão moldar um novo mundo”). Por enquanto, a obra não tem previsão de lançamento no Brasil.
Os avanços da inteligência artificial em paralelo à crise ambiental vão contribuir para aprofundar ainda mais a desigualdade em nível global e um novo modelo econômico precisará emergir nesse contexto para que os seres humanos possam sobreviver enquanto espécie. King visualiza um mundo pós-escassez, “onde você se dá conta de como o jeito que pensamos sobre a troca de valores, o dinheiro e a economia são ineficientes hoje.”
O conceito de pós-escassez há de surgir a partir da necessidade urgente de mitigar as mudanças climáticas e do investimento necessário para tanto. King projeta que entre 40% e 60% do PIB global terá que ser destinado à uma política para regeneração de ecossistemas em larga escala, algo comparável aos recursos mobilizados em termos bélicos durante a 2ª Guerra Mundial.
Obsolescência dos bancos
Nesse contexto, diz King, a China teria saído na frente. O governo chinês compreendeu que “as economias mais bem sucedidas do século 21 serão economias autônomas”, baseadas em uma infraestrutura composta por inteligência artificial, moedas digitais e automação das cadeias de suprimentos.
Segundo o futurólogo, este novo modelo de organização da economia dispensará instituições bancárias tais quais as conhecemos hoje. Bastará o dinheiro digital, contratos inteligentes capazes de definir as regras desse sistema por código, e em tese imunes a políticas equivocadas ou corrupção, e IA:
“Você não vai precisar de bancos para rodar esse tipo de infraestrutura. Se você pensa sobre como os bancos mudam em um mundo com renda básica universal, sobre conceito de poupança ou contas de investimento que temos hoje, por que você precisaria de uma conta bancária se todas suas necessidades são cuidadas por essa economia autônoma?”
Os próprios bancos centrais, como emissores de moeda, supervisores do sistema e executores da política monetária, “precisarão se tornar corporações baseadas em IA ou empreendimentos tecnológicos”, diz King. Ele seguirá exercendo suas atribuições, “mas vai se tornar código”, afirma o especialista. “É por isso que digo que os reguladores precisam se tornar companhias de tecnologia no médio prazo”, completa.
Hoje, no entanto, os bancos ainda desempenham um papel fundamental na dinâmica econômica de indivíduos e nações. Por isso, países que optam por adotar o open banking, provavelmente estarão em vantagem competitiva em relação àqueles que se opõem à inovação. “Economias que têm resistido ao open banking vão ficar para trás daquelas que já o incorporaram e resolveram isso”, afirma.
Papel das criptomoedas
King não se arrisca a prever exatamente qual será o papel das criptomoedas nas economias autônomas do futuro. Embora tenham sido em grande parte responsáveis por desencadear essa nova revolução no universo das finanças, os criptoativos ainda não se configuraram como uma padrão monetário ou são uma tecnologia plenamente consolidada:
“De modo geral, acredito que estamos no estágio inicial da evolução de ativos digitais e moedas digitais. Sociedades altamente autônomas são movidas por contratos digitais, que exigem dinheiro programável, seja cripto, stablecoins, tokens ou moedas de bancos centrais. Provavelmente é uma combinação dos quatro. Acredito que o futuro das moedas digitais vai por aí.”
No Brasil, o Banco Central está em estágio avançado de testes para o lançamento do real digital. Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, a CBDC (moeda digital de banco central) brasileira pretende unir as criptomoedas e os recursos de finanças descentralizada (DeFi) com o Pix, open banking e tokenização de ativos.
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