Analista esclarece 10 verdades e mentiras sobre o The Merge da Ethereum

À medida que a transição da Ethereum do mecanismo de consenso baseado em Prova-de-Trabalho (PoW) para Prova de Participação (PoS) se aproxima é importante entender o que realmente está em jogo na atualização de rede mais aguardada da segunda maior criptomoeda do mercado.

Em menos de um mês a Ethereum (ETH) finalmente irá concluir a tão aguardada transição do mecanismo de consenso baseado em Prova-de-Trabalho (PoW) para adicionar novos blocos à rede para um algoritmo baseado em Prova-de-Participação (PoS), energeticamente menos intensivo, e portanto mais sustentável. Além de reduzir em mais de 99% o consumo de energia da rede, no longo prazo o The Merge tem o objetivo de habilitar recursos que favoreçam o aumento da escalabilidade da rede.

Em linhas gerais, a partir da implementação do The Merge, o mecanismo que permite que as entidades da rede estejam permanentemente de acordo com o estado da Ethereum deixará de depender dos mineradores e a produção de blocos ficará a cargo dos validadores, usuários tecnicamente qualificados e que dispõem de um mínimo de 32 ETH (aproximadamente US$ 54.000 na cotação de hoje) para manter em staking.

Desde 2018, o The Merge consta do roadmap da Ethereum, mas houve inúmeros atrasos até que o evento fosse finalmente confirmado para setembro próximo. O grande desafio técnico dos desenvolvedores da Ethereum foi fazer essa transição em um protocolo descentralizado em plena operação, com bilhões de dólares em valor bloqueado e inúmeros DApps (aplicativos descentralizados) em operação.

A solução encontrada pela comunidade foi criar uma rede paralela à original. A Beacon Chain entrou em operação em dezembro de 2020, operando sob o algoritmo de Prova-de-Participação. Assim, os desenvolvedores puderam realizar os testes e fazer as implementações necessárias sem alterar ou colocar em risco a rede principal.

O The Merge é o momento no qual as duas redes até então paralelas vão convergir. Todo o histórico de transações da rede principal vai continuar existindo, e o mecanismo de consenso vai ser atualizado. Para os usuários comuns ou os detentores de ETH, não há nada que precise ser feito. Se tudo correr conforme o planejado, espera-se que a mudança aconteça de forma fluida e imperceptível.

Como se trata da atualização mais significativa e desafiadora da história da Ethereum, muito se tem falado sobre ela. Possíveis hard forks, que gerariam versões alternativas destinadas a manter o mecanismo de consenso atual, baseado em Prova-de-Trabalho, impactos sobre o preço do ETH no curto, médio e longo prazo e possíveis falhas técnicas, entre outros temas, têm gerado ruídos que podem causar preocupação e mal entendidos entre os usuários da rede e os investidores do Ethereum.

Com isso em mente, o analista da Mercurius Crypto Rafael Castaneda publicou um thread no Twitter na quarta-feira, 24, desmistificando os principais fatos e ficções relativos ao The Merge.

1. Valor das taxas de transação vai diminuir e velocidade da rede vai aumentar

FALSO: A transição do modelo de consenso de PoW para PoS não vai alterar os custos das transações nem aumentar o número de transações por segundo (TPS) da Ethereum. Estes avanços em termos de escalabilidade estão reservados para fases posteriores do desenvolvimento da rede, conforme o próprio Vitalik Buterin explicou de forma detalhada recentemente.

2. ETH mantido em staking será liberado para saque

FALSO: O ETH mantido em staking pelos validadores da rede não poderão ser sacados imediatamente após a implementação do The Merge. “Isso só será possível após um outro upgrade, chamado Shangai”, completa Castaneda. Ainda sem previsão de data, acredita-se que ele possa ocorrer entre 6 e 12 meses após o The Merge.

3. A liberação do saque dos ETH em staking vai provocar um despejo do token no mercado

FALSO: Eventuais saques deverão obedecer determinados limites e estarão restritos a um cronograma. Castaneda diz ainda que o efeito pode ser justamente o oposto, uma vez que apenas aproximadamente 10% do suprimento de ETH em circulação atualmente é mantido em staking: “é possível até que haja o inverso de um DUMP [despejo, em tradução livre]”.

4. O staking é limitado a quem possui 32 ETH

FALSO: 32 ETH são necessários apenas “para quem quer ser um nó da rede capaz de propor blocos e recolher recompensas na fonte”, explica Castaneda. Para investidores do varejo existe a possibilidade de fazer staking através de protocolos como a Lido Finance (LDO) e o ANKR, ou mesmo através de exchanges de criptomoedas.

A exchange Coinbase, por exemplo, acaba de anunciar o lançamento de uma versão sintética do ETH mantido em staking, que rende juros ao portador, de forma similar ao stETH da Lido.

5. O The Merge dará origem a um novo token para a Ethereum: o ETH2

FALSO: Segundo Castaneda, essa confusão se deu porque a Ethereum Foundation se referia à Beacon Chain como Ethereum 2.0, ou ETH2, “mas o fato é que nomenclatura nunca se referiu a um novo token, servindo apenas para diferenciar as redes.”

6. Emissão de novos ETH vai diminuir após o The Merge

VERDADE: A emissão de novos ETH será reduzida em aproximadamente 90% com o fim dos incentivos aos mineradores. A queda na emissão, inclusive, foi apelidada de “triplo halving” pela comunidade da Ethereum, em uma referência ao halving do Bitcoin (BTC).

halving é um evento periódico programado no código fonte do Bitcoin para reduzir a emissão de novas moedas pela metade a cada quatro anos, mais ou menos. Em termos práticos, a redução das recompensas por bloco minerado, reduz a taxa de inflação do Bitcoin até que o suprimento total de 21 milhões tenha sido integralmente emitido. A previsão é de que isso ocorra por volta do ano 2140.

7. O “triplo halving” vai triplicar os rendimentos de staking

FALSO: o analista da Mercurius Crypto explica que o “triplo halving” “não tem relação com os ganhos dos stakers, “mas a expectativa é de que os ganhos de staking possam aumentar em até 50%” após o The Merge.

8. O The Merge vai tornar os rollups inúteis

FALSO: Os rollups são considerados fundamentais para solucionar a escalabilidade da Ethereum, uma vez que o The Merge não resolve os problemas do alto custo das taxas de transação e a quantidade de transações por segundo. Atualizações futuras da rede foram pensadas para contribuir com o desenvolvimento e a usabilidade destas soluções.

9. Hard forks da rede podem ocorrer

VERDADE: É possível e até provável que aconteça, mas, segundo Castaneda, um fork da Ethereum que mantenha a Prova-de-Trabalho como mecanismo de consenso da rede tem poucas perspectivas de prosperar no longo prazo.

10. O The Merge pode dar errado

VERDADE: Como qualquer atualização de protocolo, é possível que o The Merge dê errado em níveis imprevistos. A forma como a atualização tem sido tratada pelos desenvolvedores da Ethereum sugere que a probabilidade de acontecer um problema grave e comprometedor é pequena.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, a Fundação Ethereum está oferecendo recompensas de até US$ 1 milhão para desenvolvedores que forem capazes de identificar vulnerabilidades no The Merge.

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