Autoridades tentam evitar uso de criptomoedas por narcotraficantes de México, Colômbia e Brasil para lavar dinheiro

Apreensões de bens ligados ao tráfico de drogas caíram 70% nos últimos 10 anos e criminosos podem estar migrando para as criptomoedas.

O uso de criptomoedas para lavar dinheiro de crimes do narcotráfico já é uma preocupação real das autoridades de três dos principais países que movimentam este mercado ilegal: México, Colômbia e Brasil.

A lavagem de dinheiro é uma das formas usadas pelos criminosos para converter o capital oriundo de práticas criminosas em outros ativos, como imóveis, empresas, contratos, serviços e – mais recentemente – as criptomoedas.

As criptomoedas têm atraído os narcotraficantes pela privacidade e praticidade: é possível transferir grandes quantidades a custo baixo e há muitas opções de anonimato.

A maior criptomoeda, o Bitcoin, já ganhou manchetes e chamou atenção de autoridades por ter atraído interesse de criminosos.

Estima-se que os traficantes do méxico, por exemplo, precisem lavar US$ 25 bilhões por ano.

Tradicionalmente, os traficantes usem métodos mais complicados para fazer o dinheiro “sumir”, como dividir em inúmeros depósitos em contas distantes, além de malas de dinheiro vivo – métodos que dependem de grande logística. Com as criptomoedas, o anonimato da criptografia e a facilidade das transações digitais são vistos como vantagem.

Porém, a blockchain pode ser o calcanhas de aquiles dos donos dos maiores cartéis de drogas do mundo. Apesar do anonimato de ponta a ponta, a blockchain é um registro imutável e auditável, podendo levar as autoridades às movimentações de moedas do crime.

Em abril de 2019, rastros de transações cripto levaram à prisão de dois criminosos. Ignacio Santoyo, ligado a uma rede de prostituição, foi preso pelas autoridades do México depois transações ilegais com Bitcoin.

Pouco depois, o líder de um grupo hacker do país, Hector Ortiz, também chamou a atenção de autoridades ao gastar milhares de dólares em BTC, sendo também preso em seguida.

No Brasil, o monitoramento do uso de criptomoedas pelo crime organizado ganhou um grupo de trabalho dentro do Ministério da Justiça.

Vytautas Zumas, delegado do Núcleo de Operações com Criptoativos e ao Crime Organizado do Ministério, comentou à Veja:

“Isso gera uma falsa sensação de anonimato, mas absolutamente todas as transações são gravadas no banco de dados, acessível a qualquer um que tenha internet”

Para driblar grandes instituições de criptomoedas e autoridades, muitas vezes o crime organizado busca a Deep Web, onde as transações são feitas entre as partes, com transações em P2P.

Manuel Fletes, diretor do Instituto dos Profissionais de Prevenção à Lavagem de Dinheiro no Brasil, falou sobre este tipo de abordagem dos criminosos:

“Em 2019, cerca de 829 milhões de dólares foram transacionados pela dark web, sugerindo que as plataformas de criptomoedas deveriam ser mais zelosas” 

O confisco de bens e dinheiro dos dois cartéis de drogas mais importantes do mundo ocidental, no México e na Colômbia, caiu 70% nos últimos 10 anos. As autoridades acreditam que os fundos estão sendo lavados por outros caminhos, como o mercado cripto.

No Brasil, a Polícia Civil já identificou o uso de criptoativos por milicianos e traficantes que dominam regiões inteiras do Rio de Janeiro.

A Câmara dos Deputados também debate um projeto de lei contra a lavagem de dinheiro que pode abranger criptoativos, e a Associação Brasileira de Criptoeconomia lançou uma iniciativa de autorregulação para combater o uso de criptomoedas para crimes como lavagem de dinheiro, pirâmides financeiras e outras atividades ilegais.

Como noticiou o Cointelegraph Brasil nesta semana, as autoridades no México revelaram que ainda têm apenas 1/4 da equipe necessária para combater lavagem de dinheiro com criptomoedas pelos cartéis de drogas. Uma exchange da cidade de Jalisco, a Volabit, seria uma das principais plataformas usadas para lavar dinheiro dos cartéis do país, sendo responsável por 98% dos alertas das autoridades.

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