Realidade aumentada do novo Google Glass pode ser grande rival do metaverso da Meta, sugere especialista

Renascimento do antigo projeto fracassado do Google propõe a inserção de elementos digitais no mundo real, ao invés da criação de ambientes imersivos 100% virtuais, como o metaverso projetado pela Meta e alguns projetos criptonativos.

Um antigo projeto fracassado do Google pode ganhar nova vida apresentando-se como uma alternativa em realidade aumentada aos ambientes imersivos 100% virtuais dos metaversos, tais como projetados pela Meta e alguns projetos criptonativos, como Decentraland (MANA) e The Sandbox (SAND), sugere o jornalista especializado em tecnologia Paulo Silvestre em um artigo publicado no blog O Macaco Elétrico, do O Estado de São Paulo.

O Google Glass voltou à cena no final do painel de abertura que abriu a conferência Google I/O, em 11 de maio. Sundar Pichai, CEO da gigante do setor de tecnologia, apresentou brevemente um novo protótipo de um dos maiores fracassos da história do Google.

A conferência anual do Google é um evento cujo objetivo principal é apresentar conceitos e ideias de produtos e serviços tecnológicos em fase de desenvolvimento. É uma espécie de teste preliminar, no qual eles são introduzidos no imaginário da plateia para que os desenvolvedores descubram se podem ou não ganhar aderência junto aos usuários.

O reaparecimento do Google Glass pode oferecer uma alternativa baseada em realidade aumentada, na qual elementos virtuais são introduzidos sobre a realidade física, ao metaverso projetado por Mark Zuckerberg – em que tudo é virtual, inclusive os próprios seres humanos, cujas personalidades são transferidas a avatares. 

Segundo Silvestre, ao projetar elementos digitais sobre ambientes reais, a realidade aumentada permite “que se interaja com eles como se realmente existissem”. Ou seja, há uma clara oposição entre os dois conceitos, embora reconheça que ambos deverão coexistir no futuro.

Google Glass

Lançado no já longínquio ano de 2013, pelo menos para os parâmetros da indústria de tecnologia, o Google Glass era um projeto pessoal de Sergey Brin, um dos fundadores do Google. O artefato eletrônico se propunha a oferecer serviços digitais sem necessidade de interação com um dispositivo.

O Google Glass permitia que seus usuários pudessem realizar chamadas telefônicas, tirar fotografias e gravar vídeos, além de oferecer acesso à internet através de uma mini tela projetada diante dos olhos do usuário.

No entanto, o Google Glass foi derrotado de forma retumbante em seu embate particular com o iPhone. O aparelho da Apple praticamente reinventou os telefones celulares, transformando-os em dispositivos de conexão e interação com a internet em que o recurso menos importante é a capacidade de realizar chamadas telefônicas.

Já o Google Glass, naquela ocasião, não encontrou correspondência aos desejos e à necessidade dos seus usuários. Pelo contrário, a presença de usuários do óculos acabava causando desconforto entre os demais, especialmente por questões de invasão de privacidade. 

Um usuário do Google Glass poderia registrar qualquer situação sem o consentimento ou mesmo a ciência dos demais presentes. E ainda era um objeto sem qualquer apelo estético e visual. Ou seja, a peça chamava a atenção única e exclusivamente por fatores indesejáveis.

Assim, sua produção foi descontinuada em 2015. Agora está de volta, ainda como um protótipo – e não um produto pronto para ser comercializado. Ainda assim, o retorno do Google Glass foi introduzido por Pichai como um artefato que procura atender a necessidades reais dos usuários.

Em sua apresentação, o CEO do Google mostrou o potencial do Google Glass para facilitar a comunicação entre as pessoas. Seja para permitir o entendimento entre dois ou mais usuários que se comunicam em idiomas diferentes, ou mesmo oferecendo recursos para pessoas com deficiência auditiva. O novo Google Glass capta o áudio do interlocutor e projeta a tradução em legendas que podem ser visualizadas pelo usuário do óculos.

Moldando o futuro

Muitas vezes, o fracasso de uma tecnologia é tão importante quanto o sucesso para moldar o futuro da sociedade. Embora tenha sido um experimento mal sucedido na época, o Google Glass evidenciou os riscos implicados em uma tecnologia com tamanho potencial disruptivo.

Direta ou indiretamente, o fracasso do projeto acabou contribuindo para estabelecer certos limites e padrões éticos aos quais os desenvolvedores de produtos e soluções tecnológicas precisam se ater se quiserem que seus produtos sejam de fato adotados pelos usuários, sugere Silvestre.

Aos perigos da centralização de grandes plataformas como Google e Facebook, as criptomoedas e a Web3 se apresentam como alternativas de distribuição de recursos e poder aos criadores de conteúdo, por exemplo.

Outros tipos de problema podem emergir daí, como a dependência psicológica de dispositivos digitais – e no futuro possivelmente de ambientes virtuais. O fato é que entre sucessos e fracassos, conceitos como metaverso, realidade virtual e realidade aumentada estão em construção. Muito em breve, se tornarão parte de nossas experiências cotidianas, e não há como lutar contra isso. “O que precisamos é nos apropriar de todos os seus benefícios e controlar seus riscos”, conclui Silvestre. 

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, a população de países em desenvolvimento tende a acreditar mais nos impactos positivos do metaverso sobre a vida real do que pessoas que vivem em nações ricas.

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