Staking do ApeCoin só serve para evitar que detentores vendam o token e derrubem seu preço, diz analista
Personalidade popular no Cripto Twitter, Cobie publicou um texto afirmando que a única função do mecanismo de staking do APE é fazer com que seus detentores não o despejem no mercado em troca de algumas unidades adicionais do token.
Originalmente, o mecanismo de staking de criptomoedas foi criado com o objetivo de recompensar usuários dispostos a oferecer suas moedas como garantia para assegurar a validação de transações e a segurança de redes cujo mecanismo de consenso baseiam-se na Prova-de-participação (Proof-of-stake).
Ou seja, o instrumento tinha uma função técnica e objetiva: contribuir para manter as redes que utilizam a Prova-de-Participação operando em sua plenitude. Ao longo do tempo, com a popularização do mecanismo de consenso, o staking passou a cumprir uma outra função. Tornou-se também um mecanismo para incentivar que os detentores de um determinado ativo bloqueiem seus tokens em troca de tokenss adicionais, desvirtuando-se de seu propósito original.
Segundo um texto publicado por Cobie, uma personalidade pseudônima bastante popular no Crypto Twitter, este “novo modelo” de staking tem como objetivo primordial evitar que os proprietários de um determinado ativo despejem seus tokens no mercado, gerando pressão negativa sobre o seu valor de mercado. Em contrapartida, eles recebem frações ou unidades adicionais da moeda.
No entanto, Cobie foi além, e afirmou que o mecanismo de staking conforme desenhado pelos desenvolvedores do ApeCoin (APE) tem como única função reduzir artificialmente a pressão de venda sobre o token, mantendo o preço alto e impedindo que ele seja despejado no mercado, até que o suprimento de APEs distribuídos à equipe do projeto e do conselho de consultores sejam desbloqueados.
O ApeCoin foi lançado no mês passado com o propósito um tanto vago de transformá-la no “token preferencial da Web3, incentivando os primeiros adeptos da coleção de NFTs, os atuais e potenciais futuros participantes do ecossistema a tomar parte de atividades que beneficiem o ecossistema APE”, conforme foi dito no comunicado oficial da Yuga Labs, a empresa por trás do BAYC e do APE.
Como destaca Cobie em seu texto, a moeda oficial do ecossistema Bored Ape Yacht Club foi distribuída aos detentores de NFTs da mais popular coleção de tokens não fungíveis do mercado via airdrop no mês passado.
Esse tipo de evento tornou-se muito popular e aguardado pela comunidade de criptomoedas desde que o protocolo de empréstimos Compound inaugurou o modelo em meados de 2020. Mas os airdrops também ficaram conhecidos como eventos de distribuição de “dinheiro grátis”, uma vez que para aqueles que recebem os tokens em primeira mão é disso mesmo que se trata.
O resultado é que muitas vezes os beneficiados pela distribuição inicial dos tokens não têm qualquer incentivo para mantê-los e os despejam no mercado para embolsar o lucro fácil.
Distribuição do ApeCoin
Cobie apresenta em seu texto a destinação inicial do suprimento total de 1 bilhão de APEs, conforme divulgado pela Yuga Labs, destacando que, à parte os 15% distribuídos à comunidade através do airdrop, outros 15% foram destinados à própria Yuga Labs, 14% àqueles que contribuíram com o lançamento, embora nunca tenha sido esclarecido pela empresa exatamente quem faz parte deste contingente – Cobie supõe que possam ser “investidores” – e 8% para os fundadores do projeto. A DAO (organização autônoma descentralizada) que foi criada em paralelo ao lançamento do token mantém sob sua administração 47% do suprimento total.
Detalhe: os tokens destinados à Yuga Labs, aos colaboradores e aos fundadores têm um período de carência de um ano antes que possam ser livremente negociados no mercado. Este bloqueio também é uma forma de evitar pressão vendedora sobre o token imediatamente após o seu lançamento.
No entanto, Cobie afirma que há algumas exceções, as quais também não foram explicitadas abertamente pelos desenvolvedores, permitindo a utilização imediata dos tokens recebidos, ou um período de bloqueio de apenas seis meses em outros casos.
Proposta de staking do APE
A proposta de staking do ApeCoin foi apresentada pela Animoca Brands, um estúdio de games cujo fundador faz parte do conselho diretor do APE. Segundo Cobie, a proposta prevê a distribuição de 17,5% do suprimento total do ApeCoin para os detentores que mantiverem seus tokens em staking ao longo dos próximos três anos. Detentores de NFTs do BAYC ou do Mutant Ape Yacht Club têm direito a rendimentos adicionais.
Cobie então questiona a asserção de que distribuir mais APEs para aqueles que já possuem APEs pode contribuir para o desenvolvimento do ecossistema, transformando o APE na moeda preferencial da Web3.
Segundo ele, trata-se apenas de uma forma de recompensar os detentores do ApeCoin por não vendê-los, aliviando uma eventual pressão vendedora capaz de desvalorizá-lo:
“Na verdade, sendo realmente honestos sobre esta proposta, o que ela realmente significa é “vamos pagar os atuais detentores por não vender o token enquanto o desbloqueio [dos tokens] dos fundadores/investidores/colaboradores não acontecer, e também para que possamos fingir [que o APE tem] alguma utilidade antes que alguma seja realmente construída.”
Ainda segundo Cobie, a proposta de staking delineada pela Animoca Brands prevê a distribuição de US$ 2,6 bilhões em APEs ao longo dos próximos três anos simplesmente para que os detentores mantenham seus tokens bloqueados. Não há qualquer justificativa técnica ou utilitária para tal.
Investir este capital no desenvolvimento do ecossistema poderia agregar mais ao token no longo prazo. Inclusive através da criação de iniciativas e projetos capazes de consolidar o APE como a “moeda preferencial da Web3”, conforme delineado na carta de intenções original do token.
Simplesmente distribuí-lo tal como está sendo feito, pode acabar gerando prejuízos aos detentores que supostamente estão sendo beneficiados. Cobie considera a relação de oferta e demanda pelo token para chegar a esta conclusão:
“Atualmente, há cerca de 15% da oferta líquida [do APE] no mercado. Esse cronograma de inflação/emissões aumentará a quantidade de oferta no mercado em aproximadamente 75% apenas no primeiro ano. E não acredito que isso poderá aumentar a demanda por ApeCoin em 75%. Assim, analisado isoladamente, o programa de staking pode parecer prejudicial aos interesses financeiros dos detentores de moedas bloqueadas.”
E então, ele conclui, o problema real a ser enfrentado no futuro será “acrescentar uma oferta adicional de tokens no mercado para que os desbloqueios dos fundadores e colaboradores não se tornem a maior parte da oferta líquida do token”, uma vez que a maior parte estará bloqueada em staking.
Apesar das reservas apresentadas no texto acercad do mecanismo de staking do ApeCoin, o ativo vem acumulando ganhos constantes recentemente, apesar da voltatilidade do mercado.
Nos últimos 30 dias, o APE valorizou 23% e atualmente está cotado a US$ 15,09, com uma capitalização de mercado de US$ 4,2 bilhões, de acordo com dados do CoinGecko.
Conforme relatou o Cointelegraph Brasil, a recente alta foi em parte motivada por boatos de que a Yuga Labs poderá abrir em breve as vendas de terrenos virtuais no metaverso “Otherside”, que será partante integrante do ecossistema mais amplo composto pelas coleções BAYC e MAYC e pelo próprio Apecoin.
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