‘Avaliar o valor de um NFT é totalmente diferente de julgar uma obra de arte’, diz especialista
Embora tenha surgido como uma forma de certificação de obras de arte digitais, o valor de um NFT está diretamente vinculado à sua utilidade – e não necessariamente à estética, afirma a especialista Caroline Taylor.
O fato de o NFT mais caro vendido até hoje ter sido o de uma obra de arte digital arrematada em um leilão da Christie’s possivelmente contribuiu para a associação de tokens não fungíveis a produções artísticas. O sucesso e o hype em torno de coleções PFP (imagens de perfil) reforçaram a conexão.
Assim, inicialmente, NFTs eram frequentemente considerados uma certificação digital de autoria e propriedade de obras de arte através do registro em redes blockchain.
Hoje, consolidado como um mercado que, sozinho, movimentou mais de US$ 40 bilhões em 2021, superando em cinco vezes o mercado de arte tradicional, os tokens não fungíveis começam a ser entendidos por usuários e especialistas como uma classe de ativos única, com características e valores particulares.
Assim, estabelecer o justo valor de um NFT depende de critérios que ainda estão sendo elaborados pelos usuários e pelo próprio mercado de forma intuitiva e espontânea, mas nada tem a ver com os parâmetros comumente utilizados para avaliar obras de arte, afirma Caroline Taylor, fundadora do Appraiser Bureau, em uma reportagem publicada pelo The Block.
Originalmente uma especialista em obras de arte, que trabalhava avaliando pinturas e esculturas para colecionadores e seguradoras, Taylor fez a transição para o novo mundo dos NFTs no ano passado. Assumindo uma postura de vanguarda frente a esse novo mercado, Taylor está focada em estabelecer padrões objetivos de valoração de tokens não fungíveis.
Embora trate-se de um processo ainda em desenvolvimento, ela garante que os parâmetros utilizados para julgar obras de arte tradicionais têm pouca ou nenhuma utilidade neste novo espaço:
“NFTs são feras totalmente diferentes da arte tradicional. Você tem tantas outras considerações a fazer porque, com NFTs, você tem tangibilidade, você tem utilidade. Estas coisas têm diferentes funções. Não se trata de apenas um item colecionável.”
Enquanto obras de arte tradicionais serão julgadas em função de características como beleza, raridade, procedência e autoria, avaliar o valor de um NFT adiciona uma série de outros fatores em jogo.
Utilidade real ou virtual
Muitos NFTs incorporam utilidades tangíveis, seja em ambientes virtuais ou mesmo na vida real. Como exemplo, Taylor cita NFTs que concedem vantagens a seus proprietários em games ou franqueiam acesso a um clube ou a uma festa. Podem ainda certificar a propriedade de ativos subjacentes, como os direitos autorais de uma obra de arte. Em resumo, os tokens não fungíveis lidam com produtos ou serviços de qualidades absolutamente diversas.
Adicione-se à equação a volatilidade dos ativos que os precificam, pois os NFTs geralmente são negociados pelo token nativo da plataforma em que se baseiam. Em um curto espaço de tempo, a cotação do Ethereum (ETH), rede em que se concentra a maior fatia do mercado de NFTs, pode variar entre US$ 500 e US$ 1.000 ou até mais.
“Cerca de 10 pontos de dados diferentes são rastreados todos os dias”, diz Taylor. De posse desses dados, ela produz um relatório detalhado para a valoração de ativos digitais baseado em um manual de ética e padrões utilizado por avaliadores profissionais do mercado da arte tradicional.
Aparentemente, a normatização da valoração de NFTs contaria o ethos de uma indústria que busca eliminar autoridades centralizadas e intermediários. No entanto, enquanto traders cripto nativos que compram e vendem NFTs a preço de mercado em busca das melhores oportunidades de risco-retorno, certos agentes não tão familiarizados ao meio podem necessitar a opinião de um especialista independente, como é o caso de Taylor.
Por outro lado, a incorporação de práticas e padrões do universo da arte podem ser benéficas ao mercado de criptomoedas, ao mesmo tempo que a cultura de transparência e rastreabilidade da tecnologia blockchain pode ser útil aos colecionadores e agentes do mercado tradicional, afirma a especialista:
“O mundo da arte é muito opaco e muitos negócios são feitos de maneira velada. Em uma venda privada, você não saberá quem é a outra parte na maioria das vezes e isso é algo que os reguladores têm interesse em esclarecer. O grande problema é a lavagem de dinheiro, é claro – apenas fluxos entrando e saindo . E se você não sabe quem é o comprador ou de onde vem o dinheiro, isso é um problema para as autoridades.”
Recentemente, o Cointelegraph Brasil publicou uma reportagem com dicas de especialistas para usuários avaliarem os riscos e potencialidades de NFTs antes de investirem nesta nova classe de ativos digitais.
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