Empresas da Argentina adotam pagamento de salários em criptomoedas para proteger trabalhadores da inflação

Segundo a Deel, firma especializada em folhas de pagamento que opera em 150 países, revela que país latino-americano é o que tem a maior parcela de empregados que recebem salários em criptomoedas.

Desde os anos 1980, a Argentina enfrenta um problema crônico de inflação, forçando a sua população a buscar alternativas ao peso argentino para proteger-se contra a desvalorização de seus patrimônios particulares. Não por acaso, trata-se de um dos países latino-americanos em que o Bitcoin (BTC) e as criptomoedas inicialmente ganharam mais tração, especialmente depois que, em 2019, o governo começou a impor limites para a compra de dólares por pessoas físicas.

Desde então, os limites vêm se tornando cada vez mais estritos, o que, por sua vez, favorece ainda mais a adoção de ativos digitais por parte dos cidadãos argentinos. Hoje, segundo a Deel, uma firma global especializada em serviços e soluções de folhas de pagamento que opera em mais de 150 paises, a Argentina é o país que possui a maior parcela de empregados que recebe ao menos parte dos seus salários em criptomoedas, informou reportagem do O Globo publicada na quinta-feira, 24.

Inflação em alta, controle cambial e uma lei que permite às empresas o pagamento de 20% dos salários em dinheiro em espécie são apontados como os principais responsáveis por esta tendência. A quantidade de empresas que optou por remunerar seus funcionários com criptomoedas aumentou 340% nos últimos 12 meses, de acordo com a Buenbit, uma exchange de criptomoedas argentina que conta com 600.000 usuários cadastrados.

Por exemplo, se um funcionário tem uma remuneração mensal de US$ 1.000 por meio do sistema bancário local, ele teria direito a receber cerca de 109.000 pesos argentinos, segundo a taxa de câmbio oficial. Optando por receber em criptomoedas, a conversão do salário na moeda local pode ser feita pela taxa de câmbio paralela não regulamentada por instituições governamentais.

Nesse caso, o mesmo salário poderia chegar a 200.000 pesos — um incremento de aproximadamente 83% sobre o valor baseado na taxa de câmbio oficial. Ou seja, as criptomoedas têm o poder de aumentar o valor nominal do salário dos trabalhadores, conforme destacou Matias Dajcz, vice-presidente global de operações de balcão da Ripio, uma exchange que presta serviços a empresas que pagam seus funcionários com ativos digitais.

Algumas empresas estão até mesmo descumprindo a legislação que impõe o limite de 20% à porção do salário pago em espécie para remunerações em criptomoedas, segundo declarou à reportagem, Andrés Ondarra, gestor da exchange Bitso, que conta com 4 milhões de usuários no país.

Os ativos mais utilizados para o pagamento de salários são o Bitcoin e o Ethereum (ETH), as duas maiores criptomoedas do mercado, e stablecoins, que têm seu valor atrelado ao dólar e se mantêm imunes às flutuações do mercado.

Governo se compromete com o FMI a desencorajar uso de criptomoedas

O banco central argentino não é simpático às criptomoedas e recorrentemente lança alertas destinados aos usuários para lembrá-los de que se trata de ativos não regulamentados pela legislação do país, vulneráveis a ataques cibernéticos e não possuem lastro, ao contrário das moedas fiduciárias, que são garantidas por depósitos bancários.

É possível que as restrições à compra, venda e, em última instância, à adoção de criptomoedas na Argentina tornem-se mais estritas depois que o país se comprometeu a ‘desencorajar’ o uso de criptomoedas em um acordo de reestruturação de dívidas de US$ 45 bilhões negociado com o FMI, já aprovado pelo Senado e pela Câmara.

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