4 coisas que serão diferentes no próximo ciclo de alta das criptomoedas

A indústria de criptomoedas costuma mudar substancialmente entre os ciclos de alta e de baixa; atualmente, as transformações estão sendo bastante moldadas por fatores externos ao espaço.

Os personagens que moldam a indústria de criptomoedas costumam dizer que os ciclos de baixa do mercado são tempos propícios para desenvolver projetos e construir e aperfeiçoar soluções que possam atrair novos usuários ao espaço de forma orgânica e sustentada. Por isso, é natural que entre um ciclo e outro ocorram grandes transformações que, ao fim e ao cabo, redesenham a indústria.

A principal diferença, agora, é que fatores externos ao espaço estão tendo um peso muito maior que em outras ocasiões, afirmou Sam White em um artigo publicado no site Finance Magnates na sexta-feira, 26. Tanto o cenário macroeconômico global quanto a regulação do mercado de criptomoedas em níveis regionais terão um peso decisivo sobre um eventual futuro ciclo de alta, o qual, nesse momento, poucos se arriscam a dizer quando virá.

As criptomoedas furaram a bolha, para o bem e para o mal. Os desdobramentos do mercado de ações dos EUA, dos conflitos entre as principais potências globais e as decisões do Banco Central dos EUA (Fed) são tão aguardados quanto o próximo halving do Bitcoin (BTC). O evento que corta pela metade a emissão de novos Bitcoins e acontece mais ou menos de quatro em quatro anos até então era a principal referência para analistas e traders tentarem antecipar os movimentos do mercado.

Desde o começo de 2022 – e provavelmente daqui por diante – o cenário tornou-se bem mais complexo. Pode parecer uma contradição, uma vez que o Bitcoin foi justamente concebido como uma alternativa ao sistema financeiro tradicional e uma moeda apolítica. Por outro lado, também significa que o mercado de criptomoedas não pode mais ser ignorado.

Tudo será bastante novo e diferente quando o próximo halving chegar, mais ou menos por volta de maio de 2024. Abaixo, o Cointelegraph Brasil apresenta as quatro principais mudanças projetadas por White em seu artigo.

Países e instituições

O mais recente ciclo de alta testemunhou a adoção do Bitcoin como moeda de curso legal pelo governo de dois países. El Salvador e a República Centro Africana são nações periféricas e economicamente subdesenvolvidas. Antes de adotarem o Bitcoin, suas economias estavam indexadas a moedas estrangeiras. No caso do país da América Central, ao dólar; da nação africana, ao franco CFA, uma moeda atrelada ao franco francês que é utilizada por outros cinco estados independentes da região.

Em relação à adoção institucional, o atual ciclo de baixa testemunhou a entrada da Black Rock no espaço, através de uma parceria com a exchange Coinbase. Trata-se nada mais nada menos que a maior gestora de ativos financeiros do mundo, com aproximadamente US$ 9 trilhões sob custódia.

Os dois casos tornam evidente que o Bitcoin está finalmente conseguindo atingir os dois extremos do sistema financeiro. Diferentemente do que aconteceu nos ciclos de baixa anteriores, em 2015 e 2018, poucos se arriscariam a dizer que o Bitcoin – e por que não a indústria de criptomoedas como um todo – deixará de existir.

Entusiastas afirmam que este é mais um passo para a maior criptomoeda do mercado atingir o status de ativo de proteção contra a inflação, honrando a alcunha de “ouro digital”.

Política e regulação

O Bitcoin e as criptomoedas já há algum tempo estão no radar dos políticos e reguladores. No entanto, ao atingir US$ 3 trilhões em capitalização total de mercado durante o ciclo de alta do ano passado e expandir fortemente sua base de usuários, os reguladores passaram a acompanhar o espaço com maior atenção. 

Os primeiros esboços de um marco regulatório unificado surgiram nos EUA e o próprio Brasil viu as discussões avançarem celeremente. Este ano, a crise de liquidez e insolvência que tomou conta do mercado a partir do colapso do ecossistema Terra Classic (LUNC), causando prejuízos a investidores do varejo e provocando a falência de diversas empresas do setor, o cerco dos reguladores se ampliou.

Uma das questões que inevitavelmente virá à tona diz respeito a designação de quais criptomoedas podem ser consideradas valores mobiliários e devem responder às leis como tal. Além de definitivamente traçar uma linha separando o Bitcoin de todos os demais ativos hoje existentes no mercado por ser a única rede verdadeiramente descentralizada. Ou, pelo menos, a mais descentralizada entre todas.

No front da política, o desenvolvimento e a implementação de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) em diversos países tende a acirrar potenciais confrontos ideológicos entre libertários e defensores do poder estatal.

Mais uma vez o Bitcoin se posiciona como a antítese de moedas digitais centralizadas e controladas por entidades governamentais. Nesse embate, é pouco provável que a classe política tome partido a favor de uma moeda transnacional e, em tese, incensurável.

Se haverá uma convivência harmoniosa ou ao menos não beligerante é algo a se ver, e que provavelmente terá um peso decisivo sobre os ideais políticos e filosóficos de descentralização das criptomoedas.

Ainda nesse âmbito, as CBDCs representariam o fim da privacidade das transações financeiras – um recurso que a criptografia oferece para proteger os indivíduos da vigilância total e irrestrita do estado. A recente sanção do Departamento do Tesouro dos EUA ao Tornado Cash (TORN) oferece uma pista dos possíveis desdobramentos futuros do controle governamental sobre a liberdade financeira dos cidadãos.

Diferentes naturezas dos criptoativos e da tecnologia blockchain

A partir do momento que a regulamentação delimitar quais tokens são ou não valores mobiliários, as criptomoedas deixarão de ser uma classe de ativos única. Tomemos as duas maiores criptomoedas do mercado a título de comparação.

O Bitcoin já foi considerado uma commodity digital – e não um valor mobiliário – pelo próprio presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), Gary Gensler. Embora o Ethereum também tenha obtido o mesmo status, em uma análise anterior do mesmo órgão, o status da segunda maior criptomoeda do mercado pode mudar a partir do The Merge.

A atualização programada para acontecer dentro de poucos dias fará a transição da rede da Ethereum (ETH) de um mecanismo de consenso baseado em Prova-de-Trabalho (PoW) para um algoritmo de Prova-de-Participação (PoS). Alguns defendem que, a partir desta mudança seminal, o Ether pode vir a ser caracterizado como um valor mobiliário, visto que ele passará a distribuir recompensas aos validadores que garantem o funcionamento e a segurança da rede.

Outra diferença é que o Bitcoin tem um uso estritamente monetário e postula o status de reserva de valor por excelência em um mundo cada vez mais digital. Já a Ethereum opera como camada base de uma nova era da Internet, agora descentralizada, comumente caracterizada como Web3. Trata-se de uma rede que não tem um propósito delimitado.

Hoje, existem mais de 20.000 criptoativos diferentes, de acordo com dados do CoinMarketCap. Embora a grande maioria deles sejam inúteis, quando não pura e simplesmente golpes para capturar o dinheiro de investidores desavisados, à medida que a indústria evolui, a tendência é que novos casos de uso venham a surgir, como já aconteceu anteriormente com os setores de blockchain games, NFTs, e finanças descentralizadas (DeFi).

NFT, games e o metaverso

Depois de terem se tornado o maior fenômeno do ciclo de alta do mercado de criptomoedas no ano passado, os NFTs entraram em declínio à medida que o atual ciclo de baixa se espalhou por todos os setores da indústria durante o decorrer de 2022.

Embora o hype em torno de coleções como Bored Ape Yacht Club (BAYC) e os preços estratosféricos que imagens de fotos de perfil (PFP), muitas vezes de gosto duvidoso, alcançaram não sejam propriamente um fato positivo, os NFTs foram capazes de romper a bolha do espaço cripto de uma forma que as finanças descentralizadas e os próprios blockchain games falharam em conseguir.

A despeito da popularidade, a maioria das pessoas ainda não sabe ou entende o que são os NFTs ou para que servem. O poder disruptivo da tecnologia consiste na forma como ele ressignifica a propriedade digital – e, portanto, seus casos de uso mais interessantes ainda estão por ser desenvolvidos.

Além disso, os NFTs são uma tecnologia central no desenvolvimento da indústria de games, talvez para além dos jogos em blockchain, e dos metaversos descentralizados. Logo, trata-se de uma tecnologia que pode mudar completamente a forma como utilizamos a internet e interagimos em ambientes digitais.

Como afirmou a futurista Amy Webb durante participação na última edição do Expert XP, os NFTs têm o poder de revolucionar a forma como lidamos com a nossa própria identidade. Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil na ocasião, no futuro, NFTs pessoais e intransferíveis poderão conter o DNA de seus portadores.

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