A empresa secreta criada com dinheiro da Atlas Quantum que segue em operação

A relação entre a empresa 4Cadia de desenvolvimento em Blockchain e a Atlas Quantum nunca foi muito bem explicada, mas tudo indica que ela seja parte do grupo comandado por Rodrigo Marques, o criador da startup de supostas arbitragens de criptomoedas.

Quem comanda a 4Cadia é Matheus Pagani, que fez parte do início da criação da Atlas em 2016, junto com Marques e Fabrício Sanfelice.

O Portal do Bitcoin conversou com três ex-funcionários da 4Cadia, os quais pediram para manter em sigilo suas identidades. Um deles mencionou que a empresa de desenvolvimento de software especializada em Blockchain surgiu “do projeto especial da Atlas”.

Ele afirmou que era uma empresa que atuava no desenvolvimento do sistema para a Atlas e o trabalho das pessoas na 4Cadia estaria mais para consultoria do que de parceria. Mas dinheiro vinha da mesma fonte:

“Quem pagava nosso salário era a Atlas”, revelou.

Consultora da Atlas Quantum

O funcionário trabalhava para a Atlas inicialmente e foi alocado para a 4Cadia depois que a plataforma de criptomoedas abriu um núcleo de projetos especiais. As duas empresas funcionavam no mesmo prédio. Este era o projeto para o qual nomes conhecidos do mercado de criptomoedas como Solange Gueiros, Jeff Prestes e Safiri Felix foram contratados. Todos eles já saíram da startup.

O caso de muitos funcionários que foram demitidos pela Atlas passarem a trabalhar na 4Cadia, segundo o ex-empregado pessoa, era algo que foi estabelecido para ocorrer em dezembro do ano passado. A 4Cadia, porém, não conseguiu abarcar todos os ex-funcionários após a demissão em massa na Atlas.

4Cadia mantida pela Atlas Quantum

Outro ex-funcionário da empresa foi além e disse que os sócios da 4Cadia, Matheus Darós Pagani e Danilo de Falco seriam laranjas de Rodrigo Marques, os quais “não tomavam nenhuma decisão sem a aprovação do Rodrigo”.

Ele revelou que a ex-mulher do Ceo da Atlas Quantum chegou a ficar por um tempo operando o marketing de dentro da 4Cadia. A crise, porém, afetou até mesmo a empresa secreta.

“Depois que a Atlas saiu do mercado, os laranjas colocaram todos os 21 profissionais em home office mas isso não durou muito tempo. Depois de dois meses voltamos para uma sala, dessa vez fora da Atlas, para tentar encontrar investidores”. 

Segundo esse ex-funcionário havia algo de suspeito na 4Cadia. A empresa nunca teve um objetivo muito bem definido e gastava muito dinheiro com projetos que jamais foram lançados.

“Eles investiam entre R$ 200 mil e R$ 400 mil em folha de pagamento, sem contar impostos, e somente um ‘squad’ de 5 pessoas escrevia software para Atlas, o resto estudava e criava software livre que nunca foi lançado. A empresa enviava profissionais para eventos fora do país, custeando não só passagem mas também gastos diversos”.

Dentre as viagens internacionais mais, o ex-funcionário relembrou que boa parte da equipe chegou a visitar Nova Iorque (Estados Unidos da América), Osaka (Japão) e Berlim (Alemanha) com tudo bancado pela 4Cadia.

Mesmo nos piores momentos de crise da Atlas, os sócios da 4Cadia “sempre faziam questão de falar que estava tudo ótimo e que o Rodrigo cuidaria da 4Cadia pois era o projeto de vida dele”.

Equipe da 4Cadia em um tour pelo mundo

Semelhanças curiosas

Por coincidência ou não, a sala hoje onde funciona a 4Cadia é a mesma que pertencia à Rodrigo Marques. Apesar de o site da empresa de desenvolvimento em Blockchain não informar o CNPJ, a reportagem conseguiu encontrar o registro. Conforme consta na informação junto à Receita Federal, a sede da 4Cadia (razão social Block Factory Tecnologia Ltda) está localizada no Cyragan Offices, onde antes funcionava a Atlas.

Não consta na Receita Federal o nome 4Cadia como fantasia da Block Factory. Porém, um ex-funcionário confirmou a informação de que se tratava de mesma empresa e que o prédio antes era antes escritório da Atlas. A Cyragan Offices fica ao lado do apartamento de Rodrigo Marques, disse o ex-funcionário.

A Block Factory, contudo, tem como sócios apenas Matheus Darós Pagani e Danilo de Falco, sendo que Pagani é o sócio responsável pela administração do negócio, conforme está no quadro de sócios e administradores da empresa.

Palavras do fundador da 4Cadia

Pagani, que comanda 4Cadia, afirmou ao Portal do Bitcoin que a empresa “nunca teve relação nenhuma com o Quantum”. Segundo ele, o projeto da Fundação surgiu ainda em 2016 antes mesmo de se ter “ideia de arbitragem de BTC ou custódia”.

Pagani explicou que apenas alguns meses depois é que Rodrigo Marques criaria o projeto Quantum. Ele começou a trabalhar na Atlas em fevereiro de 2016 como desenvolvedor, conforme consta no seu Linkedin, onde ajudou a criar o suposto robô de arbitragem.

Pagani, então, se tornou o chefe de tecnologia da Atlas e executivo de projetos especiais entre 2017 e fevereiro de 2019, quando mudou para a 4Cadia.

Ele mencionou, portanto, que após a sua saída da Atlas, “não trabalhei mais no Quantum e me dediquei completamente ao projeto”.

De acordo com o Pagani, a relação de sua empresa com a com a Atlas era tão somente de apoio ao projeto de desenvolvimento de software.

“A Atlas apoiava o projeto, mantendo a estrutura e arcando com os custos, com a finalidade de receber os tokens 4GT. Infelizmente os eventos do ano passado invalidaram as contribuições da Atlas para o projeto. O volume de tokens 4GT hoje é zero”.

Criando soluções Open Source

Pagani explicou que a empresa se dedica à construção de “Open Source para construção da Web 3.0, como Infraestrutura, identidade e marketplaces descentralizados, para isso recebemos apoio de empresas e pessoas que queiram estimular o desenvolvimento dessas tecnologias de forma aberta (similar à Linux Foundation por exemplo)”.

A 4Cadia, segundo o velho amigo de Rodrigo Marques, atua sobre demandas de clientes para execução de projetos. A empresa presta consultoria e suporte para implementação de sistemas utilizando blockchain.

Sobre os tokens 4GT disse que a ideia seria tão somente de convidar apoiadores para participar da governança do projeto e que aqueles que adquirissem os tokens ganhariam nada além de governanca.

“Temos um modelo descentralizado de governança para a fundação. Nesse modelo, portadores do token 4GT podem participar de votações na fundação através de Smart Contracts que estamos desenvolvendo para isso”.


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