Sam Bankman-Fried explica funcionamento de yield farming e aponta supostas semelhanças com pirâmides financeiras

Declaração polêmica foi dada durante um podcast em que o CEO da FTX afirma que o valor intrínseco de muitas criptomoedas é zero, mas em última instância tudo depende de quanto as pessoas estiverem dispostas a pagar por elas.

Retornos sobre o investimento de dois ou até três dígitos são um dos principais atrativos dos protocolos de finanças descentralizadas (DeFi). Entender a lógica econômica por trás desse tipo de operação, que basicamente consiste em tomar ou fazer empréstimos através de contratos inteligentes e ser recompensado por isso com rendimentos variáveis ou pré-fixados em criptomoedas, pode ser muito difícil para alguém acostumado a instrumentos financeiros tradicionais.

Até mesmo investidores de criptomoedas sem conhecimentos específicos sobre protocolos DeFi têm dificuldades para entender como funcionam as operações de yield farming e por que elas podem ser muito lucrativas.

O bilionário fundador e CEO da exchange FTX, Sam Bankman-Fried, ofereceu uma explicação bastante didática sobre yield farming em uma entrevista ao podcast “Odd Lots”, da Bloomberg, lançado na segunda-feira, 25.

“Uma caixa que vai mudar sua vida”

Bankman-Fried baseou sua explicação a partir de uma caixa. Trata-se de uma caixa qualquer, que em si mesma não possui nenhum valor intrínseco. Mas os criadores desta caixa a apresentam como um instrumento transformador, “capaz de substituir todos os maiores bancos do mundo em 38 dias ou algo assim.”

O CEO da FTX nomeou sua caixa como “Protocolo X” e definiu que em determinado momento ela lançaria seu próprio token de governança. Este token permite que seus detentores votem em decisões importantes, como por exemplo de que forma utilizar as receitas que o protocolo gera.

Bankman-Fried assume que, a princípio, não há sequer uma razão convincente para acreditar que essa caixa possa gerar qualquer receita. Mas o simples fato de ela existir torna possível que ela atraia recursos. “É por aí que você começa”, disse.

A seguir, por uma decisão dos desenvolvedores do protocolo ou do resultado favorável da votação de uma proposta de governança, determina-se que metade do suprimento total de tokens emitidos será distribuído aos usuários daquela caixa:

“Então, qualquer um que pegue algum dinheiro e deposite na caixa se torna elegível para receber todos os dias receberá, você sabe, um valor proporcional aos recursos depositados de 1% do suprimento do token X. Isso é, por enquanto, o que o token X faz. Ele é distribuído para os usuários da caixa. E agora o que acontece? Bem, o token X tem algum valor de mercado, certo? Provavelmente não é zero. Digamos que seja, você sabe, US$ 20 milhões…”

Na sequência, o colunista de opinião da Bloomberg, Matt Levine, que havia pedido para que o executivo lhe oferecesse um “entendimento intuitivo” sobre a lógica do yield farming, o interrompeu para ponderar que, por princípios, o valor da caixa ainda deveria ser zero. Bankman-Fried concorda e então o entrevistador toma a liberdade de comparar este primitivo DeFi a um “esquema de pirâmide financeira”.

O CEO da FTX diz que de certa forma a comparação era “bastante razoável”, embora fosse apenas uma das possíveis abordagens sobre a questão e em seguida seguiu apresentado sua tese sobre o mecanismo:

“Você pode descrever dessa forma. Por exemplo, em cinco minutos e com uma conexão à Internet, você poderia criar uma caixa e um token. Deveria valer US$ 180 ou algo assim em termos de valor de mercado, você sabe, em função do esforço que você colocou nisso. No mundo em que vivemos, se você fizer isso, todo mundo vai ficar tipo: ‘Ooh, o token de caixa. Talvez seja legal. Se você comprar um token da caixa’. O token aparecerá no Twitter e depois disso terá um valor de mercado de US$ 20 milhões. E, claro, uma coisa que você pode fazer é deixar o float bem baixo e sei lá, talvez ainda não tenham ido para US$ 20 milhões… Reconheço que não está totalmente claro que essa coisa deveria ter valor de mercado, mas, empiricamente, afirmo que teria valor de mercado.”

Mesmo que o valor de mercado seja determinado unicamente pela quantidade de dinheiro que os investidores estão dispostos a pagar por determinado token, à medida que mais fundos são depositados na caixa, maior se torna a capitalização e o valor de mercado da “caixa”. E isso atrai mais capital, uma vez que as recompensas oferecidas aos detentores do token se tornam mais atrativas, como explica Bankman-Fried:

“Se a quantidade total de dinheiro na “caixa” fosse US$ 100 milhões, então os rendimentos anuais do token X seriam da ordem de US$ 16 milhões. Isso é um retorno de 16%. Isso é muito bom. Vamos colocar um pouco mais, certo? E talvez isso aconteça até que haja US$ 200 milhões na “caixa”. Então, você sabe, comerciantes sofisticados e pessoas no Crypto Twitter, ou outros tipos de comunidades semelhantes, colocam US$ 200 milhões na “caixa” coletivamente e começam a receber esses tokens X por isso.”

Bankman-Fried se refere a esse processo como o “impacto mágico” do yield farming. E continua:

E então, você sabe, o preço do token X sobe. E agora é um token de valor de mercado de US$ 130 milhões por causa da alta do uso da “caixa” pelas pessoas. E agora, de repente, é claro, o dinheiro inteligente é como, oh, uau, essa coisa agora está rendendo 60% ao ano em tokens X. Claro que vou levar meu rendimento de 60%, certo? Então eles vão e despejam mais US$ 300 milhões na “caixa” e então vai para o infinito. E então todo mundo ganha dinheiro.”

Depois da “alta infinita”, o próprio Bankman-Fried questiona o que poderia acontecer a seguir. E então, ele volta ao começo da história, lembrando que a “caixa obviamente vale zero”. No entanto, se os agentes do mercado acreditam que a caixa agora vale US$ 1 bilhão, assim ela é precificada e esse é o valor que ela assume para os investidores.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, um analista popular no Twitter analisou a lógica econômica do ApeCoin (APE) para questionar a real utilidade e valor dos APEs que estão sendo distribuídos para os detentores do token através de staking.

Cobie conclui sua análise sugerindo que, ao fim e ao cabo, essa distribuição de “dinheiro grátis” pode gerar um excesso de oferta no mercado estimulando uma pressão vendedor que poderá acabar tendo impacto negativo sobre o preço do APE no longo prazo.

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